Perceber que o controlo do drawdown de uma carteira é atualmente fundamental, foi uma das ideias mais repetidas por David Greene, client portfolio manager da Amundi, que recentemente esteve em Lisboa para falar daqueles que são os grandes desafios do investimento.
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A indústria de gestão de ativos teve claramente de se habituar e adaptar aos constrangimentos do mundo em que vivemos. Um mundo onde as taxas de juro se mantêm em níveis historicamente baixos, e onde o BCE, por exemplo, continua a ser responsável por uma “distorção” do mercado, “cometendo uma espécie de crime piedoso”.
Num roadshow recente pela Europa, a Amundi não deixou de fora Lisboa e os seus investidores. Neste “Amundi Crossroads”, David Greene, client portfolio manager da entidade, foi o responsável por colocar em cima da mesa - numa conversa com jornalistas – o tema dos desafios de investimento atuais. Esses mesmos desafios são, na perspetiva da entidade, fáceis de identificar: a preservação da riqueza e a procura de rendimento.
Preservação da riqueza
O primeiro grande desafio mereceu da parte de David Greene uma exposição de várias variáveis. “A possibilidade de perda de dinheiro é, na nossa perspetiva, o grande risco que os investidores têm em mente”, introduziu, elencando os cinco desafios que se colocam na tarefa da preservação de capital. Nos dois primeiros lugares surgem, segundo o gestor, a “preservação do poder de compra”, acoplada com “a consciência de que as necessidades de reforma têm de ser asseguradas”. Na cadeia da preservação de capital seguem-se o desafio “dos baixos retornos e das yields extremamente baixas”, e a ainda da “gestão do risco dos ‘tail events’ num ambiente de incerteza”. Quinto e último ponto: “evitar a realização de perdas, saindo do mercado e voltando a entrar”.
Neste ambiente de incertezas que, para David Greene, se resume mesmo à expressão de “esperar o inesperado” é essencial “fazer-se uma gestão atenta do drawdown”... e explica porquê: “O que se vê atualmente é uma falta de volatilidade muito grande, apesar de toda a incerteza de política económica que vivemos. Por isso, olhar exclusivamente para o VIX pode ser redutor; há que ter em conta outros critérios para medir a volatilidade. Os investidores têm de ser cuidadosos e estar preparados para o inesperado”.
Num mundo de retornos extremamente baixos, prosseguiu, David Greene considera essencial a contenção do drawdown, visão que sustentou visualmente com o gráfico abaixo.
“O ganho necessário para atingir o break even depois de uma perda aumenta quanto maior for a perda e, para além disso, sair de um drawdown num mundo de baixos retornos demora bastante mais tempo”, resumiu.
Na perspetiva de David Greene são duas as abordagens a seguir, ao nível da construção de portefólios, para preservar a riqueza. Refere, em primeiro lugar, a aparente combinação tradicional entre ações e obrigações, mas com “a parte das obrigações a executar uma proteção contra a subida das taxas de juro” (short duration bonds, floating rate notes...), estratégia à qual deu o nome de “abordagem building block”. Na fatia destinada ao equity fariam parte “ações mais conservadoras, que ajudem a mitigar o risco de downside”, das quais são exemplo empresas do sector das utilities.
A segunda abordagem de preservação da riqueza é uma abordagem multiativos holística. “Neste tipo de estratégia não se usam só obrigações ou ações, mas, introduzem-se, também, investimentos em commodities, moeda estrangeira, imobiliário, etc. A ideia é combinar um conjunto variado de ativos, que permitam uma grande mitigação do risco de downside”, esclarece.
Search for income
Como é sabido em todo o mercado, as tradicionais fontes de income esgotaram-se. “O facto de a população viver até mais tarde veio complicar ainda mais este problema, pois com as pessoas a quererem reformar-se é necessário arranjar fontes de retorno adicionais”, começou por referir.
Os números sobre a demografia mundial revelam-se portanto um problema e, segundo a Amundi, colocam ainda mais a tónica na procura por rendimento. “Prevê-se que a população idosa aumente, enquanto que a esperança média de vida se espera que cresça: dos cerca de 71 anos atuais para os 77, em 2050. Em 2015 existia um rácio global de 7 trabalhadores para um pensionista. Em 2050 prevê-se que esse rácio seja de 3.6 trabalhadores para 1 reformado”, exemplificou.
Os assustadores números da dívida pública de determinados países também entram no prato da balança quando o tema é a escassez de rendimento. “Muitas das vezes os países não têm em consideração os custos com as pensões nem com a saúde. Os EUA, por exemplo, têm responsabilidades futuras ligadas às pensões e aos cuidados de saúde que representam 154% do PIB. Esta trata-se de uma herança muito pesada para as economias”, sentenciou o client portfolio manager.
Por estes e outros motivos, encontrar soluções de rendimento é quase como tentar ‘encontrar água no deserto’ – sendo que a sede dos investidores é cada vez maior. A Amundi entende essencialmente que é necessário “olhar para lá das tradicionais fontes de retorno”. Numa perspetiva de um portefólio multi-ativos, David Greene reforça “a possibilidade de procurar um retorno sustentável a partir de um leque alargado de classes de ativos, ao mesmo tempo que se faz uma gestão ativa do risco”. No espectro das ações – classe de ativos que veem como robusta o suficiente para encontrar valor – aconselham “a combinação de ações com elevadas dividend yields e prémios resultantes de uma gestão ativa de opções”.