O que se passa com o yen japonês?

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Créditos: David Edelstein (Unsplash)

Nos 136 ienes por dólar, a moeda japonesa está próxima dos níveis que não víamos desde o verão de 1998. A depreciação do yen nos últimos meses contrasta fortemente com um quarto de século de fortalecimento quase ininterrupto. De acordo com Xueming Song, diretor de Estratégia em Divisas da DWS, a explicação está intimamente ligada à política monetária do país.

A correção mais recente ocorreu após o Banco do Japão ter reiterado o seu compromisso de manter as yields das obrigações soberanas a 10 anos abaixo do limite máximo de 0,25 pontos percentuais. “Estas declarações desencadearam uma debandada entre os investidores japoneses, especialmente os fundos de pensões e as seguradoras, que deixaram o país em busca de retornos mais elevados”, disse Xueming Song. Desde 2013, a depreciação do yen respondeu principalmente à saída de fluxos de carteira, dos quais apenas uma pequena percentagem tem cobertura de divisa”.

Além disso, o movimento do BoJ tem de ser visto de uma perspetiva global. A depreciação que o yen tem sofrido nos últimos 12 meses coincide em grande parte com o aumento das yields do treasury americano a 10 anos, o que, por sua vez, reflete a expetativa de um maior agravamento da política monetária nos Estados Unidos e em grande parte do mundo. O Banco de Inglaterra e o Banco Nacional Suíço aumentaram as suas taxas de juro recentemente e o Banco Central Europeu vai fazer o mesmo este mês. Em contraste, o BoJ continua disposto a comprar o maior número de obrigações soberanas necessário até que a inflação exceda os 2% de forma sustentável.

Aumento das taxas de juro nos EUA está a debilitar o yen. Fontes: Bloomberg Finance L.P., DWS Investment GmbH a 21/6/2022.

Consequências de um yen mais fraco

E este movimento tem ramificações importantes. Um yen mais fraco está a impulsionar ainda mais os preços de importação, deteta Song. A turbulência causada pela invasão russa da Ucrânia nos preços mundiais de alimentos e energia aumentou as pressões inflacionistas, incluindo no Japão, às quais o Governo japonês reagiu com um novo pacote de estímulos antes das eleições para a câmara alta, marcadas para 10 de julho. Durante a campanha eleitoral, os candidatos podem comprometer-se a aprovar mais estímulos. Espera-se que a inflação incite eventualmente os trabalhadores a exigir aumentos salariais, o que, por sua vez, impulsionaria os preços.

Em teoria, os sinais de pressão inflacionista devem levar o BoJ a flexibilizar o seu controlo da curva de yields, o que contribuiria para a apreciação do iene. “É melhor sentarem-se”, avisa Katrin Loehken, economista japonesa da DWS. “Após más experiências passadas, o BoJ vai querer ver que as expetativas de inflação estão de facto a ser satisfeitas antes de tomar qualquer medida”.

Até lá, o yen poderá desvalorizar ainda mais. Mas se a tendência mudar, as consequências para o resto do mundo podem ser dramáticas, diz Song. Os ativos japoneses já são baratos em termos comparativos, por isso não os perca de vista, só por precaução.