O mercado britânico responde positivamente à demissão de Truss

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Créditos: Eva Dang (Unsplash)

Após apenas 45 dias no cargo, Liz Truss terminou o seu desastroso mandato, demitindo-se após perder o apoio do seu partido. Torna-se assim na primeira-ministra com o menor mandato na história do Reino Unido. Para os investidores, a demissão de Truss já era esperada. A sua visão liberal a favor de impostos mais baixos após o Brexit chocou com as forças da realidade e com os mercados. Os investidores não estavam dispostos a permitir que o país se endividasse em centenas de milhares de milhões de libras num momento em que as taxas de juro estão a subir.

Libra e gilts em ascensão 

“De momento, os investidores responderam positivamente à demissão. A libra esterlina subiu tanto em relação ao dólar como ao euro, enquanto os gilts de referência a 10 e 30 anos viram as suas yields baixar (os preços subiram), e superaram outras obrigações do Estado no dia. No entanto, continuam a existir desafios importantes para o Reino Unido, incluindo como o Banco de Inglaterra responde a este período de caos enquanto tenta reduzir a inflação, que no mês passado atingiu o seu máximo em 40 anos”, explica Azad Zangana, economista e estratega sénior para a Europa na Schroders.

Taxas em crescimento no Reino Unido, mas…

Segundo Scott Service, gestor de carteiras e codiretor de obrigações globais na Loomis Sayles (Natixis IM), os mercados estão agora no comando. “Embora se tenha recuperado uma certa estabilidade após a mudança de rumo da política fiscal, não é fácil chegar a acordo sobre a melhor forma de atuar para controlar a inflação sem sufocar a economia. O mercado prevê atualmente um aumento significativo das taxas de juro durante o próximo ano, uma vez que os custos da energia continuam elevados e os mercados de trabalho continuam bastante ajustados”, assinala o especialista.

Contudo, hoje mesmo, o vice-presidente do Banco de Inglaterra disse acreditar que as taxas não devem subir tanto como os investidores esperam, uma vez que o abrandamento da procura deve ajudar a fazer frente à inflação. “Veremos. Esperemos que o Banco de Inglaterra não se encontre entre a espada e a parede”, avisa Service.

Sobre o que acontece a seguir em termos de política fiscal e orçamental é uma incógnita. “Teremos de esperar pela nomeação do seu sucessor no próximo dia 28 de outubro”, afirma Marie de Leyssac, gestora de Fundos Multiativos & Overlay na Edmond de Rothschild Asset Management.

Não haverá impacto económico material a curto prazo

Apesar das importantes implicações políticas dos acontecimentos, Modupe Adegbembo, economista na AXA Investment Managers, não acredita que a saída de Truss de Downing Street tenha um impacto económico material a curto prazo. “O atual curso da política fiscal parece que vai continuar, uma vez que o ministro Jeremy Hunt se excluiu e espera-se que o orçamento tenha lugar a 31 de outubro, pelo que esperamos que o Governo do Reino Unido se mantenha no caminho mais comprovado da ortodoxia fiscal”.

A médio prazo, o especialista recorda que ainda falta resolver questões mais amplas relacionadas com experiências anteriores que ignoraram as realidades económicas, entre elas abordar o protocolo da Irlanda do Norte e concretizar o Brexit. “Mas, por agora, as yields dos gilts a 10 e 30 anos baixaram devido à evolução dos acontecimentos do dia”, conclui.