O (pequeno) boom do ESG nos Estados Unidos coroa a gestão indexada

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Photo by Khai Sze Ong on Unsplash

Duas histórias que se entendem melhor juntas: a primeira consiste no facto de que, finalmente, o investimento com critérios responsáveis está a explodir nos Estados Unidos; a segunda foca-se no facto de esse crescimento chegar principalmente pela mão da gestão indexada.

Vamos detalhar o primeiro ponto, porque o boom do investimento sustentável nos EUA é uma notícia por si só. Curiosamente, floresceu e resistiu num exercício tão complexo como está a ser 2020. Como se pode ver no gráfico seguinte, os fluxos em direção a fundos sustentáveis não levantaram voo até há três trimestres, no fim de 2019. O apetite por este tipo de estratégias (que engloba fundos que integram fatores ESG, de impacto e setores de sustentabilidade) permaneceu adormecido praticamente toda a última década. Agora, em 2020, encadeia dois trimestres de sólidos fluxos de 10.000 milhões de dólares em cada um, o que soma uma entrada de 20.900 milhões. Ainda com meio ano pela frente, as captações já atingiram o record histórico anual de 21.400 milhões que foi atingido no ano passado. Para dar um contexto mais exato, os fluxos de 2019 foram quatro vezes superiores ao anterior record anual registado.

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Para perfilar ainda mais essas entradas, o grosso do fluxo positivo foi registado em abril, por força da robusta subida dos mercados. Nesse mês entraram 5.800 milhões de dólares em fundos sustentáveis, a maioria de ações. É o maior fluxo mensal para fundos sustentáveis jamais registado. Impulsionados pelo bom comportamento das bolsas, sim, mas as captações têm ainda mais mérito dado que nesse mesmo trimestre os investidores realizaram mais-valias em fundos de ações.

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Voltemos à segunda história: a coroação da gestão passiva como a opção predileta do investidor americano. No segundo trimestre, sete em cada 10 investidores em ESG entraram em fundos passivos. A pegada deixada na procura está a marcar o balanço do ano para várias gestoras. “A iShares (BlackRock) não só dominou os fluxos ESG durante a primeira metade do ano, mas essas entradas também contribuíram significativamente para o próprio fluxo anual da empresa. A sua gama inteira de ETF de ações e obrigações atraiu 41.500 milhões de dólares nesse período, os fluxos ESG corresponderam a 27% desses fluxos”, analisam na Morningstar. De facto, se não tivessem visto essas entradas em ETF de ações ESG, os fluxos totais da iShares em ETF de ações tinham sido negativos.

Assim, no fecho de junho de 2020, os ativos em fundos passivos sustentáveis tinham crescido até aos 50.000 milhões de dólares (mais de 90% em ações ISR). Um grande salto desde os 4.100 milhões que representava há uma década. E como frisam na Morningstar, os fluxos novos respondem por quase todo esse crescimento. E como também podemos ver no seguinte gráfico, a curva é muito empinada. Dos 36.100 milhões de dólares que entraram nos últimos 10 anos, 29.700 chegaram entre janeiro de 2019 e junho de 2020.

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Isto está a influenciar o leque de produtos das gestoras. O lançamento de fundos passivos sustentáveis acelerou nos últimos tempos. Desde 2016 foram lançados 69 fundos (entre indexados e ETF). Isto é, mais que o número total de produtos lançados antes de 2016.

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