Na sexta-feira da semana passada a agência de rating S&P surpreendeu o mercado com uma subida do rating da dívida da República Portuguesa para um nível investment grade, saltando um eventual passo de um upgrade do outlook. Diferentes especialistas de entidades nacionais como a IMGA, Banco Carregosa e CA Gest reconhecem nessa decisão da agência de rating uma melhoria das perspectivas de crescimento para o país e para a execução orçamental. É a opinião de Duarte José, portfolio manager de obrigações na IM Gestão de Ativos que acrescenta que “esta decisão pode por isso contribuir para atenuar o potencial impacto negativo que uma redução do programa de estímulos do ECB poderá ter ao nível da dívida pública”. Mais além, Ricardo Duarte, selecionador de fundos da CA Gest considera que este movimento “por parte da S&P vem de encontro à atual menor percepção de risco dos investidores em torno da dívida pública portuguesa”, enquanto que Filipe Silva, diretor da Gestão de Ativos no Banco carregosa destaca que “com cenário estável e com o grau de investment grade por parte da S&P, aliviamos uma grande peso da nossa dívida que estava dependente do rating da DBRS para poder ser elegível para as compras do BCE”.
Posicionamento
O impacto de tal decisão nas carteiras de investimento varia dependendo da entidade. Se por um lado, do Banco Carregosa, Filipe Silva destaca que nas suas carteiras e modelos de gestão já tinham a exposição a dívida pública que desejavam, e por isso não vão “aumentar essa exposição em virtude da subida do rating”, na IMGA, Duarte José limita o impacto às carteiras investment grade da entidade, sendo que “a dívida pública passa a ser considerado um ativo elegível para investimento”. Já Ricardo Duarte vê o impacto na alocação de ativos como marginal, “uma vez que as restantes agências mantiveram nas recentes revisões a notação de rating a nível especulativo”.
Na expectativa de mais upgrades
“A médio prazo, o outlook positivo quer da Moody’s quer da Fitch sugere que o momentum de compressão de spreads poderá manter-se, atendendo não só à escassez de títulos em mercado secundário como à entrada da dívida pública portuguesa no radar dos investidores institucionais que se encontram limitados a instrumentos investment grade”, destaca Ricardo Duarte. Neste sentido, o efeito das eventuais melhorias do rating da República por parte das outras agências poderá incrementar a compressão do prémio de risco das obrigações soberanas nacionais.
“Atualmente a mudança de rating por parte da S&P não é suficiente para que a dívida pública portuguesa passe a ser incluída nos principais índices investment grade”, resguarda Duarte José. “Com a potencial subida de Fitch ou Moodys a dívida pública portuguesa passará a ser incluída nestes índices aumentando significativamente a base de investidores, o que pode originar um estreitamento de spreads vs dívida pública de países core ou de outros países periféricos”, conclui.
Não obstante, Filipe Silva alerta: “As notações de rating não esgotam a solução para o nosso problema, é preciso reduzir e muito o montante de dívida, amortizando o mais possível”.