Os gestores e analistas nacionais mostram a sua visão sobre o que esperar do resultado conhecido na sexta-feira passada no Reino Unido.
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O Brexit é uma realidade. Depois de um período longo de debate aguerrido no Reino Unido, os partidários da permanência do país insular na União Europeia não foram além dos 48% na contagem final dos votos do referendo. Para a equipa de research do BiG, o Brexit foi um cenário que desiludiu as expectativas, e está "a motivar correções muito acentuadas” nos mercados acionistas. O FTSE 100 fechou na passada sexta feira a recuar mais de 3%, o PSI-20, 6,99%, enquanto que o DAX e o CAC caíram 6,82% e 8,08%, respetivamente. Olhando para o mercado em termos sectorias, o BiG considera que “a banca está muito fragilizada, sobretudo a britânica, a espanhola e a italiana”, pelo que, para “além dos problemas específicos da banca europeia, como a fraca capitalização e a baixa rentabilidade, acresce agora a incerteza sistémica sobre o futuro da União Europeia”. “No plano político, o contágio negativo já se está a sentir, com Marine Le Pen a afirmar que deveria haver um referendo semelhante em França”, referem do BiG, acrescentando que “a Escócia deverá exigir um referendo, uma vez que vários líderes políticos assumiram no passado a vontade em permanecer na União Europeia”.
No entanto, perante a vitória do não ao Reino Unido na União Europeia, não será de esperar um rompimento agressivo da ligação. Efetivamente, “o processo de saída da UE não é imediato, pela simples razão de que ninguém sabe como é que se faz. Provavelmente terá que passar por uma negociação entre as duas partes, o que pode demorar vários meses, tal como com outros países com os quais o Reino Unido negoceia ao abrigo de acordos europeus”, explica João Pereira Leite, Diretor de Investimentos do Banco Carregosa.
O diretor de investimentos do Banco Carregosa é categórico quando diz que “o impacto na economia Inglesa é negativo, pois não só algumas empresas podem perder acesso a um mercado natural, organizado e facilitado, como poderão ter mesmo que deslocar atividades para fora do Reino Unido” com especial impacto no sector financeiro, já que “uma saída da EU pode precipitar uma perda de acessos dos serviços financeiros ingleses à Zona Euro”. De acordo, está Diogo Teixeira, administrador da Optimize Investment Partners, que acredita que “se os efeitos a médio prazo sobre o PIB e o emprego são difíceis de quantificar, dado a variedade de desfechos negociais que podem surgir do processo de saída, os efeitos a curto prazo serão claramente recessivos. Para além do efeito sobre o investimento, é fácil de antecipar uma espiral de antecipações negativas, com os riscos que pesam sobre o emprego, nomeadamente no sector financeiro, a gerarem uma retração do consumo privado que por sua vez irá pressionar muitos sectores da economia”.
João Pereira Leite destaca ainda o défice das contas correntes na ordem dos 7%, que “é compensado, em parte, pelo investimento externo” e Diogo Teixeira, focando na mesma questão, destaca que a “saída da UE significa um congelamento dos fluxos de investimento que têm compensado esse défice” bem como “uma reduzida margem de manobra do Banco de Inglaterra para compensar os efeitos recessivos dessa queda do investimento”.
Mercados
Relativamente à reação dos mercados financeiros, “podemos antever um período de forte aversão ao risco nos mercados financeiros”, nomeadamente com ações em queda e “spreads” de crédito a alargar, relata Ricardo Silva, membro da equipa de gestão de ativos da CA Gest. A opinião de João Pereira Leite está em consonância e considera, adicionalmente, “devemos estar preparados para uma queda das ações inglesas e europeias”, já que “cerca de 17% das receitas de empresas cotadas no Reino Unido têm origem na UE – com especial destaque para as operadoras aéreas e para as financeiras – o que, com o Reino Unido fora da União Europeia e a ser tratado como ‘país terceiro’ altera as condições em que exercem a atividade”. Diogo Teixeira antecipou mesmo a reação que estamos a ver nos mercados, destacando que bastava “olhar para a reação dos mercados europeus às variações das probabilidades de Brexit para antever o que poderia acontecer no dia seguinte ao voto”, antecipando mesmo “uma correção de cerca de 10% das ações europeias em poucos dias”.
João Pereira Leite salienta o provável “acentuar do já previsível abrandamento económico” e o eventual impacto nas contas públicas. No entanto, o profissional considera que a desvalorização da libra “pode revelar-se muito conveniente, pois pode ajudar nas contas externas”.