Num pequeno-almoço organizado pela Nordea AM, Fabio Angelini, especialista sénior de Rendimento Fixo Europeu, falou das oportunidades no segmento das obrigações e de como a duration pode ter um papel importante.
No mais recente pequeno-almoço nórdico organizado pela Nordea Asset Management, Fabio Angelini, especialista sénior de Rendimento Fixo Europeu, subiu ao palco para falar dos mercados de obrigações e dos motivos pelos quais consideram que esta classe de ativos está novamente em jogo. Após os ajustes nos preços das obrigações sofridos em 2022 e com o ambiente atual manchado pela elevada inflação e pela possibilidade de recessão, será que existem segmentos que oferecem um valor atrativo nas condições atuais de mercado? A resposta pode estar na duration.
“Ainda não atingimos um ponto em que se possam ver os verdadeiros efeitos das taxas de juro mais elevadas na inflação”, começa por dizer Fabio Angelini. O profissional comenta que esses efeitos só são realmente sentidos um ano e meio ou dois anos após o aumento das taxas. “Só nessa altura podemos perceber se o ajuste monetário funcionou”, esclarece. Considera, contudo, que nos estamos a aproximar de um período em que os efeitos da política monetária, no que concerne a inflação, vão começar a desenvolver-se, “o que é muito bom para a duration”.
Segundo explica, as expectativas implícitas do mercado sobre a inflação são algo pessimistas, ou seja, mais altas do que poderiam ser. Ao mesmo tempo, historicamente, a inflação apenas mostra sinais de desaceleração em média um ano após pelo menos um aumento das taxas por parte do BCE.
O gráfico partilhado pelo gestor mostra três cenários possíveis para a trajetória futura da inflação, assumindo um aumento médio mensal de preços de 0,1%, 0,3% ou 0,5%, respetivamente. “Se assumirmos que os preços vão aumentar todos os meses 0,3% em média, nos próximos meses, isso é o dobro da média histórica na Europa”, comenta.
Segundo Fabio Angelini, isto significa que a maioria das subidas de taxas poderá estar ultrapassada e que “um aumento de preços a este ritmo é consistente com as expectativas de inflação publicadas pelo BCE em dezembro”. Os novos dados que serão publicados em breve terão, afirma o gestor, extrema importância, pois vão revelar o que o BCE espera da inflação.
O profissional da NAM considera que as valuations descontam algum pessimismo, principalmente ao entrarmos num período em que finalmente veremos o efeito do que o BCE está a fazer relativamente à inflação. Isto também significa que se olharmos para expectativa de inflação do mercado, esta ronda os 4,12%. “A boa notícia é que realmente é preciso um aumento de preços mensal consistente e constante para ir ao encontro dessas expectativas. É isto que já está a comprar, quando compra obrigações”, afirma. Por isso, dizem que há bastante pessimismo nos dados de mercado. Em geral, por esse motivo, julgam que há valor na duration e, na verdade, é um valor muito atrativo.
Recessão à vista?
Ao tentar justificar o mesmo tipo de raciocínio no lado do crédito, na NAM sentem-se significativamente menos confortáveis. Por quê? “Porque os níveis de stress hoje não estão particularmente altos, estão apenas ligeiramente acima da média histórica. Por exemplo, os spreads high yield estão em torno de 450, enquanto as médias históricas são 400. Isso significa que os spreads hoje não estão apertadas, mas também não estão favoráveis”, explica o gestor. Por outras palavras, consideram que é evidente que uma recessão está a chegar ou a probabilidade de uma recessão é muito alta. “Há muitos indicadores a apontar para uma recessão iminente”, pontualiza.