MiFID II: As gestoras posicionam-se relativamente aos custos com research

Martelo Tribunal Lei Legal
slawyerz, Flickr, Creative Commons

A era pós MiFID II traz consigo várias mudanças. Uma delas afeta diretamente o research que elaboram os analistas. A diretiva estabelece que as entidades bancárias, os brokers e as empresas de trading devem faturar em separado os custos da análise que utilizam. Desta forma, as gestoras podem escolher se incluem estes custos nos fundos que gerem e, portanto, cobrá-los aos seus clientes, ou se assumem elas mesmas esses custos, um decisão importante justamente numa altura em que a pressão sobre as margens é cada vez mais asfixiante. O que fazer? Assumir o custo ou tranferi-lo para o cliente?

Esta incógnita está a começar a dispersar-se, já que cada vez um maior número de entidades está a tomar uma decisão a esse respeito. Por agora, a maioria das que se pronunciaram está inclinada a assumir os custos de análise externa, em vez de os transferir para os clientes. As que mais recentemente comunicaram foram duas empresas alemãs: a Allianz Global Investors e a Deutsche AM.

“No contexto do nosso negócio global, que beneficia de uma plataforma de investimento globalmente integrada onde se partilham análises e ideias de investimento, determinámos que a solução eficiente e mais idónea para todas as partes envolvidas será assumir os custos de análise externa, e também no seguimento do espírito da diretiva MiFID II, cujo objectivo é evitar conflitos de interesse nas negociações de títulos”, explica Steve Berexa, diretor de investimentos globais em ações da gestora alemã.

A decisão da Allianz Global Investors aplica-se a todos os fundos registados na Europa e aos mandatos de gestão do continente. Os fundos geridos ou distribuídos fora da Europa não serão afetados. Para Berexa, “esta é a solução óbvia porque, além de operar uma plataforma global, a maior parte da nossa análise já é levada a cabo através da utilização de recursos internos. O estudo e a análise intensiva é uma parte integrante da nossa proposta como gestores ativos, pelo que é natural que seja assumido por nós próprios e por isso esteja incluída na nossa comissão de gestão”, afirma.

“Assumiremos os custos de análise externa sob a diretiva MiFID II. Estamos convencidos que o nosso enfoque é a melhor solução para cumprir com os requisitos da nova diretiva e que nos permitirá continuar comprometidos com a oferta de melhores soluções de mercado aos nossos clientes”, afirma Nicolas Moreau, CEO da Deutsche AM num e-mail enviado a todos os colaboradores da gestora. A empresa continuará a adquirir análise externa com a finalidade de assegurar que os seus gestores de fundos contam com todos os meios necessários nos processos de investimento e negociarão com os provedores para optimizar custos.

A Allianz Global Investors e a Deutsche AM foram as últimas entidades que escolheram este caminho, mas muitas mais o fizeram. Entre elas estão entidades britânicas como a M&G Investments, Aberdeen Standard Investments, Jupiter, Woodford Investment Management ou Baillie Gifford, ou casas americanas como a Vanguard, que em agosto comunicava que os custos de research seriam descontados das comissões de gestão e, portanto, absorvidos pela entidade.

Mas... Qual é o volume de custos de que estamos a falar? O certo é que não há um consenso relativamente a este assunto. De facto, estamos perante uma guerra de números. A Vanguard, por exemplo, calculou que os custos derivados do research serão inferiores aos cinco milhões de dólares ao ano, o que compara com os 100 milhões que estima o Financial Times. Fontes consultadas pela Funds People consideram que o valor final que terão que assumir o grosso das entidades estará mais perto da calculada pela Vanguard do que a indicada pela publicação financeira.