O alfa entra em jogo no mundo dos ETF

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Créditos: Chegn Feng (Unsplash)

O uso da expressão gestão passiva como referência ao mundo dos ETF é uma generalização que nunca se aproximou muito da realidade. Em primeiro lugar, porque os fundos de investimento tradicionais geridos passivamente ou indexados são anteriores ao nascimento do primeiro ETF e, em segundo lugar, pelo crescimento da jovem indústria dos ETF ativos. É jovem porque não existe há muito, mas é pujante: embora pequena, cresce de forma interessante.

De facto, o conjunto dos ETF ativos europeus acumulava, no final de março de 2024, uns meros 33,8 mil milhões de euros em ativos, segundo dados da Morningstar, cerca de 2% do total de ativos em ETF Europeus. Não obstante, este número compara com os 16,63 mil milhões do mesmo mês de 2022. Nos Estados Unidos, o volume é já bastante superior, tanto em termos absolutos como em relação ao universo desta tipologia de produto. Os ETF ativos acumulam cerca de 600 mil milhões de dólares, o que significa 8,5% do mercado de ETF norte-americano.

Já no que diz respeito aos provedores de ETF ativos mais fortes na Europa, fica evidente nos dados agregados pela Morningstar a concentração do mercado. A entidade gestora líder, a J.P. Morgan AM, acumula uma quota de mercado superior a 44% na Europa. O Top 3, que inclui também a PIMCO e a Fidelity International, acumula uns robustos 69,9% do mercado. Mas, não obstante a liderança, perante uma tendência que parece ter vindo para ficar, já são vários os provedores clássicos do mercado que mostram intenção de seguir esta maré e lançar os seus próprios produtos cotados ativos na Europa.

Mas... em que consiste mesmo um ETF ativo? Que nível de risco se está a assumir face ao benchmark? Que capacidade têm estes provedores de providenciar alfa a um baixo custo e com a conveniência da cotação em bolsa? Começamos pela maior entidade do ranking.

A J.P. Morgan AM foca a sua oferta de ETF ativos, principalmente no investimento em ações e conta a história destes produtos. A entidade baseia as suas estratégias na “mesma metodologia de Research Enhanced Index (REI) que aplica aos seus fundos de investimento desde os anos 80 nos Estados Unidos”, como nos conta Manuel Arroyo, responsável de vendas da gestora em Portugal. “São concebidos para se assemelharem ao índice de referência e é possível ver como os ETF e os benchmarks se movem em tandem. No entanto, ao longo do tempo, também é possível ver como o retorno excedente, pequeno, mas incremental, se compõe”, conta Manuel Arroyo. O target de geração de alfa é de 0,75% anual nas estratégias de ações globais ou europeias e de 0,6% na que acompanha o S&P 500.

Conforme explica, a equipa assegura que a maior parte do orçamento de tracking error é dominado pelos insights específicos das ações da equipa de research. “As nossas carteiras REI são orientadas por centenas de visões ativas de ações, o que, na nossa opinião, lhe confere uma grande consistência e repetibilidade ao longo do tempo. O foco no controlo de risco e na construção de carteiras mantém o tracking error controlado e, como resultado, produz rácios de informação elevados”, explica.

A primeira gama de ETF Research Enhanced Index, lançada em 2018, utiliza índices de referência padrão, mas inclui agora também dois ETF de ações desta gama classificados como artigo 9.⁠º do SFDR, que utilizam índices de referência MSCI personalizados e seguem uma abordagem best in class, segundo nos conta Manuel Arroyo.

Ativos nas obrigações

Ao contrário da J.P. Morgan AM, a PIMCO, como grande casa gestora ativa de obrigações, tem uma oferta completamente orientada para esta classe de ativos. “A PIMCO é essencialmente uma gestora ativa de obrigações, tirando partido das maiores ineficiências existentes nas obrigações em comparação com as ações. Embora a gestão dos nossos ETF seja influenciada por vários fatores, incluindo as condições de mercado, está fundamentalmente alinhada com a nossa abordagem à gestão de fundos de investimento ativos”, diz o responsável da PIMCO Ibéria, Juanma Jiménez. O processo de investimento, conta, é consistente em todas as plataformas da gestora, “combinando conhecimentos macroeconómicos com uma análise detalhada bottom-up”, mas beneficiando de um grande foco na eficiência da negociação e gestão das carteiras dos ETF, como explica.

Com estratégias baseadas em benchmarks padrão, a entidade oferece “uma vasta gama de estratégias de rendimento fixo num invólucro de ETF ativo adaptada para satisfazer as necessidades específicas dos clientes, desde liquidez de curto prazo a obrigações corporativas de baixa duração”. Os objetivos de tracking error e active share variam entre as diferentes estratégias, sendo que passam por “proporcionar uma combinação de alfa e retornos ajustados ao risco, em comparação com o índice de referência e outras opções no mercado”, acrescenta Juanma Jiménez.

Melhor de dois mundos

Já a Fidelity International, na voz de Domingo Barroso, diretor de Vendas de ETF e Indexados na entidade gestora, define a sua oferta de ETF ativos como enquadrada “entre os extremos da gestão ativa e da gestão puramente passiva”. Segundo nos conta, a oferta apoia-se no trabalho da equipa de research global da Fidelity International, bem como na ferramenta tecnológica proprietária de otimização de carteiras com o nome de Fidelity Optimus e gerida pela equipa de investimento sistemático da Fidelity International.

A oferta inclui soluções de rendimento fixo de ações. Por um lado, as gamas de ações Fidelity Quality Income e Thematic ETF são trackers passivos customizados que procuram replicar o desempenho de índices próprios da entidade gestora. Os próprios índices são “criados com base na visão ativa e prospetiva” das equipas de research especializadas espalhadas pelo mundo, indica Domingo Barroso. Estes ETF “utilizam processos de seleção de ações e de construção de carteiras baseados em regras para proporcionar exposição a empresas com caraterísticas específicas”, expõe.

Por outro lado, Domingo Barroso explica que as gamas de ETF ativos Fidelity Sustainable Research Enhanced Equity e Sustainable Fixed Income são construídas de forma sistemática. “Isto significa assumir um índice de referência, como o MSCI World Index, ou o Solactive Paris Aligned Global Corporate Index, que define o universo de investimento e aplica processos sistemáticos de seleção de investimentos ativos e de construção de carteiras que tiram partido dos sinais provenientes do research proprietário da Fidelity, para constituir carteiras e geri-las numa base contínua”. Finalmente, no que concerne os objetivos de geração de alfa, apenas a gama Fidelity Sustainable Research Equity Enhanced tem um objetivo concreto de 1% anualmente acima do benchmark, durante um período de cinco anos. Para as outras gamas de ETF, o objetivo é proporcionar retornos positivos em relação ao índice de referência.

Essencialmente, falamos já de uma oferta relativamente diversificada no campo dos ETF ativos europeus, e que dá aos investidores a possibilidade de manter uma proximidade com o benchmark, a baixo custo e com um cheirinho a alfa. Novos desafios se impõem a quem seleciona estes veículos para construir carteiras. Já não basta escolher um benchmark e o produto que melhor o segue. O alfa entra em jogo no mundo dos ETF.