Entre 27 de junho e 1 de julho de 2022 ocorreu, em Lisboa, a Conferência dos Oceanos. Esta conferência conta com mais de 7.000 pessoas, entre as quais 25 chefes de estado, e é um apelo à ação pelos oceanos, que visa mobilizar parcerias e aumentar o investimento em abordagens científicas e inovadoras.
No âmbito desta conferência, tivemos a oportunidade de entrevistar Daniel Bowie-MacDonald, investment specialist na abrdn, e um forte impulsionador do tema.
A parceria com a UNESCO
O especialista trabalha há nove anos na abrdn e desde cedo se interessou pelo tema dos oceanos. Ao longo dos anos nutriu uma relação com a UNESCO que se materializa agora num acordo de três anos com a gestora, o primeiro da história da organização das Nações Unidas. "O acordo visa promover o investimento em educação e investigação", explica Daniel em entrevista à FundsPeople.
O maior desafio do projeto é conseguir que todos os envolvidos estejam na mesma página. “Na nossa indústria, penso que todos sofremos de miopia, todos lemos as mesmas notícias, falamos com as mesmas pessoas, não conseguimos ver o outro lado das questões. O objetivo deste projeto passa por ouvir os engenheiros, biólogos… Em suma, promover conhecimento nos agentes que operam na tomada de decisão", desvenda.
O investidor reconhece que "o setor financeiro é muito impactante na sociedade, os investidores querem ganhar dinheiro, mas cada vez mais de forma sustentável”. Sabe, por isso, que existe um problema. “Podemos não saber a solução, mas é necessário começar a falar nele. Só de perceber a implicação que o oceano já tem nos diferentes setores e explorando essa ligação, é possível diminuir muitos riscos e aproveitar oportunidades valiosas", confessa.
Impactos ao nível do investimento
Daniel Bowie-MacDonald gere várias carteiras e, como tal, explica que "existem várias alavancas que se podem puxar para tornar um portefólio mais sustentável, sem um grande afastamento do índice de referência". Este aprofunda: "Podemos definir mínimos de pontuação ESG para as empresas na carteira, limitar o nível de emissões emitidas pelos constituintes, entre outros métodos".
No entanto, para o gestor, o mais interessante é quando é conduzida uma gestão mais ativa. "Com uma análise bottom-up, é possível conciliar a informação pública com a informação que recebemos do contacto direto com a empresa e com os seus diretores. Podemos introduzir o nosso cunho pessoal e perspetivas para o futuro, obter uma possível vantagem competitiva ou mesmo eliminar riscos para o portefólio", revela o mesmo.
Por fim, apontou o principal problema de uma gestão com um filtro consciente e responsável. "O principal problema é a informação. Apesar de estar a ser feito um esforço claro para aumentar a regulação, nem todos os reguladores estão-se a mover no mesmo sentido nem à mesma velocidade. A utilização de diferentes critérios torna muito complicado operar neste mercado", confessa o investment specialist.