O mercado pediu e o Banco Central Europeu cumpriu. Inclusive com mais firmeza do que muitos esperavam. Na reunião de quinta-feira, 7 de março, o BCE anunciou uma bateria de medidas mais em linha com a debilidade económica de 2019, reiterou que vão continuar a reinvestir os ativos comprados através do QE e vão iniciar uma nova ronda de financiamento na banca – o TLTRO III – o que dará liquidez ao sector desde setembro deste ano até março 2021. Assim, Mario Draghi será o primeiro presidente de um banco central a terminar o seu mandato sem ter subido uma única vez as taxas de juro. Será suficiente para acalmar os mercados? As gestoras internacionais não têm a certeza.
De momento a reação inicial foi “decepcionante”, como o define David Riley, estrega chefe de investimentos da BlueBay Asset Management. As obrigações do governo europeu subiram com força mas as bolsas, incluindo as ações de bancos, caíram e o euro ficou modestamente debilitado. “Parece que os investidores se estão a centrar mais na substancial mas realista degradação das previsões do BCE para o crescimento da zona Euro”, aponta Riley. Dos 1,7% que geriam em dezembro, agora contempla-se um crescimento de 1,1% para este ano. “Os mercados temem que apesar de Draghi falar de regulamentação, a realidade é que o BCE tem munição monetária limitada para contrariar os riscos enquanto a zona euro é incapaz de dar uma resposta fiscal coordenada”, acrescenta.
A firmeza da decisão do BCE de adotar um tom mais dovish surpreendeu muita gente. Tal e como comentávamos num artigo recente, as gestoras achavam muito provável – e quase obrigatório – uma nova ronda de TLTRO, mas a maioria falava de uma primeira pista na reunião de março e, talvez, planos mais concretos na de abril. “Isto certamente vai mais além do que a maioria de nós pensava que o BCE ia fazer”, comenta Paul Diggle, economista senior da Aberdeen Standard Investments. “Neste momento, o BCE está a ponto de admitir que a economia europeia enfrentará ventos fortes nos próximos meses. Os mercados vão animar a resposta com a venda do euro e a recuperaçãoo da rentabilidade das obrigações e dos mercados de ações”.
A reunião de hoje põe o BCE em linha com o dovish de outros bancos centrais do G10, como aponta Jeremy Gatto, gestor da Unigestion. Uma mudança de tom que, para o especialista, explica grande parte da recuperação das bolsas desde o arranque de 2019.
Uma leitura positiva é a de Aaron Anderson, vicepresidente senior de análise da Fisher Investments. “Os mercados gostam de ouvir que os reguladores podem ser mais flexíveis se for necessário, mas continuar com a normalização de políticas representa o caminho correto para o BCE. Os dados económicos são menos favoráveis, principalmente por causa de fatores externos que, geralmente, ficam fora de controlo do BCE. À medida que os estímulos comecem a fazer efeito na China, a Europa deveria notar a melhoria”, comenta.