O não ao green washing e à rotulagem indevida de fundos ESG no mercado

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Em termos globais, a Allianz Global Investors gere aproximadamente 500 mil milhões de euros, dos quais apenas cerca de 30 mil milhões são referentes a estratégias totalmente dedicadas a ISR, o que em termos percentuais significa menos de 10%. Um valor demasiado pequeno? Steffen Hörter, diretor global de ESG da  Allianz Global Investors, em conversa com a Funds People Portugal nos escritórios da entidade em Frankfurt, justifica este rácio com a especificidade deste tipo de estratégias. “Não é que não existam clientes para este tipo de estratégias, mas vemos que no retalho B2B existe um interesse crescente. Este tipo de produtos não vai ao encontro das preferência de todos os nossos investidores e clientes”, diz. Contudo, para o profissional uma coisa é certa: “O ISR é um plus que vem com o investimento” e, por isso, “não existe mercado para fundos que não apresentem performance, seja qual for o nome deles”.

“Inovation is the new kid on the block”. É difícil arranjar a tradução certa em português para o que Steffen Hörter quer expressar, mas, basicamente, o especialista está convicto de que muito está por vir na área de ISR. Da casa, a novidade aparece, por exemplo, com a adição à oferta de uma estratégia de dívida de mercados emergentes ISR. “É interessante porque acaba por ser uma inovação, já que não se refere a uma estratégia corporate. Tratar-se-á de uma seleção positiva de emitentes soberanos, com o gestor a selecionar os emitentes mais bem classificados ou com melhor rating em termos ESG”, conta.

100% ISR

O que Steffen Hörter tenta ao máximo fazer no seu discurso é descolar-se da “onda verde” do mercado. “Não gostamos do green washing e da rotulagem indevida de fundos que vemos no mercado. Somos conservadores, no sentido em que não renomeamos um fundo ou criamos alguma espécie de história que cause impacto no que toca ao ISR. Queremos sim apresentar um processo sólido e estrito na área de ISR”, sentencia. É neste sentido que vê a indústria a evoluir. “Na Europa, e provavelmente também em Portugal, iremos assistir a um maior escrutínio no mercado relativamente a este tema. Os gestores de ativos irão ser desafiados ao nível da solidez dos seus produtos ISR”, prevê. No caso da Allianz GI, acrescenta, o que fazem é estar “100% certos de que aquele é um produto ISR” se assim o denominam.

Uma nuance que, neste campo, os diferencia de outras casas gestoras tem a ver com os ratings ISR. “No nosso caso, temos um rating proprietário que deriva de fornecedores de dados externos. O que vemos no mercado é que a maioria dos players não desenvolve o seu próprio modelo de rating e compra de outros provedores”, apresenta, referindo que no caso da Allianz GI o seu posicionamento é de “não confiar em ratings ESG de terceiros”. Porquê? Em primeiro lugar o diretor da entidade salienta que a “metodologia de cada provedor difere bastante. Desta forma, quando uma entidade muda de provider, obtém um portefólio completamente distinto. “Isto para mim é algo um pouco assustador. Um gestor que diz que o Sustainalytics é muito caro e que, por isso, vai mudar para a Bloomberg, obterá uma carteira muito distinta. A mim não me faz sentido comprar um fundo deste género”.
Tudo o referido anteriormente conduz ao que o especialista conta em seguida: na Allianz GI existe uma equipa completamente dedicada ao ESG, atualmente com nove pessoas. “Acreditamos que apenas a partir da gestão ativa podemos desencadear uma performance por inteiro nos nossos portefólios ESG. Nesta área, se queremos aceder à parte de sustentabilidade de uma empresa ou sector as coisas são opacas e, por isso, precisamos de um processo fundamental profundo”, atesta.
Futuro

O know-how de Steffen Hörter não está confinado às paredes da Allianz GI, e recentemente foi mesmo nomeado membro de grupo de peritos em Finanças Sustentáveis da Comissão Europeia, o que faz da Allianz GI parte integrante de um grupo de especialistas técnicos que aconselham a União Europeia nestas temáticas.

Esse envolvimento permite-lhe, também, estar alerta sobre o que o futuro da temática reserva nos próximos meses, e à Funds People contou precisamente dois desses avanços. Já no próximo ano, um “financial advisor na União Europeia terá, em contexto de venda de um produto, de perguntar ao cliente, como parte do teste de adequabilidade, se este tem uma preferência de sustentabilidade pelo produto em causa”. A este propósito relembra o estudo levado a cabo pela Allianz GI recentemente, onde 2/3 dos clientes – 72% dos inquiridos – confirmam que efetivamente querem ter uma caraterística de sustentabilidade num fundo de investimento. “Isto significa que, de facto, os fundos ESG são mainstream”.

Também no próximo ano, avançou o especialista, vai passar a ser uma realidade a obrigação dos gestores de ativos reportarem muito mais sobre a componente ESG em termos transversais à sua oferta de fundos. “Esta é a forma de União Europeia promover a transparência no mercado no que respeita ao ESG, requerendo mais divulgação sobre uma diversidade de tópicos, tais como ratings, relatórios sobre pegada ambiental, riscos, entre outros”, conclui.