Marco Pirondini (Amundi): “Quem espera uma forte correção na banca, vai ter uma surpresa nos próximos resultados empresariais”

Marco Pirondini
Marco Pirondini. Créditos: Cedida (Amundi)

O atual contexto exige prudência. Apesar da forte correção de 2022, Marco Pirondini, gestor do Amundi Funds Pioneer Global Equity, sente que não pode assegurar que as valorizações das ações estão baratas. “Múltiplos de 18 vezes os lucros com uma inflação potencialmente elevada na fase final do ciclo económico? É melhor ser prudente”, aconselha o responsável de ações norte-americanas da Amundi. Na sua opinião, sair de uma década de política monetária ultra-acomodatícia levará tempo e volatilidade. “O ajuste dos excessos só agora começou. E terá também de ser alargado a outras classes de ativos, como os mercados privados”, insiste.

Prudência, mas não medo. Porque tal como o gestor tem muitos argumentos para não saltar para a piscina dos ativos de risco, também encontra muitos motivos para ser oportunista com as ações globais, mas com o cuidado de não acrescentar demasiada ciclicidade neste ponto da economia. Assim, na carteira do Amundi Funds Pioneer Global Equity, fundo com Rating FundsPeople 2023, podemos ler duas teses.

A primeira, que a equipa gestora está a posicionar-se para captar o regresso do value. “O período mais longo de outperformance do growth face ao value gerou um spread enorme nas valorizações entre um estilo e outro”, sublinha Marco Pirondini. E o gestor acredita que essa tendência se vai inverter.

A segunda, que a bolsa norte-americana está demasiado concentrada. “Cinco empresas representam 25% do índice. E não representam um quarto da economia norte-americana”, comenta o gestor. São precisamente estes megacaps que apresentam as valorizações mais ajustadas. Preferem, por isso, ir para essa segunda camada de empresas grandes, um passo atrás em relação aos excessos. 

Outro dado assinalável é como evoluiu a sua exposição geográfica. Pela primeira vez em 10 anos, o Amundi Funds Pioneer Global Equity está a sobreponderar as ações europeias em detrimento das norte-americanas. Também estão sobreponderados em ações asiáticas.

Opinião sobre o setor bancário

De facto, uma das suas sobreponderações setoriais é a banca. Concretamente, bancos europeus e asiáticos. “São negócios com fundamentais sólidos, com excesso de capital devido à regulação pós-2008. Existem alguns bancos que até anunciaram recompras de ações durante o recente ruído de mercado”, defende Marco Pirondini.

Na sua opinião, a crise de confiança baseou-se mais no medo irracional do que num problema fundamental: “As pessoas tendem sempre a recordar os fantasmas do passado e a trazê-los para os problemas do presente”, explica. O gestor não partilha do receio de um novo 2008. Não vê os níveis de alavancagem na banca nem o risco nos seus balanços como comparáveis

Não obstante, a exposição do fundo ao setor bancário foi feita com cabeça. Por exemplo, não têm bancos regionais norte-americanos. Em vez disso, preferem os nomes mais sólidos da indústria, os melhor capitalizados.

Uma das razões para o foco nos grandes bancos é a pressão no negócio. Enquanto os mais pequenos podem sofrer saídas de depósitos ou serão forçados a remunerá-los para reter os seus clientes, os grandes irão captar os aforradores preocupados com a solidez da sua entidade e não se verão obrigados a entrar nessa batalha pelos depósitos. E isso influencia diretamente os seus lucros. “Quem espera uma forte correção na banca, vai ter uma surpresa nos próximos resultados empresariais”, defende.

Alavancas que explicam a sua consistência

O Amundi Funds Pioneer Global Equity goza este ano do Rating FundsPeople 2023 devido à consistência dos seus resultados a longo prazo ajustados ao retorno/risco. Na opinião de Marco Pirondini, são quatro os fatores que explicam a solidez do processo.

Primeiro, a combinação de uma visão top-down e bottom-up. Apesar do forte de Marco Pirondini ser a análise corporativa, a equipa acredita que ter em conta fatores exógenos também é uma peça-chave do puzzle. “Ter também uma visão macroeconómica ajuda-nos a entender melhor os fundamentais e o possível comportamento das empresas em que investimentos”, defende o gestor.

Mas a perspetiva top-down não é aplicada de forma limitada. Ou seja, a carteira não é construída primeiro a partir de uma seleção regional ou setorial. Além disso, a relevância do top-down é ajustada numa base casuística. Há indústrias onde é pouco relevante e outras onde é fundamental. “Se se investe em bancos sem ter uma ideia do que está a acontecer localmente, pode ter-se vários sustos”, aponta. 

Disciplina e equipa

Segundo, a forte disciplina com as valorizações. “Para nós, não se baseia numa boa história. De facto, quando a narrativa de uma ação é demasiado boa, geralmente o seu preço está a refletir isso”, explica Marco Pirondini. As ações em carteira entram apenas se a equipa gestora vir uma potencial subida significativa e também pouco potencial de correção.

Terceiro, a estabilidade e experiência da equipa gestora. O Amundi Funds Pioneer Global Equity não é apenas comandado por Marco Pirondini. A equipa de gestão é composta por cinco profissionais com 20 a 30 anos de experiência. E quase mais importante ainda, trabalham juntos há muito tempo. “Ter essa proximidade após muitos anos juntos é o que nos permite ser honestos uns com os outros. Podemos testar as nossas teses de investimento tanto quando necessário, sem se tornar algo pessoal”, reconhece.

E quarto, a sua maneira de integrar o ESG desde a fundação da estratégia. “O ESG manifesta-se de maneira não linear. Não é um risco até ser subitamente uma crise”, afirma. Por exemplo, a cibersegurança. Há uns anos não era uma preocupação, mas agora é uma área crítica para as empresas. Ou com as empresas de semicondutores, onde é preciso analisar a sua exposição à escassez de água.