2021 não está a começar como se esperava e se desejava

Carlos Bastardo ISEG Imofundos_noticia
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

(Artigo de opinião da autoria de Carlos Bastardo.)

Começamos o ano de 2021 bastante piores do que terminamos o ano de 2020 em termos pandémicos e económicos.

Na Europa, diversos países estão a endurecer as medidas e alguns como a Alemanha prolongaram até meio de fevereiro o confinamento. Por cá, os efeitos da maior abertura no Natal e no Ano Novo estão a ser desastrosos e vieram dar razão aos especialistas de saúde que em dezembro alertaram e recomendaram outro enquadramento e prevenção. Agora corremos atrás do prejuízo, aliás como tem acontecido desde o Verão.

Logicamente que com os confinamentos atuais, os efeitos na economia vão fazer-se sentir no primeiro semestre de 2021. Muito provavelmente nas próximas semanas, os organismos internacionais vão ter de rever as projeções do PIB para este ano em baixa.

As estimativas preliminares do indicador PMI industrial da Europa de janeiro já revelam uma evolução negativa face aos valores de dezembro.

Contrariamente ao mundo ocidental, a China conseguiu crescer em 2020 cerca de 2% devido à dinâmica registada nos 3º e 4º trimestres. Grande parte deste êxito (foi a única grande economia a crescer no ano da pandemia) deve-se ao rigor com que as medidas foram decretadas, impostas e respeitadas pelo povo chinês.

Esta evolução da China, provavelmente irá fazer com que se aproxime mais rapidamente do valor de riqueza dos EUA, o que deixa sempre a sensação que novos riscos poderão surgir nos próximos anos, dada a forma por vezes pouco transparente de afirmação e domínio daquele país.

Entretanto, a vacinação começou, mas o ritmo está aquém do desejável, até porque as farmacêuticas estão com problemas na satisfação das encomendas. A União Europeia já definiu objetivos e deseja que 70% da população esteja vacinada até ao Verão. Se tal acontecer, serão boas notícias. Mas, é necessário ver para crer!

Os ativos financeiros parecem imunes às notícias negativas (até quando?), uma vez que os índices bolsistas permanecem em máximos e as yields da dívida pública e das corporates bonds estão em mínimos, basicamente devido a 3 fatores: os estímulos fiscais, as taxas de juro de referência dos bancos centrais muito baixas e a esperança nas vacinas.

Contudo, a evolução pandémica poderá atrasar a recuperação económica nos EUA e sobretudo na Europa, pelo que, a volatilidade poderá aumentar ao longo do primeiro semestre. É necessário estar atento aos riscos de mercado.

Os setores com mais dificuldades face aos novos confinamentos são o turismo e os setores que dele dependem como as companhias de aviação, as empresas de cruzeiros, as empresas de eventos, a restauração, as empresas de aluguer de automóveis e também o imobiliário, entre outros setores.

Quanto mais tempo durar o confinamento, mais desemprego haverá, mais insolvências ocorrerão e mais difícil será a recuperação económica. Em Portugal, já existem estimativas de que o PIB vai cair cerca de 2% em 2021 (Universidade Católica), ao contrário das estimativas dos grandes organismos internacionais, mas que muito provavelmente serão revistas em baixa proximamente.

O ano de 2021 que todos desejávamos que fosse de esperança e de retoma económica, está a começar bastante trôpego. Apenas no segundo semestre poderá ser possível vislumbrar com mais clareza a tão desejada recuperação e para que isso aconteça, é necessário que o processo de vacinação prossiga ao ritmo preconizado pela União Europeia e que finalmente o dinheiro da tão famosa bazuca apareça e, acima de tudo, que seja bem aplicado e aproveitado.