Como responsável pela área de alternativos da Allfunds, AAS, Borja Largo tem uma visão ampla do apetite por ativos ilíquidos a nível global. E o balanço que faz, como Chief Fund Groups Officer, sobre o momento dos mercados privados é muito positivo: há apetite por ilíquidos.
Desde o seu lançamento em 2023, a plataforma Allfunds Alternative Solutions cresceu oferencendo atualmente 1.800 fundos de 180 gestoras diferentes, com a previsão de ultrapassar em breve as 200 entidades em distribuição. Além disso, no Allfunds Private Partners (APP), o grupo fechado de parceiros premium formado por gigantes como Blackstone, KKR, Apollo, Carlyle, BlackRock, Franklin Templeton ou Morgan Stanley, recentemente foram adicionados mais dois membros: J.P. Morgan AM e Ares.
Foco num novo segmento de cliente
Em apenas dois anos, a conversa no mundo dos mercados privados evoluiu. Segundo Largo, as gestoras internacionais perceberam a necessidade de diversificar o seu negócio. “O fundraising no segmento superinstitucional americano já está bastante maduro; chegaram a percentagens de alocação média de 30-35% em ativos privados, por isso o potencial de crescimento na alocação é menor”, explica. E como pensam diversificar? Abrindo-se ao segmento de banca privada. “Aqui o potencial de crescimento é absoluto, já que os níveis de alocação vão de 0 a 2% nas carteiras”, sublinha o executivo.
Foi precisamente com o objetivo de reduzir essa lacuna que nasceu a ideia de lançar o Allfunds Private Partners (APP). “Para ter sucesso no segmento wealth são necessárias duas coisas: produto e capacidade de distribuição”, afirma Largo. Os players clássicos do mundo ilíquido — Carlyle, KKR, Apollo, etc. — são referências em produto, mas não tinham capacidade de distribuição. Por outro lado, as gestoras internacionais provenientes do mundo cotado têm presença global, mas ainda precisavam de desenvolver a sua marca no segmento ilíquido, já que historicamente se limitaram a oferecer essa gama a investidores muito institucionais.
UCITS Part II domina, chegará a vez dos ELTIF?
Ao contrário do mundo líquido, onde os fundos UCITS são a estrutura dominante, no mercado privado o grande desafio é escolher o tipo de veículo. Por agora, o UCITS Part II é a estrutura predominante. Dos novos produtos lançados em 2024 e no início de 2025 na plataforma Allfunds Alternative Solutions, praticamente um em cada dois é um UCITS Part II. “Porque nem todos os GP estão interessados em distribuir para um cliente retail, preferem manter-se com um perfil HNWI”, explica Largo. Em segundo lugar vêm os segregated portfolio company (SPC) domiciliados nas Ilhas Caimão, com 25% dos novos lançamentos.
Por enquanto, os ELTIF mal representam 10% das novidades, mas a previsão de Largo é que esta será a próxima grande tendência de estruturação na Europa. Nas suas conversas com gestoras internacionais, deteta um consenso claro: “As grandes gestoras globais têm claro que a via na Europa é o ELTIF”. Em mercados como Itália ou Suécia já é o veículo preferido, mas em outros, como Espanha ou França, o desafio será competir com a preferência por estruturas locais.
O que deve manter-se estável é a preferência do mercado por estruturas semilíquidas. “Representam 88% dos novos lançamentos e continuarão a ser o produto principal em 2025. Quase não há procura por fundos closed end”, afirma Largo.
Multiativos: uma tendência emergente?
Por classe de ativos também se observam movimentos interessantes. Por enquanto, os lançamentos estão bem distribuídos entre private debt e private equity. O apetite também está bem equilibrado por regiões. Dito isso, a Allfunds identifica uma nova tendência em 2025: o apetite por estratégias multiativas. “Os fundos de private equity continuam a ser a principal opção em quatro regiões, incluindo áreas fora da Europa, mas estamos a ver maior procura por estratégias multiativas, impulsionada pelo sul da Europa e França”, conta Largo. De facto, as alocações em private equity e multiativos superam as da dívida privada este ano.
Além disso, o aumento da incorporação de fundos de infraestruturas na plataforma AAS antecipa uma possível procura por parte dos distribuidores até ao final do ano.