Marc Blanc (OFI AM): “Estimamos que o mercado atualmente considera no preço que cerca de 7% das empresas irá sofrer um default em um ano”

Marc Blanc OFI AM high yield euro
Marc Blanc. Créditos: Vítor Duarte

O responsável adjunto de high yield da OFI AM, Marc Blanc, em entrevista à FundsPeople, explica qual a abordagem que usam no investimento high yield euro. 

O que consideram mais único na vossa abordagem ao investimento high yield euro?

O mercado de high yield tem estado atrasado em termos de inclusão dos critérios ESG nos processos de investimento, e acreditamos que o OFI RS Euro High Yield é agora um dos pioneiros a esse nível. O processo de investimento evoluiu em outubro de 2021 para incorporar duas abordagens SRI. A primeira é uma abordagem best-in-class baseada na nossa metodologia ESG, produzida in house: decidimos excluir os nomes menos virtuosos numa base ESG, representando pelo menos 20% em cada setor. Ao implementarmos esse limite de 20%, fomos premiados com a etiqueta ISR do governo francês em janeiro. A segunda abordagem está relacionada com as alterações climáticas: entre os oito setores mais intensivos em termos de emissões de carbono, excluímos as empresas menos comprometidas em reduzir o seu impacto e a transição em direção a um planeta mais sustentável. Essas empresas representavam 10% do nosso universo de investimento no último mês. Introduzir este objetivo de investimento sustentável permite-nos classificar o fundo como Artigo 9º sob a regulação SFDR. 

Quais são os argumentos a favor do investimento nesta classe de ativos atualmente?

O mercado de high yield oferece uma yield esperada de 5,7%, para uma duração abaixo de 4 anos. Com um spread de crédito atual de 500 pontos base, estimamos que o mercado atualmente considere no preço que cerca de 7% das empresas irá sofrer um default no horizonte de um ano, e um terço dos emitentes num horizonte de cinco. Isto está muito acima do esperado pelas agências de rating, e do que se tem experienciado historicamente, mesmo em alturas de stress de mercado. 

Por isso, apesar do atual contexto e do elevado risco de recessão, nomeadamente na Europa, consideramos que o mercado já considera no preço muitos dos desenvolvimentos negativos, compensando adequadamente os investidores nos níveis atuais com um prémio de entrada significativo.   

Que países e setores irão ter melhor ou pior desempenho e porquê?

No atual cenário de elevada inflação e taxas crescentes, dois tipos de setores irão sofrer. Os industriais, com pesadas necessidades de energia, e as matérias primas, incluindo fornecedores automóveis, empresas de embalamento ou capital goods, que provavelmente irão assistir a pressão nas suas margens no médio prazo. O imobiliário irá ser o setor mais afetado devido à subida das taxas, uma vez que o refinanciamento de dívidas pesadas com um cupão mais elevado questionará a viabilidade de alguns modelos de negócios. Geograficamente, seremos por isso ligeiramente prudentes na Alemanha, onde a indústria ou o negócio de imobiliário de arrendamento estão sobre-representados. Por outro lado, favorecemos setores não cíclicos, com elevadas margens, como é o caso da saúde, as telecoms ou alguns serviços não discricionários. Esses setores irão beneficiar de uma baixa elasticidade da procura e margens resilientes, apesar de uma inflação dos salários moderada. 

Como estão atualmente posicionados e como é que esse posicionamento reflete as vossas expetativas para o high yield euro como um todo?


Nos níveis de spreads atuais, acreditamos que um cenário adverso está amplamente considerado no preço. Por isso, acreditamos que é altura de aumentar a exposição ao espaço high yield euro. O nosso fundo OFI RS Euro High Yield está atualmente quase totalmente investido, com uma ligeira capacidade remanescente para adicionar exposição e estar fortemente sobreponderado, caso o mercado apresente um desempenho inferior devido aos crescentes receios de uma recessão.