Obrigações: há quem espere mais dor

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Créditos: Towfiqu Barbhuiya (Unsplash)

Os bancos centrais, face à persistente inflação, querem atingir a taxa de juro terminal o mais rapidamente possível, para depois a manter. Isto implica taxas de juro mais elevadas durante mais tempo. Assim, as yields da dívida estão a passar de negativas para positivas, enquanto a volatilidade das taxas de juro se mantém, com aumento dos prémios de risco. De momento, o mercado parece dar credibilidade ao controlo da inflação da Reserva Federal, uma vez que a curva de yields da dívida soberana se nivelou.

De olho no aumento das yields da dívida pública

Segundo Mickael Benhaim, diretor de Estratégia e Soluções de Obrigações da Pictet AM, neste contexto, os investidores em obrigações devem prestar especial atenção às yields to maturity reais da dívida. “O seu aumento nos Estados Unidos, juntamente com uma menor expetativa de inflação refletida no mercado de títulos de dívida (diferença entre a rentabilidade nominal fixa e a dívida real indexada à inflação), sugere mais dor. O nosso modelo indica uma valorização do dólar, fraqueza das obrigações e divisas dos mercados emergentes, e quedas no preço da dívida corporativa high yield", adverte o especialista.

De acordo com Benhaim, o aumento da volatilidade das yields da dívida soberana tende a aumentar os spreads de crédito, o que, na sua opinião, ainda não aconteceu no grau que deveria, provavelmente devido à liquidez abundante e ao adiamento de vencimentos da dívida empresarial durante a pandemia até 2024-2025. “Neste regime, o valor do investment grade e da dívida soberana dos Estados Unidos pode permanecer nesse nível", reconhece. 

Aterragem suave pouco provável 

Para Joachim Fels, diretor-geral e assessor económico global da PIMCO, é muito claro que a tarefa da Fed de levar as taxas ao nível terminal não pode ser realizada sem infligir mais dor. “Será necessária mais dor nos mercados financeiros porque as condições financeiras são o mecanismo de transmissão da política monetária, e é provável que isso venha a acontecer à medida que os bancos centrais continuem a aumentar as taxas e a Fed reduza o seu balanço”, alerta.

Na sua opinião, a dor no mercado de trabalho sob a forma de aumento do desemprego é necessária para evitar uma maior aceleração dos salários, e é provável que venha em resposta ao endurecimento passado e futuro das condições financeiras. “Em consequência, a proverbial aterragem suave que os banqueiros centrais esperam e que os mercados têm exaltado nos últimos meses parece ser bastante improvável”, avisa.

A receita para evitar o ambiente atual

Para evitar o atual ambiente de incerteza, Jim Leaviss, diretor de Investimentos de Obrigações Públicas da M&G Investments, tem a receita certa: manter uma abordagem flexível e diversificada. “Isto implica ter a capacidade de ajustar a duração, o risco de crédito e a exposição a divisas em resposta a uma situação macroeconómica que muda rapidamente”, destaca.

Há também aqueles, como a UBS AM, que optam por procurar no mercado de obrigações ativos que proporcionam não só diversificação, como também descorrelação a uma carteira, como, por exemplo, as obrigações chinesas onshore. “A sua baixa volatilidade e a sua escassa correlação com outras principais classes de ativos demonstraram que podem ser um eficaz diversificador de carteiras”, sublinha a empresa suíça.