O que significa investir em defesa? Para lá das armas

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Créditos: Leeloothefirst (Pexels)

Quando se fala em investimento em defesa, o primeiro pensamento recai sobre mísseis, aviões de combate ou soldados. Mas para um número crescente de especialistas, esta visão tornou-se limitada no contexto atual. Num cenário marcado pela guerra na Ucrânia e pela rivalidade tecnológica entre potências, o conceito de defesa expandiu-se, sofisticou-se, e deixou de ser visto como uma despesa. A suspensão temporária da ajuda militar dos EUA à Ucrânia em 2025 foi um ponto de inflexão. Como assinala a gestora CPR Asset Management (do grupo Amundi), “a autonomia estratégica deixou de ser uma aspiração teórica para se tornar numa necessidade”.

Neste contexto, a Comissão Europeia apresentou o plano REArm Europe, que contempla até 800.000 milhões de euros em investimentos, combinando flexibilidade orçamental, financiamento do BEI, contratação conjunta e parcerias em I&D. O objetivo é criar uma base industrial soberana que abranja desde redes digitais até à manutenção logística. “A despesa em defesa deve ser canalizada ao longo de toda a cadeia de valor. A oportunidade está em harmonizar normas e construir uma espinha dorsal tecnológica europeia”, acrescentam da CPR AM.

As novas fronteiras da defesa

"A segurança já não se limita ao âmbito militar: setores como sistemas autónomos, cibersegurança, guerra eletrónica e espaço estão na vanguarda das mudanças na contratação de defesa, uma vez que a administração atual reduz a despesa em programas com décadas de existência para adotar a modernização", explica Ian Fujiyama, diretor de negócio aeroespacial, defesa e governo do Carlyle Group.

Hoje, investir em defesa não significa apenas financiar exércitos, mas apostar em setores estratégicos, reforçar capacidades nacionais, fomentar a inovação tecnológica e construir um ecossistema industrial que sustente a soberania. É, nas palavras de Alicia Daurignac, analista da La Financière de l’Echiquier, “um imperativo estratégico”. O setor evoluiu para um modelo de inovação dual, com aplicações tanto militares como civis. Desde fabrico avançado até comunicações por satélite, o perímetro do investimento expandiu-se. "O investimento sustentado continuará a impulsionar o desenvolvimento do setor nos próximos anos", refere a analista.

À medida que os EUA repensam o seu compromisso internacional e a Europa procura autonomia, a defesa está a consolidar-se como um novo eixo de alocação de capital. Como aponta Ian Fujiyama, "os contratos já não se concentram nos grandes contratantes tradicionais: a inovação rápida e ágil é agora o principal ativo".

Um setor atrativo para o capital privado

O crescimento do setor não se fez sentir apenas nos mercados cotados, também despertou o interesse do capital privado. Segundo a Bain & Company, o investimento de venture capital em defesa multiplicou-se por mais de dez na última década. O crescimento deve-se à necessidade de inovação, à pressão orçamental e à convergência entre tecnologias civis e militares.

Empresas como a Palantir, SpaceX ou AeroVironment são símbolos deste novo paradigma. A Carlyle, por seu lado, construiu a Two Six a partir de sete aquisições, com o objetivo de desafiar os contratantes tradicionais com soluções de software leves e ágeis.