O ouro ganha protagonismo nas carteiras face ao aumentos das obrigações com rentabilidade negativa

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O medo de que a volatilidade regresse ao mercado em força na segunda metade do ano, o medo de que se intensifiquem as tensões comerciais entre os EUA e a China com o negativo impacto que isso possa ter na economia mundial e, sobretudo, a nova mudança acomodatícia dos bancos centrais que no mercado de obrigações acarreta rentabilidades cada vez mais baixas, negativas até. São talvez as três razões que estão por detrás do facto de cada vez mais investidores optem por incluir ouro nas suas carteiras. Incluindo o próprio Ray Dalio, presidente da Bridgewater, o maior hedge fund do mundo, referia há uns dias que o ouro será o grande investimento perante a “mudança de paradigma dos mercados”.

À falta de saber se se cumpre ou não essa previsão, o certo é que atualmente o que conseguiu o ouro foi situar-se no topo dos mercados no que à rentabilidade diz respeito. De facto, segundo dados da Morningstar, a categoria de fundos sectoriais de ouro (inclui tanto os que investem na matéria prima em si como os que o fazem em mineiras) substituiu a categoria de ações russas como a mais rentável do ano ao ganhar 34% em média.

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Esse bom comportamento do metal foi acompanhado de um forte aumento da procura por produtos negociados que replicam o comportamento do metal amarelo já que, segundo os recentes dados publicados pela BlackRock, no mês de junho os ETF de ouro receberam subscrições líquidas no valor de 2.500 milhões de dólares, o melhor dado desde fevereiro de 2016. Com este número já são 3.800 os milhões de dólares que estes produtos receberam em 2019, um dado que supera amplamente os 2.900 milhões que receberam durante todo o ano de 2018.

“Um fator importante que contribuiu para o recente rally é que se restaurou a sincronização com as taxas de juro reais dos EUA. No último ano, a yield dos treasuries ligados à inflação a cinco anos passou de 1,15% para 0,17%. Como resultado, o custo de oportunidade de investir em ouro foi reduzida substancialmente. Além disso, a recente e inesperada mudança acomodatícia do BCE e da Fed ajudou a garantir que esse custo de oportunidade continuará a ser baixa num futuro próximo”, afirmam na DWS, gestora de um dos três fundos que mais beneficiou com o aumento do metal; o DWS Invest Gold and Precious Metals Equities USD TFC, teve este ano uma rentabilidade de 38,12%.

É preciso ter em conta que essa mudança acomodatícia dos bancos centrais está a aumentar consideravelmente o mercado de obrigações que negoceia já com rentabilidade negativas (calcula-se que esta alcance já os 20 biliões de dólares), o que obriga os investidores a procurar alternativas a esses ativos seguros cuja rentabilidade continuará previsivelmente em baixa se os bancos centrais cumprirem com o que prevê o mercado e anunciem novas descidas de taxas e/ou novos programas de estímulos monetários.

De facto, na Wisdom Tree preveem que o ouro “alcançará os 1.480 dólares durante o terceiro trimestre do ano quando se cumprirem uma série de cenários que acompanhem essa subida como as yields da dívida dos EUA e o dólar manterem-se nos níveis atuais, que a inflação nos EUA alcance os 2%, algo muito provável se se mantiver a subida do preço do crude, ou que ressurjam riscos geopolíticos que voltem a impactar negativamente o sentimento dos investidores e nos ativos de risco”.

Esta última é precisamente a razão pela qual as gestoras como a Schroders, que conta com o segundo melhor fundo da categoria de ouro este ano (Schroder International Selection Fund Global Gold C Acc USD, com mais de 40% de rentabilidade em 2019) optaram por melhorar a sua expectativa sobre o ouro como deixou patente nas suas perspetivas para o segundo semestre do ano. “Desde o passado trimestre que melhoramos pela positiva a nossa posição sobre o ouro à medida que cresceram os riscos para crescimento económico global, considerando que se intensificaram as tensões geopolíticas. A mudança para uma postura mais dovish dos bancos centrais e a debilidade do dólar melhoraram a nossa visão sobre o ouro a médio prazo”, referem na gestora.

Além disso, segundo recorda Iain Stewart, da equipa de Real Return da Newton, parte da BNY Mellon IM, “o fator chave do ouro é que não é um passivo de ninguém: não é uma promessa de pagamento, por isso não faz parte do sistema de crédito. Isto torna-o numa boa apólice de seguros em épocas de stress creditício e numa boa ferramenta de diversificação dentre de uma carteira”.