O mercado desconta o fim das subidas do BCE: primeiras reações das gestoras internacionais

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A senda da política monetária mais restritiva continua na Europa. Agora a um ritmo mais agresssivo do que do outro lado do Atlântico. O Banco Central também cumpriu com o guião. Subiu as taxas de juro em 50 pontos base e deixou quase por escrito uma subida mais, de igual proporção, no encontro de março. Mas o tom de Christine Lagarde foi bastante mais hawkish (restritivo) do que o seu homólogo norte-americano Jerome Powell.

No entanto, a reação do mercado às reuniões de ambos os bancos centrais foi a mesma. Tanto o rendimento fixo como as ações dão quase por terminado este ciclo de subida de taxas. Assim, aquando da redação destas linhas os principais índices europeus e norte-americanos movem-se com subidas superiores a 1%. O Nasdaq 100 inclusive chega aos 3% em subida, na sessão. As obrigações também reagem positivamente.

Fim do jogo

Do discurso de Lagarde podem, na verdade, retirar-se muitas conclusões. "O pré-compromisso da linha dura dilui-se com a declaração de que o Conselho reavaliará o caminho das taxas na reunião de março e a reiteração da dependência dos dados", recorda Ana Stupnytska, macroeconomista global da Fidelity International. A conferência de imprensa posterior não ajudou ao discurso hawkish do BCE. A presidente Lagarde deu continuidade a estas mensagens excessivamente complicadas na conferência de imprensa, na qual declarou que os riscos para as perspetivas de inflação se equilibraram mais, fazendo um maior fincapé em manter o rumo, em contraste com o tom abertamente agressivo que vimos na conferência de imprensa de dezembro", destaca a especialista. Por isso, os mercados de obrigações ignoraram as tentativas hawkish, concentrando-se no ponto final das subidas, que parece próximo, para pressionar as yields em baixa.

O final do jogo parece estar à vista e os mercados já se aperceberam”, concorda Dave Chappell, gestor sénior na Columbia Threadneedle Investments. Embora a reunião de março pareça bloqueada em 50 pontos base, as condições globais podem ser muito diferentes quando o comité se juntar em meados de junho. “O BCE pode ficar sozinho, levando a política monetária mais além do território restritivo”, avisa.

Um erro na política monetária?

Especialista como Jamie Niven, gestor da Candriam, estão preocupados com a possibilidade de o BCE cometer um erro de política monetária. “Embora a inflação continue muito acima do objetivo e os resultados de crescimento sejam inequivocamente mais positivos do que há dois meses, com a evolução dos preços do gás e a reabertura da China a proporcionar claros ventos favoráveis, o ciclo de subidas tem sido agressivo na Europa (inclusive mais agressivo do que a Fed em termos de ritmo de subidas de taxas, apesar de uma data de início mais tardia)”, explica. A sua preocupação é que o atraso na transmissão da política monetária provoque um crescimento mais fraco no segundo semestre de 2023.

Na reunião de março, o BCE também deu mais detalhes sobre o funcionamento do endurecimento quantitativo (QT). O BCE irá reduzir o seu balanço em 15.000 milhões de euros por mês, equivalendo a aproximadamente metade do ritmo natural de vencimento da carteira. Continuarão os reinvestimentos parciais, com uma nova tendência nos reinvestimentos de obrigações corporativas para emitentes com um melhor comportamento climático. “Este pequeno detalhe pode acabar por ser a parte mais importante da decisão de fevereiro, porque é o primeiro passo concreto no uso do balanço do BCE para promover os objetivos climáticos”, analisa Paul Diggle, economista responsável adjunto da abrdn.