O reflation trade toca em máximos, mas os gestores mantêm-se nos cíclicos

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Créditos: Mike Kononov (Unsplash)

Já tínhamos uma pista de que uma nova rotação estava a acontecer no mercado e este mês tivemos a confirmação. Segundo o último inquérito a gestores do Bank of America, o sentimento entre os profissionais é que o melhor da recuperação ficou para trás. E que chegou o momento de refletir essa menor euforia nas carteiras. É um sentimento que se vê em vários pontos.

Primeiro, nas previsões económicas. Em dois pontos vemos como o otimismo tocou máximos há uns nove meses. As expetativas de crescimento global caíram de forma continuada desde março de 2021. Nesse mês 91% dos inquiridos previa uma melhoria da economia nos 12 meses seguintes. Agora esse número cai para 47%. Passou-se o mesmo com as expetativas de crescimento de lucros. De facto, as leituras de lucros e do PIB mostram que o momentum macro está no seu ponto mais débil desde o terceiro trimestre de 2020.

Também se nota um ponto de inflexão da inflação. Apenas 22% líquido dos gestores vê mais inflação nos próximos 12 meses. E há consenso. 70% acredita que as subidas de preços que estamos a ver são transitórias. Apenas 26% diria que é permanente.

Assim, os gestores dirão que estamos a entrar na fase seguinte do ciclo. Após a crise de 2020 e o boom de 2021, agora movemo-nos para a segunda metade ou fase tardia do ciclo. É o que afirmam 73% dos gestores no Fund Manager Survey. Um número que foi subindo de forma contínua no último ano.

Posicionamento das carteiras

Mas por ter passado o pico não significa que os gestores se movam de novo para o risk-off. De facto, a nível geral a exposição a cíclicos mantém-se em carteira. Como se pode ver no posicionamento de julho, os maiores vieses mantêm-se em ativos cíclicos. Isto é, na zona euro, indústrias, materiais, banca e matérias-primas. Pelo contrário, mantém-se a subponderação a nichos defensivos como as obrigações, os bens de consumo básico ou as utilities.

O que estamos a ver é a continuidade do movimento do mês passado para valores de mais qualidade. Isto vê-se mais facilmente no gráfico de mudanças mês a mês. Está a crescer a exposição a tecnologias, telecomunicações e saúde, assim como a ações americanas. Este movimento de saída dos emergentes responde, na opinião do BofA, à incerteza que houve nas tecnologias chinesas nas últimas semanas.

O momento da Fed, a grande incógnita

E se estamos já na segunda metade do ciclo, isto tem implicações para a política monetária. Cresce o número de gestores que pensa que a Reserva Federal falará de tapering (retirada de estímulos) em agosto ou setembro. A maioria diz que será na reunião de Jackson Hole enquanto outro grupo importante pensa que será na rentrée.

Não obstante, a subida de taxas é outro tema aparte. 40% dos gestores espera essa primeira subida na segunda metade de 2022, no ano que vem. Mas cresce a percentagem de profissionais que o adiam para a primeira metade de 2023, em janeiro desse ano.