O que se passa com o Credit Suisse?

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Créditos: Charl Folscher (Unsplash)

As ações do Credit Suisse caíram mais de 20%, atingindo outro mínimo recorde. Isto obrigou o regulador a suspender a negociação em bolsa da entidade, bem como de outras grandes entidades europeias. “As quedas ocorrem depois de o presidente do Banco Nacional da Arábia Saudita, Ammar Alkhudairy, que comprou uma participação de 10% no Credit Suisse no ano passado, descartar fornecer mais ajuda financeira ao banco”, recordam na A&G.

Na terça-feira, o Credit Suisse revelou que o seu auditor, a PwC, identificou “fraquezas materiais” nos seus controlos de informação financeira. Os Credit Default Swap a um ano do Credit Suisse, que indicam a predisposição descendente dos investidores, subiram de 250 pontos base no início do mês para 800 pontos base na quarta-feira. O banco sofre dos seus próprios problemas há já algum tempo. O preço das suas ações perdeu 70% do seu valor desde o início de 2022.

Como explica Jérémie Boudinet, responsável de Crédito Investment Grade da La Française AM, o Credit Suisse está a lutar para recuperar a confiança dos seus clientes após um péssimo anúncio de resultados no quarto trimestre e um prejuízo líquido no ano de 2022 de 7.300 milhões de francos suíços. “O banco está a lutar para estabilizar as saídas de depósitos e ativos sob gestão, que foram muito altas no quarto trimestre (93.000 milhões de francos suíços em wealth management, 8.000 milhões no Swiss Bank e 12.000 milhões nos ativos sob gestão)”. Perante esta crise de confiança, o banco suíço pediu ao banco central e ao regulador da Suíça que façam uma declaração pública de apoio para estabilizar a situação. Isto é o que, por agora, fizeram.

O que disse o regulador suíço e o seu banco central

No seu comunicado conjunto emitido esta quarta-feira à noite, a Autoridade de Supervisão do Mercado Financeiro Suíço (FINMA) e o Banco Nacional Suíço (SNB) asseguravam que "o Credit Suisse cumpre os requisitos regulamentares de capital e liquidez". Na sua nota, explicavam que a regulamentação suíça requer que todos os bancos mantenham reservadas de capital e liquidez e que cumpram ou excedam os requisitos mínimos dos padrões que fixa Basileia. "Além disso, os bancos de importâcia sistémica devem cumprir requisitos maiores de capital e liquidez. Isto permite absorver os efeitos negativos das grandes crises e perturbações", indicavam.

De acordo com a FINMA e o SNB, os estritos requisitos de capital e liquidez aplicáveis às instituições financeiras suíças garantem a sua estabilidade. "O Credit Suisse cumpre os requisitos de capital e liquidez impostos a bancos de importância sistémica. Os problemas surgidos nos Estados Unidos com o Silicon Valley Bank e o Singular Bank não representam um risco direto de contágio para as instituições suíças devido às turbulências atuais no mercado bancário americano", asseguram. Mas também dizem algo muito importante: "se for necessário, o SNB proporcionará liquidez ao Credit Suisse".

Perda de depósitos

De acordo com a Bloomberg, o Credit Suisse aumentou recentemente a taxa de juro dos depósitos de dinheiro novo a partir de cinco milhões de dólares na Ásia, de modo a estabilizar as saídas e reter os clientes existentes. Por outro lado, o presidente do banco está a ser investigado pelo regulador suíço FINMA, que está a tentar estabelecer até que ponto o seu presidente, Alex Lehmann, e outros representantes do Credit Suisse, estavam cientes de que os clientes ainda estavam a retirar fundos quando disse em entrevistas aos meios de comunicação que as saídas tinham parado.

“Isso é relevante porque o Credit Suisse tem vindo a sofrer com saídas de depósitos e tem uma base de clientes em grande parte composta por empresas e indivíduos sofisticados, que são considerados depositantes menos leais do que os clientes de retalho. Os próximos meses serão fundamentais para o Credit Suisse, que precisa de estabilizar a sua base de depósitos, mesmo ao custo da sua rentabilidade que, de todas as formas, já está seriamente diminuída”, explica o especialista da La Française AM.

Hipóteses sobre o futuro do Credit Suisse

Uma das hipóteses que preveem na gestora é que o Credit Suisse possa acabar mais ou menos dividido, com a venda parcial ou total do negócio de banca de investimento, mantendo a sua filial de retalho suíça e parte da sua sucursal de gestão de património no exterior. "No entanto, esta hipótese gira em torno da sua capacidade de contrariar as saídas de depósitos a curto e médio prazo", esclarecem, o que não significa que o atual receio de contágio e pressão dos mercados suponha um ambiente muito desfavorável para o banco suíço.

Segundo explicam na Vontobel AM, se o Banco Nacional Suíço/FINMA intervir, uma linha de liquidez parece ser o primeiro passo mais óbvio, especialmente se a entidade estiver a ver saídas de dinheiro. “Além disso, alguns ativos podem ser retirados do balanço, algo que aconteceu com vários bancos durante a crise financeira global”. De acordo com os especialistas do banco, “este apoio pode dar ao Credit Suisse o tempo de que necessita, mas a situação é muito volátil neste momento e, dado o sentimento negativo impulsionado pelos bancos regionais dos EUA, o momento não podia ser pior”.