O comércio eletrónico é realmente tão ISR como pensamos?

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CGP Grey, Flickr, Creative Commons

O debate sobre o futuro do setor retalhista prossegue, ainda que a fronteira entre o comércio de retalho físico, nas ruas, e as compras eletrónicas esteja a diminuir. O comércio eletrónico representa já cerca de 8,7% das vendas de retalho mundiais e espera-se que venha a alcançar os 15% até 2020. Entretanto, os pesos pesados da eletrónica apressaram-se a proclamar as credênciais ecológicas e os critérios ambientais, sociais e de governo corporativo (ASG) dos seus modelos de negócio. No entanto, as soluções sustentáveis no setor de retalho são mais complexas do que parecem à primeira vista.

Wim Van Hyfte, responsável global de análise em investimentos responsáveis da Candriam, entende o comércio eletrónico como uma inovação disruptiva e que a desmaterialização pode vir a ser um poderoso catalisador no boom da transição para a energia limpa. Segundo revela o MIT Center for Transportation & Logistics, o uso das emissões de carbono de alcance 1 até alcance 3 é uma forma eficaz de comparar o impacto ambiental dos negócios eletrónicos e físicos. “Ao racionalizar a logística e os fluxos de transporte, o comércio eletrónico constitui uma verdadeira oportunidade para enfrentar os desafios ambientais, em particular as soluções relativas às alterações climáticas que são exigidas pelo Objetivo 13 de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas”, afirma o especialista.

Segundo Van Hyfte, os benefícios ambientais mais evidentes das compras eletrónicas são as economias de energia e recursos. “A desmaterialização da distribuição tradicional elimina as emissões de veículos privados, que constituem cerca de dois terços das emissões totais do ato de compra tradicional. Pode-se argumentar que a entrega continua a produzir emissões, mas estima-se que a entrega de pedidos por operadoras desta natureza consuma 24 vezes menos energia do que os clientes, que utilizam os seus próprios carros. Reduz também os stocks das empresas, os resíduos e a energias necessárias para iluminar e suportar as lojas físicas”.

A Candriam concede um bónus aos valores do comércio puramente eletrónico na sua análise macro na procura pelo melhor valor de cada categoria. Por exemplo, as agências de viagens eletrónicas promovem indiretamente o turismo de massas, que tem um impacto ambiental significativo, o que acarreta uma nota muito negativa na sua valorização em termos de alterações climáticas. No entanto, sendo empresas eletrónicas, concedem um bónus ao seu modelo de negócio de comércio eletrónico, o que melhora a sua nota final.

Mas nem os modelos de negócio presenciais nem os eletrónicos estão isentos de carbono. Para o comércio de retalho presencial, o transporte é a maior fonte de emissões (80%), já para o comércio eletrónico a embalagem é a principal componente (65%). Ainda que o comércio eletrónico seja menos intensivo na emissão de carbono do que as compras de rua, vários fatores podem prejudicar as suas credencias ambientais. Entre eles figuram a questão de como e onde os clientes escolhem comprar, as formas de entrega (envio urgente ou aéreo) ou entregas falhadas, devoluções, a frequência de compra e o agrupamento dos envios, o uso de embalagens não recicláveis e o consumo de energia de grandes redes de dados e logística.

Segundo Van Hyfte, mais do que o dilema entre o físico e o eletrónico, o modelo mais sustentável é a combinação de lojas físicas e serviços eletrónicos porque, segundo o especialista, tende a ter uma menor emissão de dióxido de carbono e melhora a experiência do cliente.