Estratégias de investimento em obrigações de curto prazo surgem como alternativa. A diretora destes produtos na Amundi destaca como estratégias de compra de obrigações de ultracurto prazo e de buy and hold podem proporcionar retornos significativos com risco controlado.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
Para os investidores de obrigações, a yield to maturity costuma ser uma referência. No entanto, Nathalie Coffre, responsável de Soluções de Obrigações de Curto Prazo da Amundi, esclarece que essa métrica nem sempre revela o verdadeiro potencial de retorno de um investimento.
“Comparar unicamente a yield to maturity por si só nem sempre fornece o quadro completo dos retornos potenciais, especialmente num ambiente de queda das taxas”, observa Coffre. Esse comentário reflete um dos pontos-chave que Coffre já tinha apontado na sua entrevista à FundsPeople onde alertou que mudanças nas curvas de yields e políticas monetárias exigiam uma análise profunda e adaptativa para aproveitar as oportunidades no rendimento fixo.
Estratégias rentáveis num ambiente de taxas altas
O panorama dos investimentos sofreu uma alteração significativa nos últimos meses. As taxas de juro estabilizaram em níveis elevados, criando um ambiente favorável para estratégias de investimento de curto prazo. Como salienta Nathalie Coffre: “Estamos num momento muito interessante para os investidores, onde a liquidez volta a ser rentável e podemos obter retornos atrativos a curto prazo”.
Neste contexto, as estratégias de buy & hold de curto prazo têm surgido como uma opção particularmente atrativa que permite captar yields próximas de 4,5% num horizonte temporal de 6 a 18 meses. “A vantagem dessas estratégias é que permitem que os investidores beneficiem das taxas atuais, mantendo um perfil de risco controlado”, explica a especialista.
Esta combinação de rentabilidade e controlo de risco está a atrair investidores institucionais e indivíduos que procuram otimizar as suas carteiras no ambiente atual.
Um contexto em mudança na política monetária
O ambiente das taxas de juro alterou-se significativamente desde o final de 2023. “Tanto o BCE quanto a Reserva Federal começaram a normalizar as suas taxas diretoras, e planeiam continuar”, explica Coffre. Com a inflação em queda, ambos os bancos centrais concentraram as suas políticas na estabilização do mercado de trabalho, especialmente nos EUA, onde a Fed ajusta a sua política para evitar um mercado de trabalho “demasiado brilhante" e “demasiado fraco”.
Entretanto, o Banco Central Europeu optou por uma política mais autónoma. “O BCE deixou claro que agirá de forma independente da Fed”, acrescenta Coffre, sublinhando que o BCE acelera as reduções de 25 pontos base em cada reunião com o objetivo de atingir uma taxa de facilidade de depósito de 2% até ao verão. Essa diferença de ritmo entre os bancos centrais representa uma oportunidade especial para os fundos de obrigações de curto prazo.
Investimentos de curto prazo: um espaço de oportunidade na curva de yields
Atualmente, a curva de yields na Europa mostra alguma estabilidade, embora permaneça invertida. Coffre explica: “Estamos a ver um achatamento inicial da curva, com potencial de aperto nos prazos mais longos”. Esse fenómeno abre uma janela interessante para os fundos de obrigações de curto prazo, que se aproveitam desse comportamento do mercado sem correr riscos adicionais de duração.
O investimento nestes fundos tem crescido significativamente. A Amundi registou um aumento no seu fundo de obrigações de ultracurto prazo de 2,8 mil milhões de euros para 3,7 mil milhões de euros este ano, com fluxos significativos de clientes ibéricos. “Os fundos do mercado monetário continuam a atrair novos cashflows sem representar uma saída significativa de outros ativos de obrigações ou de ações”, diz Coffre, observando que grande parte desses fluxos vêm de novos capitais e não de transferências de outros ativos.
Gestão ativa e procura de valor em setores-chave
Ao selecionar setores para investir, Amundi identifica oportunidades atrativas no setor financeiro europeu. No entanto, Coffre é cautelosa com o setor industrial, particularmente o setor automóvel e de serviços públicos, devido à sua sensibilidade à economia e a taxas de juro altas. “O setor financeiro europeu oferece valor”, afirma Coffre.
Para a profissional, a gestão ativa continua a ser fundamental no contexto atual, pois permite maior flexibilidade para se adaptar às flutuações na duração e na qualidade do crédito. Embora os ETF e a gestão passiva tenham ganho força, Coffre destaca que “os nossos fundos são uma opção competitiva, mantendo alta qualidade de crédito e evitando riscos desnecessários na procura por alguns pontos base adicionais de retorno”.
Perspetivas e conclusões a curto prazo em matéria de emissões
O futuro das emissões no mercado de dívida de curto prazo também é uma área que a Amundi está a vigiar de perto. Coffre antecipa que o mercado primário permanecerá robusto, especialmente no setor industrial, embora as emissões de curto prazo representem uma pequena percentagem do total. Nesse contexto, o escritório foca no mercado secundário para encontrar oportunidades que se adequem à crescente procura dos seus clientes por obrigações de ultra-curto prazo. Em resumo, Nathalie Coffre destaca que, no contexto atual, avaliar um investimento em obrigações requer olhar além da yield to maturity.