O interesse dos investidores por obrigações de países emergentes está a aumentar. O volume de perguntas dos clientes às gestoras aumentou de forma muito significativa, o que se está a refletir (embora timidamente) num reposicionamento das carteiras no sentido desta classe de ativo. Gonzalo Rengifo, diretor geral da Pictet AM em Ibéria e América Latina, observa que a dívida de países emergentes, tanto soberana como corporativa, está a começar a chamar a atenção dos investidores institucionais, mais ainda depois do bom comportamento mostrado por este segmento de mercado. O motivo parece claro, o fixed income emergente converteu-se na única classe de ativos do mercado de obrigações que não apresenta um risco tão assimétrico. Esta classe de ativos permite aspirar a rentabilidades ente 5% e 10% com drawdowns limitados, de aproximadamente um terço desse potencial de valorização. Mas, que factores estão a desencadear esse repentino interesse dos investidores pelo fixed income que se estão a aperceber as gestoras internacionais? O que dizem as gestoras pode ser resumido em dois pontos.
A primeira faz referência à evolução do sector externo de todas as economias emergentes, excluindo a China, para evitar a distorção dos volumes. Durante anos, argumentava-se que o abrandamento económico da China estava a exportar uma crise para os mercados emergentes. É verdade que o saldo comercial das economias emergentes em 2007 estava com um superavit e em 2013 ficou em défice. Mas a partir desse ano, especialmente desde a segunda metade de 2015, as exportações dos países emergentes superaram claramente as importações. Já não se pode dizer que a China esteja a exportar uma crise. Os países emergentes já exportam mais que importam e, portanto, começam a ter um superavit comercial que atualmente está em máximos (15.000 milhões de dólares).
Isto está muito relacionado com a estabilização dos fluxos de capital para as economias emergentes, uma situação que se está a verificar. Se se exporta mais do que se importa e se estabilizam os fluxos de capital, começa-se a ter uma situação muito favorável porque as economias dispõem de mais reservas de divisas, o que, historicamente, tem uma correlação praticamente perfeita com o comportamento do fixed income emergente em divisa local. Esse é um dos primeiros argumentos que explicam o renovado interesse por esta classe de ativos.
O segundo tema importante que explica porque a classe de ativo está a ganhar interesse é uma variável importada. Toda a gente se centra no quão endividadas estão as economias emergentes e no quão excessivo foi o crescimento do crédito. Confunde-se dívida com crescimento de crédito. Uma coisa é o endividamento, que cresceu muito desde o ano 2000, e outra é o crescimento do crédito, que abrandou desde o ano 2010. Quando se restringe o crédito, a economia ressente-se. Mas quando o que se está a fazer é abrandar o ritmo de crescimento do crédito, costuma-se verificar uma recuperação inesperada na procura, que é precisamente o que se começa a ver. Podemos assistir a um crescimento económico nos mercados emergentes de 3,5% ou mesmo superior. Quando os mercados emergentes começam a crescer a maior velocidade do que os mercados desenvolvidos e o diferencial de crescimento aumenta, as obrigações emergentes têm um comportamento positivo.
Parece evidente que o contexto, para os emergentes, melhorou. Segundo o índice próprio, elaborado pela Goldman Sachs AM, o GS EM Financial Conditions Index, que reflete as condições de saúde financeira nos mercados emergentes com base em diversas variáveis (ações, moedas, taxas de default, entre outras), estaríamos numas condições semelhantes às vistas em 2011, e em contraste marcado com os níveis de dificuldade financeira que prevaleceram nos últimos anos. “Em parte, isto reflete a contínua redução de taxas a longo prazo nos mercados desenvolvidos, juntamente com o facto de que vários bancos centrais emergentes utilizaram este período de condições mais benignas para reduzir taxas”. Os economistas da entidade continuam a ver margem de manobra para mais reduções de taxas nos mercados emergentes, mais exatamente na Rússia e Brasil, mas também na Turquia, Indonésia, Índia e em alguns países da Ásia, onde as taxas de juro estão já em níveis baixos.
“Para a maioria dos mercados emergentes, estas condições financeiras mais vantajosas podem servir de colchão para um menor crescimento económico nos mercados desenvolvidos, como consequência do Brexit. Esta melhoria significativa das condições financeiras dos mercados emergentes nos últimos seis meses converteu-se num impulso positivo para a atividade de outros países desde março deste ano”. Isto também está a acontecer na China. Segundo Luca Paolini da Pictet AM, “a atividade económica no país está a estabilizar, apoiada pelas recentes medidas de estímulo fiscal e monetário. O mercado imobiliário está a acelerar, especialmente em cidades de primeira categoria. Mesmo com o renmimbi a depreciar para mínimos de cinco anos face ai dólar, as saídas de capitais foram contidas”.
No resto das economias emergentes, a estabilidade da China e expectativas de que a Reserva Federal mantenha invariável a sua política monetária devem suportar o crescimento no curto prazo. Além disso reduziram-se as pressões inflacionistas, o que pode incitar a reverter políticas monetárias restritivas ou mesmo reduzir as taxas de juro. A isso se acrescenta que alguns países estão a incrementar gestos, como a Coreia do Sul que planeia um pacote de estímulo fiscal de mais de 20 biliões de KRW (17.000 milhões de dólares). Outro acontecimento positivo é que a Índia está a tratar de aprovar uma lei de reforma fiscal antes do que era esperado. As ações de mercados emergentes estão baratas em relação com a média histórica e com os mercados desenvolvidos – o PER estimado cota com um desconto de até 25% para com o índice mundial MSCI World Index.