No seu habitual artigo de opinião, Carlos Bastardo analisa a situação atual da inflação na Europa e nos EUA e fala da importância do entendimento entre as duas regiões a fim de evitar uma guerra comercial.
COLABORAÇÃO de Carlos Bastardo.
Neste meu 144º artigo, perfazendo um período já longo de 12 anos (como o tempo passa!), vou abordar o tema da inflação.
O índice de preços do consumidor abrandou o seu ritmo de crescimento desde os níveis bastante elevados registados em 2022 e em 2023. Nos últimos meses, essa evolução foi interrompida. A partir do verão de 2024, mais especificamente desde setembro no caso da zona euro e dos EUA e desde agosto no caso de Portugal, os preços voltaram a subir com mais intensidade.
Em setembro de 2024, a inflação na Zona Euro era de 1,7% e nos EUA de 2,4%. Em agosto de 2024, a inflação em Portugal era de 1,9%.
Desde essa altura, a inflação tem estado a subir. No final de 2024, era de 2,4% na Zona Euro, de 2,9% nos EUA e de 3% em Portugal.
Em janeiro de 2025, últimos dados finais conhecidos, a inflação foi de 2,5% na Zona Euro, 3% nos EUA e 2,5% em Portugal.
E esta subida da inflação sente-se ao nível dos produtos, mas também ao nível dos serviços.
Quer na zona euro como nos EUA, a inflação permanece acima dos objetivos de ambos os bancos centrais, Banco Central Europeu e Reserva Federal Americana.
Se tivermos em conta o ambiente atual de crispação entre os EUA e o resto do mundo, com a adoção por Donald Trump de medidas de aumento das tarifas alfandegárias sobre os produtos importados e, muito provavelmente, com a resposta do resto do mundo no mesmo sentido, percebemos que os próximos tempos não vão ser fáceis para trazer a inflação para o nível dos 2%.
Qualquer guerra comercial, tem dois efeitos negativos: subida dos preços dos produtos importados com reflexo na subida da inflação e impacto nas exportações, com reflexo negativo no crescimento do PIB.
Apesar de ambos os lados perderem, no caso de uma guerra comercial entre os EUA e a Zona Euro (ZE), o impacto negativo será maior na ZE, até porque apresenta um saldo bastante excedentário da balança comercial e porque apresenta maiores dificuldades de crescimento económico. Em 2024, o PIB da ZE cresceu 0,7%, enquanto o PIB dos EUA cresceu 2,8%.
É fundamental que haja uma negociação entre a ZE e os EUA. Já sabemos que o objetivo de Donald Trump é reduzir o défice das trocas comerciais com a Europa, fundamentalmente, através do fornecimento de petróleo e gás natural. A Europa é extremamente dependente de recursos energéticos e Donald Trump sabe disso.
Acima de tudo, é desejável evitar uma guerra comercial com ambas as partes a entenderem-se, cada uma das quais defendendo os seus interesses o melhor que podem e sabem. Caso isso não aconteça, os próximos tempos poderão ser complicados.
O resultado das eleições alemãs no passado dia 23/2, com a pesada derrota do SPD e com a inevitável mudança de governo, liderado pela CDU, poderá trazer uma nova esperança para o ressurgimento económico da Alemanha como maior potência da Europa. A Alemanha esteve em recessão em 2023 e em 2024. Tudo o que for positivo para a Alemanha, será para a ZE e para a União Europeia. O maior ou menor sucesso na redução da inflação tem naturalmente impacto na política monetária (possível continuação da redução das taxas de juro), no nível de confiança dos consumidores e dos investidores e no ritmo do crescimento económico.