A entidade supervisora destaca nos seus comentários um agravamento do grau periférico do mercado nacional na sequência da crise financeira internacional.
Registe-se em FundsPeople, a comunidade de mais de 200.000 profissionais do mundo da gestão de ativos e património. Desfrute de todos os nossos serviços exclusivos: newsletter matinal, alertas com notícias de última hora, biblioteca de revistas, especiais e livros.
Para aceder a este conteúdo
O índice mais representivo do mercado de ações nacional, o PSI 20, valorizou 15,2% em 2017. Segundo comenta a CMVM no Relatório Anual Sobre os Mercados de Valores Mobiliários, “esta apreciação não foi, contudo, suficiente para colocar o índice acima do valor que registava no dealbar da crise financeira internacional de 2008. Comparativamente com o final de 2004 e de 2008, o PSI 20 mantinha no final do ano uma de depreciação de cerca de 30% e 15%”. Em comparação, os índices de referências dos mercados europeus e dos Estados Unidos valorizaram 7,7% e 19,4% em 2017, o que consolidou ganhos de 153% e 225%, desde o final de 2004, e 96% e 196% desde o final de 2008, respetivamente. A volatilidade dos mesmos índices foi de 11,2%, 8,4% e 6,8%, respetivamente, em 2017, “valores historicamente baixos e muito inferiores à correspondente média de longo prazo. No primeiro trimestre de 2018, a volatilidade daqueles dois índices globais aumentou para valores próximos da do PSI 20”, pode ler-se no relatório.
“Após três anos de queda consecutiva, o valor negociado em ações no mercado português aumentou cerca de 9% no ano. Porém, o valor negociado em ações do PSI 20 em mercado regulamentado representou apenas 45% do transacionado em 2008”. Isto reflete uma tendência que se verifica também nos mercados europeu e norte-americano, mas mais acentuada no caso nacional o que “indicia um agravamento do grau periférico do mercado nacional na sequência da crise nanceira internacional”.
Lucros e valuation
A CMVM alerta no relatório para o facto da caraterização da evolução dos mercados acionistas não poder ser desligada da conjuntura macroeconómica, que influenciou favoravelmente a situação económica das empresas cotadas. “Em primeiro lugar, as margens de lucro das empresas aumentaram substancialmente. No caso das empresas do índice PSI 20 a margem de lucro aumentou 0,81% face ao ano anterior (0,33% face à média dos últimos dez anos), o que compara com 2,93%. (1,40%) nas empresas que integram o MSCI Europa (World). As empresas que integram os índices S&P 500, MSCI Europa e MSCI World também registaram margens de lucro superiores à média dos últimos dez anos”. Simultaneamente, a entidade reguladora destaca o aumento generalizado dos resultados por ação nas maiores sociedades cotadas em Portugal, crescimento esse que foi de 2,4% em 2017 - “um valor superior à variação percentual do índice de preços no consumidor”. “O aumento das margens de lucro e do volume de vendas traduziu-se num incremento dos resultados por ação quer das empresas que integram o PSI 20 quer de outras empresas europeias e mundiais. Em 2017, os resultados por ação dos índices PSI 20, S&P 500, MSCI Europa e MSCI World excederam em mais de 30% as respetivas médias dos dez anos precedentes”, está patente no relatório.
Esta evolução reflete-se num earnings yield das empresas do PSI 20 na ordem dos 7,2% no final do ano, um incremento de 3,3% face ao período homólogo. “A valorização dos índices PSI 20, MSCI Europa e MSCI World foi inferior à taxa de crescimento dos lucros das empresas, o que poderá significar que os investidores não consideram sustentável aquele aumento dos lucros ou que percecionam, no longo prazo, uma desaceleração do crescimento dos resultados associada à falta de oportunidades de crescimento”, comenta a CMVM.
Investigação & desenvolvimento
Está também patente no relatório o nível significativamente inferior do investimento em Investigação & Desenvolvimento entre as empresas do PSI 20 em comparação com as emrpesas que fazem parte dos índices internacionais. De facto, enquanto as empresas do S&P 500 e MSCI Europa investiram cerca de 3,24% e 2,75% das suas receitas em 2017, respetivamente, entre as empresas do índice nacional este valor não ultrapassou os 0,02%. “O impacto do reduzido investimento em I&D das empresas portuguesas poderá estar refletido nas estimativas dos resultados por ação a três anos reportadas pelos analistas financeiros: a mediana dessas estimativas aponta para um crescimento dos resultados por ação a três anos de 4,53%, valor que contrasta com 32,9% e 19,4% para as empresas norte-americanas e europeias, respetivamente”.