Megatendências: as três ondas de mudança de acordo com a Franklin Templeton

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Créditos: Matt Paul Catalano (Unsplash)

O crescimento da inovação tecnológica, das alterações climáticas, mas também dos riscos relacionados com os elevados níveis de dívida global são três dos temas-chave para a próxima década, com impactos no mundo financeiro, mas não só. Estas são tendências já em vigor antes da COVID-19 irromper, mas que a emergência de saúde teve o efeito de acelerar, criando uma maior consciência dos riscos ambientais e favorecendo a utilização de novas tecnologias durante os meses de confinamento. Mas, em resposta à crise, as políticas monetárias e fiscais acomodatícias dos bancos centrais e dos governos aumentaram as dívidas nos balanços, o que deixa pouco espaço de manobra para o futuro. Eis as três ondas de mudança que, de acordo com o Franklin Templeton Institute, temos de nos preparar para enfrentar nos próximos anos.  

Alterações climáticas

Embora as questões relacionadas com o clima estejam a ganhar mais atenção nas economias desenvolvidas, muitos mercados emergentes estão localizados fora das zonas amenas do mundo, e os desafios das alterações climáticas já se fizeram sentir fortemente nestas áreas do planeta. “As alterações climáticas estão a ter um impacto significativo na nossa estratégia de mercados emergentes. É um tema que abordamos explicitamente em todas as empresas que consideramos para investimento”, explica Alastair Reynolds, gestora do Global Emerging Markets Strategies da Martin Currie, filial da Franklin Templeton.

Além disso, a especialista salienta que a descarbonização da economia será provavelmente um tema de investimento crucial para os próximos anos, uma vez que o mundo procura reduzir a contribuição do Homem para o aquecimento global. “Isto levou-nos a ser investidores na indústria de baterias de veículos elétricos e também influenciou os nossos investimentos na mineração com foco em matérias-primas, como o cobre, que são necessárias para servir a eletrificação contínua das nossas necessidades energéticas”, comenta Reynolds. “Há também um crescimento impressionante nas soluções de energias renováveis, e as empresas em mercados emergentes já se posicionaram como grandes players. Esperamos que a procura nestes setores continue a crescer e acreditamos que a China surgirá como líder mundial na produção de energias renováveis”, afirma.

Aumento da dívida

Nos últimos 20 anos, vivemos num ambiente de dinheiro emprestado em condições fáceis. Um contexto que poderá continuar na próxima década, sem, no entanto, tomar nada como garantido. Além disso, as políticas implementadas pelos bancos centrais e pelos governos para reanimar as economias afetadas pela pandemia de COVID-19 afetarão significativamente os níveis de dívida global. “Em todas as economias desenvolvidas, os decisores políticos reagiram à pandemia com uma política monetária e fiscal sem precedentes. O abrandamento monetário surgiu depois de vários anos de posição monetária já branda após a crise financeira global. Deixou grandes bancos centrais, como a Fed e o BCE, com balanços extremamente grandes e um papel crítico como compradores nos mercados de ativos, onde as avaliações podem por vezes ser muito sensíveis às políticas dos bancos centrais”, explica Sonal Desai, diretora de investimentos na Franklin Templeton, que acrescenta: “A normalização da política monetária é um grande desafio, exacerbado pela recente mudança ascendente das expectativas de inflação”, afirma.

Segundo a especialista, o aumento dos níveis de dívida pública representa mais um teste crítico a longo prazo, deixando as finanças públicas muito mais expostas ao risco de taxas de juro mais elevadas. “Este aumento da dívida pública está a agravar a incerteza macro”, comenta.

Novas tecnologias

A aceleração da adoção e implantação de novas tecnologias tem o potencial de alterar a eficiência e a rentabilidade em várias indústrias, com as suas implicações para as oportunidades de investimento. A adoção mais rápida de novas tecnologias na indústria (robótica, IA, impressão 3D) tem o potencial de reacender o crescimento da produtividade e redesenhar os mapas dos vencedores e vencidos; e a inovação digital está, ao mesmo tempo, a ter um impacto direto no setor financeiro, por exemplo, com a tokenização a ajudar a dar um maior acesso aos clientes a um leque crescente de oportunidades de investimento. “A inovação rápida está nas notícias há vários anos; mas é a aceleração da adoção generalizada que pode agora ter efeitos económicos significativos”, explica Desai. Esta combinação de mudanças profundas, juntamente com ricas avaliações na maioria dos mercados de ativos financeiros, está a abrir caminho para uma maior volatilidade dos preços dos ativos”, admite.

“Os avanços nas ciências da computação e na inteligência artificial (IA) vão criar inúmeras oportunidades. Muitas indústrias e empresas existentes beneficiarão da adoção de novas soluções, mas muitos novos modelos de negócio também serão criados com o avanço da IA. Pensamos que novos grandes mercados serão criados por uma computação ainda mais poderosa que pode processar quantidades massivas de dados”, refere Pawel Wroblewski, gestor na ClearBridge Investments, uma boutique da Franklin Templeton.

A inovação tecnológica, de acordo com a casa gestora, também desempenhará um papel crucial na resposta ao desafio das alterações climáticas, que poderiam ser resolvidos mais rapidamente do que o esperado graças à disponibilidade comercial de tecnologias como a energia solar e eólica, baterias para armazenamento de eletricidade e veículos elétricos. “Por exemplo, a transição dos combustíveis fósseis e dos motores de combustão interna terá lugar por razões puramente económicas. Estas novas tecnologias são melhores, baixaram rapidamente nos custos na última década e continuarão a ficar mais baratas durante a próxima década, tornando muito difícil a concorrência dos carros de combustão interna tradicionais”, afirma Wroblewski. “A tecnologia está aqui, mas é claro que a regulação e a política dos governos podem abrandar ou acelerar esta transformação”, conclui.