Segundo explicam na Fidelity, o posicionamento longo em dívida pública está a massificar-se e, ao mesmo tempo, a escassez de alguns dos mercados mais líquidos está a aumentar.
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Durante muito tempo, a dívida pública foi considerada como uma ativo seguro que praticamente garantia aos investidores a taxa de rentabilidade sem risco. Mas o que ocorre quando investir nestes ativos seguros já não é rentável e escasseiam ativos? Nesta situação os bancos centrais podem ver-se em dificuldades, já que a oferta e a procura parecem estar cada vez mais desequilibradas. O ajustamento aplicado recentemente pelo Banco do Japão na sua política monetária poderá indicar que as autoridades estão a ter em consideração esta circunstância nos seus planos. Agora que 10,2 biliões de dólares em obrigações oferecem rentabilidades negativas ou estão nas mãos dos bancos centrais, a pressão em baixa das rentabilidades poderá ser menos pronunciada. Mais além dos argumentos técnicos, mantêm-se as condições estruturais que sustêm as perspetivas de umas taxas de juro mais baixas durante mais tempo.
Segundo explicam da Fidelity, o posicionamento longo em dívida pública está a massificar-se. “Os investidores em ativos seguros estão a encontrar cada vez maiores dificuldades para investir em ativos com rentabilidades positivas, já que a proporção destes ativos no mercado está contrair. Em todo o mundo, os ativos seguros ascendem a 27,3 biliões de dólares, uma cifra que tem crescido à medida que os governos redobraram as suas emissões para financiar o aumento do défice público. Se excluirmos todas as obrigações nas mãos de bancos centrais ou com taxas negativas, ficamos com um conjunto em torno dos 17,1 biliões de dólares (ou 63% da classe de ativos) em investimentos seguros com yields positivas disponíveis.
Ao mesmo tempo, a procura por ativos seguros tem aumentado em consequência das restrições que têm imposto as autoridades aos bancos e seguradoras, assim como a aversão geral ao risco. A consequência dos importantes programas de flexibilização quantitativa desenvolvidos pelos bancos centrais, o conjunto de ativos seguros disponíveis está a contrair rapidamente.
Aumenta a escassez em alguns dos mercados mais líquidos
A dívida pública dos países desenvolvidos é um dos ativos mais líquidos do mercado, devido em parte aos enormes volumes em circulação e também pela elevada probabilidade dos emitentes saldarem as suas dívidas. Com o QE, os bancos centrais alteraram gravemente o equilíbrio entre a procura e oferta. Como consequência, as rentabilidades desceram abaixo dos níveis observados durante a Grande Depressão e as duas guerras mundiais, e 37% da dívida pública dos mercados desenvolvidos paga yields negativas. Os analistas e a imprensa estão há muito tempo a alertar que este desequilíbrio poderá estar a dar lugar a uma escassez e as suas inquietações acentuaram-se durante o verão.
O programa de flexibilidade quantitativa do BCE termina no final de março de 2017, mas pode ampliar-se. Mario Draghi assinalou que as compras mensais de ativos de 80.000 milhões de euros estão previstas continuar até finais de março de 2017, ou mais se for necessário. Prolongar o QE aumenta a falha entre a oferta e a procura no mercado. A escassez poderá agravar-se em resultado das obrigações regulatórias e de conciliaçãoode passivos que afetam a procura de dívida pública por parte dos fundos monetários e das seguradoras. A aversão ao risco dos investidores no clima atual também não beneficia a equação, o que contribui para converter os ativos livres de risco em ativos livres de rentabilidade. Se se avizinhar uma crise de escassez, como poderão responder as autoridades?
Segundo a Fidelity, os bancos centrais do Japão e da Europa têm várias opções perante uma falta de ativos para aquisição. Uma é reduzir esses estímulos quantitativos. Esta medida poderá provocar uma reedição do taper tantrum de 2013, quando as rentabilidades dispararam ao aparecerem sinais de que a Fed iria reduzir o seu programa quantitativo. Dado o nível de duration das obrigações, reduzir os programas quantitativos poderá causar danos nos preços.
Os governos também poderão recorrer aos gastos públicos para impulsionar o crescimento económico. Se os governos emitirem dívida para financiar os défices orçamentais, aumentaria a oferta de obrigações e os bancos centrais poderiam manter os seus programas. Estas medidas poderiam também contribuir para estimular o crescimento e a inflação, facilitando assim o trabalho dos bancos centrais e inclusivamente, reduzir a magnitude dos estímulos quantitativos necessários. No entanto, a política orçamental tem os seus inconvenientes e no caso do Japão, os estímulos dos últimos vinte anos pouco impactaram a inflação.
As recentes medidas de política monetária aprovadas pelo Banco do Japão sugerem que a escassez de obrigações poderá ser uma realidade e que os bancos centrais estão a considerar a hipótese. “O BCE não enfrenta o mesmo nível de tensão por falta de obrigações que o Banco do Japão, mas têm aparecido sinais de que estas pressões estão a aumentar. Se o BCE decidir ampliar o seu programa quantitativo mais além de março de 2017, aumentariam as probabilidades de um problema de escassez no mercado europeu de obrigações. Com os olhos nestas inquietações, os bancos centrais poderão considerar políticas de estímulo alternativas. Se o argumento da escassez influir nas políticas monetárias, poderá reduzir a pressão em baixa sobre as rentabilidades a curto e médio prazo. No entanto, a longo prazo, os efeitos das forças estruturais atuarão como um stop perante um possível aumento das rentabilidades”.