O que nos dizem os fluxos dos ETF europeus do primeiro trimestre

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Mohsin Ahmed Photography, Flickr, Creative Commons

Que o primeiro trimestre do ano foi um dos piores da história recente não é nada novo. Não só se viram as fortes quedas nos mercados de ações como consequência do dano que pode acarretar na economia a extensão do Covid-19 (as últimas previsões do FMI apontam para uma contração global este ano de 3%). Também se viram fortes retrocessos nos mercados de obrigações e até, em alguns momentos, de ativos refúgio como o ouro. Comportamentos todos eles que se deixaram sentir nos fluxos que experimentaram os ETF na Europa, um dos produtos que mais cresceu nos últimos anos.

A Morningstar acabar de publicar os dados correspondentes a esse primeiro trimestre do ano e estes deixam várias conclusões. A primeira é que o efeito Covid-19 conseguiu o que parecia impossível há apenas uns meses, que tenham acontecido mais reembolsos do que subscrições. Em concreto, os 22.000 milhões de euros que saíram dos ETF europeus só no mês de março anularam as subscrições vistas nos dois primeiros meses do ano, deixando o balanço trimestral em reembolsos líquidos no valor de 4.000 milhões de euros, o primeiro trimestre negativo em pelo menos quatro anos.

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Estas saídas de dinheiro, unidas ao mau comportamento generalizado dos índices que replicam, representsram um retrocesso dos ativos sob gestão em ETF europeus de 15,3% para os 781.000 milhões de euros.

A segunda conclusão que deixam os dados da Morningstar é que apesar de as matérias-primas como o ouro terem protagonizado episódios de quedas, os investidores continuaram a recorrer a estes ativos como veículos para reduzir as quedas das suas carteiras. “Tanto os ETF de ações como os de obrigações registaram cerca de 6.000 milhões de euros de saídas no primeiro trimestre. Não obstante, a queda dos ativos foi particularmente pronunciada para as ações, que perderam 22,3% do seu valor desde os máximos alcançados no fim de 2019. Pelo contrário, os ativos dos ETF de obrigações caíram 6,7% já que as zonas menos arriscadas do mercado de obrigações se mantiveram robustas em tempos de crise. Mas as matérias-primas demonstraram ser o último refúgio, reunindo 6.800 milhões de euros em entradas”, afirma no relatório José García Zárate, analista da Morningstar e autor do relatório. E essas subscrições em ETF de matérias-primas não só se viram no mês de março, mas também ao longo dos dois meses anteriores.

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Não obstante, ainda que as matérias-primas tenham sido o único ativo que em termos gerais conseguiu o maior consenso por parte dos investidores, tanto no universo de ações como no de obrigações houve categorias de ETF que conseguiram fechar o primeiro trimestre do ano com mais entradas do que saídas de dinheiro, o que nos leva à terceira conclusão: muitos investidores aproveitaram a volatilidade dos mercados para reforçar carteira ou, pelo menos, ajustá-la. Por exemplo, categorias de ETF de ações como Global Grande capitalização Blend, Europa Grande capitalização Blend ou Global Income despediram-se de março com subscrições líquidas trimestrais de 3.340, 3.240 e 1.260 milhões de euros respetivamente. Dentro do universo de obrigações, as medidas quantitativas anunciadas pelo BCE e também pela Fed fizeram com que categorias como a das obrigações governamentais em euros ou dívida corporativa em dólares salvassem também o trimestre, ainda que com subscrições mais modestas (2.140 milhões e 960 milhões de euros, respetivamente).

A última conclusão que deixam os dados da Morningstar é que o investimento socialmente responsável conseguiu aumentar até num momento de mercado como o que deixou o primeiro trimestre do ano. De facto, tanto os ETF ISR de ações como os de obrigações conseguiram acabar o trimestre sem reembolsos líquidos, o que elevou a percentagem que representam sobre o total de ETF europeus. “Os ativos em ETFs de ESG representam agora 4% de todo o dinheiro investido em ETFs na Europa, face aos 3,4% no fecho de 2019. Espera-se que isto aumente ainda mais. Os provedores de ETF estão a capitalizar ativamente esta tendência com um elevado número de lançamentos de produtos. De facto, metade dos ETF que chegaram ao mercado europeu no primeiro trimestre de 2020 tinham como tema os critérios ESG”, afirma García Zárate.

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