Os mercados privados foram afetados neste cenário, sofrendo um abrandamento no primeiro semestre de 2023 em termos de captação de fundos, atividade de investimento e avaliações a nível global.
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Chegou a altura de fazer um balanço do que foi o ano nos mercados financeiros e do que nos trará nos meses restantes.
A incerteza mantém-se. Embora os sinais de arrefecimento da economia dos EUA alimentem as expetativas de que a Fed vai parar os aumentos de juros, ainda há falta de visibilidade sobre o grau de deterioração que a economia global sofrerá nos próximos meses.
Os mercados privados foram afetados neste cenário, sofrendo uma desaceleração no primeiro semestre de 2023 em termos de captações, atividade de investimento e valuations a nível global, explica Nils Rode, diretor de investimentos da Schroders. “Esta desaceleração pode ser acentuada durante o segundo semestre em caso de recessão, o que continua a ser um risco”, afirma.
De acordo com Rode, os números relativos às captações são um indicador importante útil da atividade de investimento e, em certa medida, da evolução das valuations nos mercados privados. “No primeiro trimestre de 2023, as captações de fundos de infraestruturas sofreram uma correção significativa de quase 90% em relação ao ano anterior. No entanto, outras classes de ativos – como a dívida privada – caíram apenas 10% no mesmo período. A captação de fundos de private equity buyout permaneceu inalterada, o que indica uma maior estabilidade”, acrescenta.
Esta tendência poderá prolongar-se na segunda parte do ano. De acordo com o Investor Outlook da Preqin para o segundo semestre de 2023, os investidores expressaram maior otimismo sobre os resultados de private equity nos próximos 12 meses (embora não sobre o venture capital). O apetite é moderado no real estate e infraestruturas. A dívida privada, no entanto, é a única classe de ativos para a qual a maioria dos LPs espera que os retornos melhorem nos próximos 12 meses: 45% dos investidores planeiam aumentar as suas alocações.
Private equity: panorama mais claro
Com foco na categoria de private equity, Nils Rode explica que a captação de fundos para aquisições permaneceu inalterada no primeiro trimestre de 2023 em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior. A captação de fundos de venture capital caiu quase 70% no mesmo período; uma correção que vem após a exuberância experimentada pelos investimentos de risco em etapas avançadas/pré-IPO em 2020 e 2021.
"Nos próximos trimestres, esperamos que as aquisições de pequenas e médias empresas superem as grandes, em parte devido a um ambiente de dry power mais favorável para transações menores", refere Rode. "Da mesma forma, esperamos que os investimentos disruptivos em fases iniciais sejam mais resilientes do que os investimentos em fases posteriores ou de crescimento, devido à mesma dinâmica".
A consultora Bain & Company aponta que o setor tem um recorde de 3,7 biliões de dólares de dry power, ou seja, capital comprometido que ainda não foi investido pela gestora. No entanto, dissipa os receios quanto a este valor, uma vez que 75% dos fundos têm menos de três anos, é relativamente recente. "As gestoras ainda têm tempo para pôr o dinheiro a trabalhar e não se sentem excessivamente pressionados a fazê-lo", observa Hugh MacArthur, responsável de Private Equity na Bain & Company. E, embora reconheça dificuldades no fecho de operações, especialmente as de grande tamanho, o crédito privado está a flexibilizar a restrição ao crédito bancário comercial.
Do lado do desinvestimento, os fundos buyouts acumulam um stock recorde de 2,8 biliões de dólares em ativos sem desinvestir, mais de quatro vezes o valor registado durante a crise financeira global. "Os ciclos anteriores mostraram que compradores e vendedores precisam de um ambiente económico estável – embora não necessariamente atrativo – para que os negócios recuperem e avancem", destaca MacArthur. No entanto, "um panorama mais claro está finalmente no horizonte e esperamos que o mercado global de private equity estabilize", continua.
A este respeito, é provável que as operações lideradas por um GP (GP-led) continuem a ganhar importância. "Com os mercados de IPO fechados, prevemos uma redução nas saídas de M&A, então os GP-lesd devem aumentar", explica Rode (Schroders Capital).
Dívida privada: condições favoráveis
A dívida privada atravessa um bom momento. Rode explica que as condições de empréstimo para os credores permanecem favoráveis, oferecendo retornos atrativos ajustados ao risco devido ao aumento dos spreads, taxas básicas mais altas e estruturas de negociação mais conservadoras, com menor alavancagem, maiores injeções de capital e documentação de empréstimo mais rigorosa. "Investimentos que oferecem taxas de juro variáveis e o apoio de ativos tangíveis, como a dívida de infraestrutura e imobiliária, são particularmente atrativos na nossa opinião", comenta o diretor de investimentos da Schroders.
Klarphos espera que a dívida privada mantenha a sua atual trajetória de crescimento e continue a preencher a lacuna de financiamento deixada pela atual retirada bancária de empréstimos amplamente sindicados. "Um ambiente volátil de taxas elevadas cria um tailwind estrutural para classes de ativos flutuantes e não ajustadas ao mercado, como a dívida privada", explicam na entidade especializada em investimentos alternativos.
Infraestruturas: energias renováveis e digitalização
Quanto às infraestruturas, no primeiro trimestre de 2023, as captações caíram drasticamente – quase 90% – em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, de acordo com a Preqin. "A atividade de investimento também abrandou devido à revalorização dos mercados a diferentes velocidades num ambiente de taxas de juro mais elevadas. Além disso, o aumento significativo dos custos de investimento causou uma desaceleração em novos projetos", explica a Schroders.
Em geral, as oportunidades identificadas neste segmento de mercado estão ligadas às energias renováveis e à digitalização.
Imobiliário: visão a longo prazo
Tal como no investimento em infraestruturas, o ambiente de taxas de juro mais elevadas também abrandou significativamente a atividade de transações imobiliárias. A captação de fundos imobiliários teve uma grande correção de quase 60% no primeiro trimestre em comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, de acordo com Preqin.
"A logística e os ativos industriais urbanos, lojas de conveniência, moradias multifamiliares de médio porte, hotéis económicos e de luxo e self-storage são alguns dos setores que oferecem valor absoluto e relativo", referem na Schroders. Na PIMCO, identificam as maiores oportunidades nos setores residencial, logístico e de data centers nos Estados Unidos, Europa e região Ásia-Pacífico. No entanto, "esperamos que esses setores evoluam de forma diferente entre as regiões", disseram John Murray, gestor de portefólios imobiliários, e François Trausch, CEO e CIO da PIMCO Prime Real Estate.