Nigel Bolton (BlackRock): “É necessária uma nova abordagem”

Nigel Bolton
Nigel Bolton. Créditos: Cedida (BlackRock)

As ações desempenham um papel essencial nas carteiras de investimento, inclusive quando a subida das taxas aumenta o retorno (e o atrativo relativo) das obrigações. Os lucros das empresas são impulsionados pela inflação e a subida dos preços dos bens e serviços traduz-se em maiores receitas. “Desta forma, poderemos ver lucros positivos no próximo ano”, afirma Nigel Bolton, co-diretor de investimentos da BlackRock Fundamental Equities.

No entanto, os custos das empresas também aumentam durante os períodos de inflação, pelo que a gestora espera ver uma maior dispersão entre os vencedores e os perdedores: as empresas que possam gerar dinheiro e controlar os custos face a outras que não. “Esperamos que a volatilidade do mercado ofereça oportunidades aos investidores a longo prazo, desde que se foquem nas margens de lucro e nas avaliações”, explica o gestor. 

As margens de lucro são importantes na nova era

Nos anos anteriores à Grande Crise Financeira, o financiamento barato em forma de taxas baixas permitiu às empresas focarem-se no crescimento a longo prazo sem se preocuparem com a rentabilidade a curto prazo. “Agora acreditamos que os lucros voltam a ser importantes”, afirma Bolton.

Na sua opinião, o poder de fixação de preços é essencial para a rentabilidade. Mas as empresas afirmam que vai ser mais difícil transferir o aumento dos custos para os clientes em 2023 à medida que o crescimento económico abranda. “Será fundamental aprofundar a procura por empresas que possam manter o seu poder de fixação de preços e controlar eficazmente os custos. Já assistimos a diminuições de emprego e a uma renovada atenção à rentabilidade no setor tecnológico e esperamos que este tema se estenda a todos os setores este ano”.

As empresas que podem manter umas margens de lucro saudáveis quando o crescimento económico abranda ganham a etiqueta de defensivas. A saúde é um setor tipicamente defensivo porque os cuidados médicos são considerados essenciais. Bolton continua a ver oportunidades neste setor. “Negoceia com um ligeiro desconto em relação ao mercado geral”. Mas as valorizações do setor da saúde subiram nos últimos meses porque os investidores procuram segurança e muitas empresas defensivas de todos os setores têm um preço elevado. “Por isso, é importante ser seletivo e procurar oportunidades em todo o mercado e não só em setores caros e defensivos”.

As valorizações são essenciais

Agora que as taxas subiram, presta-se mais atenção ao cashflow a curto prazo e as valorizações das ações adquirem uma importância renovada. Na sua opinião, as partes mais caras do mercado permanecem vulneráveis a umas taxas de juro mais elevadas do que o previsto.

“Procuramos empresas que, na nossa opinião, podem melhorar os seus lucros, mas que continuem a ser relativamente baratas. O setor energético mundial continua a negociar com desconto em relação a outros setores e à sua própria história, mesmo após ter ganho mais de 50% este ano. Isto deve-se ao facto de os lucros terem crescido bastante. Os bancos também continuam a negociar com desconto e esperamos uma melhoria dos seus lucros à medida que a subida das taxas aumenta a sua receita líquida de juros”, revela.

Também observam oportunidades a longo prazo entre as empresas que fornecem os materiais - como o cobre - essenciais para a eletrificação e a transição energética.

“Dentro dos setores, as empresas com melhores margens podem se tornar mais interessantes à medida que a sua qualidade é reconhecida no mercado. Tentamos acrescentar algumas empresas que são mais baratas, talvez consideradas mais arriscadas pelo mercado, mas que continuam a ter margens atrativas. É importante acrescentar um número selecionado destas empresas à carteira - juntamente com posições defensivas de qualidade - porque se a menor inflação conduzir a um aumento persistente do mercado em 2023, estas têm o potencial de recuperar positivamente das baixas valorizações”, sublinha.