O código postal ainda importa para os bancos europeus

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morberg, Flickr, Creative Commons

Com a resolução do Banco Popular em Espanha e dos dois bancos Veneto em itália, bem como as recapitalização preventiva do Monte dei Paschi, as questões mais urgentes aparentam estar resolvidas, por agora”. É como Tiago Parente, analista sénior de crédito na Fidelity International, em entrevista à Funds People, descreve o atual contexto bancário na Europa. No entanto, apesar deste relativo optimismo, o profissional aponta “pockets of weakness”, que persistem em alguns mercados como Itália, Portugal ou Alemanha, que poderão “requerer estratégias de resolução”, embora as melhores condições operacionais possam “providenciar algum espaço para que os bancos mais fracos possam respirar".

A mais longo-prazo, o analista salienta “indicações de que a Comissão Europeia e o BCE estão a procurar acelerar o processo de tratamento dos ‘non-performing assets’, nomeadamente durante os próximos dois anos. Durante este período, os bancos terão que acelerar a emissão de instrumentos MREL (Minimum Requirement for own funds and Eligible Liabilities) e os bancos mais fracos poderão enfrentar dificuldades no acesso ao mercado. Esta agenda, se não for gerida com cuidado, poderá levar a adicionais falências de bancos”. Não obstante, para Tiago Parente, a atividade de fusões e aquisições deverá também acelerar, “permitindo que algumas instituições mais pequenas e fracas sejam absorvidas por bancos mais fortes antes que o Single Resolution Board (SRB) seja chamado a intervir”.

Oportunidades no mercado

A política monetária tem tido um efeito de estímulo da procura por crédito e da propensão dos bancos a satisfazer essa procura. No entanto, numa fase inicial, a qualidade dessa procura não tem sido a ideal, já que tomou a forma de crédito ao consumo e recurso a linhas de crédito por parte das pequenas e médias empresas, enquanto a concessão de crédito de longo prazo para investimento se manteve fraca. Com o crescimento económico a recuperar nos trimestres recentes, vemos finalmente sinais de que este mix começa a melhorar.  Estamos razoavelmente confiantes que as condições na Zona Euro vão continuar a suportar a aceleração nos volumes de crédito bancário”, justifica assim, Tiago Parente, a atratividade da dívida do sector bancário, num contexto de mercado em que as yields na grande parte dos segmentos de obrigações estão significativamente comprimidas.

Tiago_ParenteEspecialmente positivo em dívida híbrida de bancos europeus (Aditional Tier 1 - AT1), mais conhecida por CoCos, dívida subordinada (Lower Tier 2 – LT2) e obrigações subordinadas do sector segurador, o especialista aponta que “um progressivo aumento das taxas de juro é um cenário que impactará positivamente os resultados tanto dos bancos como das seguradoras e ajudará a dissipar as dúvidas que ainda existem acerca da viabilidade de determinados modelos de negócio num cenário prolongado de baixas taxas de juro”. Para Tiago Parente, uma progressiva recuperação económica do sector bancário europeu, a incerteza regulatória que gradualmente se dissipa e as valuations atrativas em comparação com o sector não financeiro fazem da dívida bancária um ativo interessante. Por outro lado, a dívida subordinada do sector segurador deverá beneficiar da menor volatilidade estrutural do modelo de negócio, das pressões modestas do lado da oferta e do comportamento ‘bondholder-friendly’ dos emitentes no que se refere ao pagamento de cupões e refinanciamento.

No entanto, “há que destacar que a performance year-to-date destes sectores tem sido muito forte e nós tornamo-nos mais seletivos”, destaca o especialista acrescentando que acredita que “a seleção de emitentes vais continuar a ter um papel importante, como o demonstrou a resolução do Banco Popular, especialmente num contexto em que os investidores enfrentam um risco real de serem chamados a absorver perdas nos segmentos mais subordinados da estrutura de capital dos bancos”. No entanto, o analista alerta: “À medida que as taxas de juro sobrem, os ativos AT1 poderão de transacionar com vista à primeira call date e começar a transacionar com base na perpetuidade e episódios recentes demonstraram que isso poderá ter um impacto rápido e negativo nos preços desses ativos, que os investidores têm que acautelar”.

Desafios do investimento nos mercados de crédito do sector financeiro

Alguns dos principais desafios relacionam-se com o contexto regulatório e de supervisão que tem ainda que estabilizar, tanto na Europa como a nível global. Isto pode levar a períodos de maior volatilidade nos mercados e os investidores e analistas têm dificuldade em interpretar a miríade de iniciativas regulatórias, bem como perceber a função de reação da supervisão”, descreve Tiago Parente. Por outro lado, o analista de crédito considera que a visibilidade tem aumentado ao longo dos últimos 18 meses na Europa, quando vemos as “instituições da união bancária gradualmente a estabilizarem e o mercado de capital exigido pela regulação e de instrumentos ‘bailinable’ melhor estabelecidos”. Mas não deixa de apontar o risco político como um dos maiores desafios, “particularmente no contexto da Zona Euro, onde há ainda que fortalecer o sector bancário e o respectivo governance para conter o nexo soberano-bancário que levou a pressões em baixa auto infligidas como aconteceram em 2011 e 2012 em particular”. O profissional conclui: “Enquanto este trabalho estiver a progredir o código postal ainda vai importar para os bancos europeus”.