O que está a acontecer no mercado de corporativos híbridos: análise da inovação estrutural e do crescimento que se está a gerar

Linus Claesson. Neuberger Berman
Linus Claesson. Créditos: cedida (Neuberger Berman)

Há dois anos, o receio era de que a escassez de emissões de híbridos corporativos pressagiasse o fim da classe de ativos. Atualmente, a situação é completamente diferente. Nos primeiros seis meses de 2024, já foi emitida mais dívida corporativa híbrida do que em todo o ano de 2023: 32.000 milhões de euros. Se a tendência continuar, 2024 será o ano recorde de emissão de híbridos corporativos.

Com o impulso de 2024, os híbridos corporativos representam 312.000 milhões de euros no papel. Isso significa que já têm maior dimensão do que o mercado de CoCos (224.000 milhões). Encaminham-se até para ultrapassar a dimensão do mercado de high yield em euros, que, no final de junho, representava 340.000 milhões.

O que está a impulsionar esse forte crescimento? Para Linus Claesson, gestor do Neuberger Berman Corporate Hybrid Bond Fund, há um catalisador-chave: a mudança na metodologia do mercado de híbridos da Moody’s. No início do ano, a agência de rating implementou uma série de melhorias no seu processo de valorização deste tipo de estrutura de crédito. Mudanças que têm tido ramificações importantes, conta.

Inovação na estrutura dos híbridos

Em primeiro lugar está a inovação na estrutura dos híbridos corporativos em si. Tradicionalmente, os híbridos corporativos têm um período legal de vencimento de 60 anos. A nova metodologia da Moody’s encurtou esse prazo para 30 anos, “embora a expetativa, e o que historicamente aconteceu no mercado, seja os emitentes recomprarem a emissão na primeira call option, que costuma ter um prazo de cinco a sete anos desde a emissão inicial”, relembra o gestor.

Na prática, a classe de ativos tem tido um bom track record a nível de eventos de chamada. “99% das obrigações híbridas foram recompradas na call option. A exceção foi o ano de 2022, quando algumas empresas de real estate decidiram saltar essa primeira call option”, aponta o gestor. O resultado foi perderem o acesso ao mercado de capitais, o que, para Linus Claesson, serviu como uma chamada de atenção para o resto do setor. “Temos observado uma maior disciplina no mercado. Há empresas imobiliárias que ampliaram o capital para financiarem a chamada do cupão do híbrido”, conta.

No entanto, Linus Claesson vê esta mudança na estrutura de capital como um passo favorável para os investidores. “A redução do vencimento legal reduz a teórica desvantagem no caso de uma extensão, embora, historicamente, nunca tenha sido esgotada por uma empresa, o que, no mínimo, na teoria, deveria reduzir a volatilidade da classe de ativos”, argumenta.

A entrada de empresas norte-americanas no mercado

Um segundo resultado dessa mudança regulamentar é a globalização da classe de ativos. Tradicionalmente, é um mercado principalmente de empresas europeias, mas a mudança metodológica da Moody’s está a atrair empresas norte-americanas. É isso que têm observado recentemente, a emissão de híbridos corporativos norte-americanos e em dólares.

Híbridos vs. CoCos: a diferença

A diferença entre um CoCo e um híbrido corporativo é o menor risco de extensão dos híbridos corporativos (devido à perda de tratamento favorável por parte do S&P após a primeira call option) e o tratamento de qualquer cupão não pago (como é detalhado no seguinte parágrafo). Além disso, os CoCos podem ser investidos em ações se incumprirem determinados requisitos de capital, passando a ser considerados capital regulamentar, o que significa que o regulador tem voz na decisão da chamada.

A nível de risco, o pagamento de um híbrido corporativo pode diferir. No entanto, num CoCo, a perda de capital é total se o emitente não cumprir o pagamento. “É como se uma empresa decidisse cortar o dividendo”, explica o gestor.