2020 – O melhor ainda está para vir?

José Miguel Calheiros
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Com metade de 2020 prestes a concluir-se, e tendo em conta o que já vivemos nos últimos 6 meses, arriscar ter uma perspetiva para o segundo semestre é algo que só ouso fazer com mil e uma advertências prévias, e tendo como pano de fundo um horizonte temporal que vai bem para lá do que nos resta do ano.

Em termos macro, antecipamos uma recuperação generalizada do crescimento económico dos principais blocos no segundo semestre de 2020, fruto do progressivo desconfinamento das economias encetado já no segundo trimestre, e das medidas de cariz fiscal e monetário ultra expansionistas implementadas pelas autoridades. Não obstante, os ritmos de crescimento económico recorde antecipados, em particular para o terceiro trimestre, a quebra da atividade económica mundial no primeiro semestre de 2020 foi de tal forma abrupta, que muito dificilmente 2020 não ficará com a chancela de pior ano desde a Grande Depressão dos anos 30 do século passado. Apenas a China deverá registar crescimento económico positivo, sendo que os Estados Unidos e o Japão deverão apresentar quedas na ordem dos 4% a 5% em 2020. Pior mesmo, só a Zona Euro e o Reino Unido, cujas economias deverão registar quedas acima dos 6%, fruto da duração e amplitude do lockdown imposto pelas autoridades a partir do final do 1º trimestre até recentemente.

Em termos de classes de ativos, numa perspetiva de médio prazo e apesar da recuperação extraordinária registada nos últimos 3 meses, continuamos a preferir as ações norte-americanas, em particular nos setores de tecnologia, farmacêuticas/biotecnologia e telecomunicações, dado que têm fortes perspetivas de crescimento a longo prazo, solidez do balanço, bem como modelos de negócio que beneficiam das alterações comportamentais provocadas pela pandemia. Temas como “Healthtech”, isto é, a fusão entre tecnologia e a prestação de cuidados de saúde através da monitorização remota ou análise preditiva de cuidados de saúde, ou a educação online e trabalho flexível, estarão no radar dos investidores nos próximos anos.

No que respeita às obrigações, a nossa preferência recai sobre o segmento Corporate Investment Grade denominado em EUR, onde, com o BCE mais ativo no mercado através dos múltiplos programas de compra de dívida, vemos condições para os spreads estreitarem novamente a médio prazo, mais a mais no atual e futuro contexto de taxas zero na zona Euro.

Como riscos prementes para o sentimento dos investidores e, em particular para a recuperação dos mercados acionistas, vemos o potencial reconfinamento das economias em virtude da eclosão de uma nova vaga de COVID-19 e eventuais sanções adotadas pelos Estados Unidos contra a China/Hong Kong despoletadas pela situação político-social em Hong Kong e pelo ritmo lento do progresso da fase 1 do Acordo Comercial alcançado no final de 2019.

Dada a volatilidade que caracteriza hoje os mercados financeiros e o contexto atual e futuro de taxas zero na Zona Euro, recomendamos que se invista através de fundos mistos, que permitem obter rendibilidades positivas a médio prazo, e cuja exposição a ações e obrigações depende do perfil de risco assumido por cada fundo. A BKGA disponibiliza atualmente uma gama completa de fundos PPR perfilados que, em nosso entender, é a melhor forma de aproveitar as oportunidades que identificamos nos mercados financeiros no futuro próximo.