“O Brasil já estava preparado para a decisão da FED”

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Cedida

Os últimos anos têm sido movimentados na economia brasileira. A queda da Selic em 2011 e 2012, seguida da subida nos últimos 12 meses, a inflação alta, o sobe-e-desce vincado da bolsa brasileira, entre outros, são alguns dos aspectos que têm mexido com a maior economia da América do Sul. Joaquim Levy, atual presidente da Bradesco Asset Management (BRAM) e ex-secretário do Tesouro Nacional, falou à Funds People sobre estes e outros assuntos que estão na ordem do dia.

Grande desconto no índice

2013 foi um ano negativo para o Índice Bovespa que caiu cerca de 15,5%. Apesar do mercado continuar em ritmo descendente no começo do presente ano, Joaquim Levy acredita que o mercado dará a volta. “Para isso também contribuirá a nova metodologia de cálculo do índice, após as distorções vistas em 2013”. “Hoje temos empresas com desconto de até 50% e a bolsa está na fase que os americanos chamam de “valor”.  O nosso sentimento é de uma bolsa com preços interessantes”, explica o responsável da gestora.

O país preparou-se para o QE

Segundo Levy, o “Brasil estava preparado para a decisão da FED, com o Banco Central Brasileiro inciando o aperto monetário em abril de 2013”. Assim, “o impacto foi positivo, depois do susto inicial”. Apesar da avaliação negativa do risco Brasil por alguns analistas, o especialista destaca entre os fatores que também ajudaram o Brasil o facto do “país ter reservas internacionais equivalentes a mais de 10% do PIB ou quase 2 anos de exportações, o que relativiza o déficit da conta corrente estar em 3% do PIB”.

Infraestrutura será a chave

Há crescente consenso de que a economia não continuará crescendo apoiada apenas no consumo. O investimento em infraestrutura, essencial para aumentar o crescimento potencial do PIB, tem avançado, com o Brazil avançando em um ambicioso programa de concessões, apesar de muitos desafios. “Tem havido mais investimento em infraestruturas, mas seu financiamento exigirá novas opções via o mercado de capitais”, explica o responsável. “O importante é que há demanda não só por portos e galpões, mas por transportes urbanos e projetos que melhoram muito diretamente a vida das pessoas, o que cria apoio político para essas transformações”, complementa Joaquim.

Inflação e taxa de juro

Sobre a inflação, o gestor espera que “no final do ano o valor se fixe entre 5% e 6%. Durante o ano deve passar o teto da meta, até porque a seca tem afetado o preço dos alimentos”. No que toca à taxa de juro, o especialista acredita que “depois de subir 3 pontos percentuais ainda pode ir além, mais lentamente, até ao meio do ano”.

2014 será um ano importante

Entre a Copa e as eleições, Levy responde de forma peremptória à questão sobre o que é mais relevante para a economia brasileira: “As eleições. A Copa é mais uma festa e não tem grande implicações económicas. Neste ponto de vista, os Jogos Olímpicos serão mais importantes, sobretudo devido ao legado que deixarão na cidade sede. “As eleições serão a oportunidade para reorientar a economia no que for necessário. Já está tendo um papel fulcral na economia brasileira este ano, até pela antecipação pelos mercados de eventuais mudanças fiscais que possam ocorrer depois das eleições de outubro”, conclui.