A evolução dos combustíveis face ao preço do petróleo

Carlos Bastardo ISEG Imofundos_noticia
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Carlos Bastardo.

Quando comparamos o preço do petróleo que é a nossa referência (Brent) com o preço dos combustíveis (gasolina 95 e gasóleo), verificamos que a evolução está relacionada no sentido, mas não na amplitude, ou seja, concluímos que os preços dos combustíveis em Portugal subiram mais do que proporcionalmente face à subida do preço do petróleo.

O Brent atingiu o valor máximo em 2008 nos 147,50 USD por barril e em 22/06/2022 está cerca dos 110 USD por barril. Por sua vez, os preços médios da gasolina 95 e do gasóleo são hoje de 2,16 euros por litro de gasolina 95 e 2,22 euros por litro de gasóleo, contra 1,33 euros e 1,348 euros em 2008 respetivamente. Mesmo considerando que o EUR/USD estava em final de 2008 em 1,28 e agora está em 1,05, podemos concluir que de facto, os combustíveis estão mais caros do que na altura.

Os preços dos combustíveis não se justificam só por si pela evolução do preço do petróleo. Portanto, só podemos dizer que os dois fatores que levaram a esta evolução desproporcional são as margens de refinação e a carga fiscal que incide sobre os combustíveis.

Com o peso que os custos de energia têm no Índice dos Preços do Consumidor, a fatura energética para as famílias e para as empresas tem aumentado significativamente nos últimos meses.

Sobem os combustíveis e o gás natural. Logicamente que têm sido tomadas medidas, mas em Portugal, estas ficam sempre pelo poucochinho.

Se compararmos, por exemplo, com os preços dos combustíveis em Itália da gasolina 95 e do gasóleo, onde estive há pouco tempo, estes estão ao nível ou até ligeiramente mais baixos que em Portugal. Mas se tivermos em conta o salário mínimo e fundamentalmente o salário médio nos dois países, verificamos que os italianos têm sido bastante menos afetados que os portugueses. E podia citar outros países, como a nossa vizinha Espanha.

Num país em que os aumentos salariais desde o resgate há 11 anos pouco aumentaram, em que o aumento salarial em 2022 versus inflação é muito residual, em que os escalões do IRS não foram atualizados em função da inflação prevista para 2022 (o melhor cenário será à volta dos 6% de acordo com as informações atuais) e em que a subida dos preços da energia tem como consequência a subida dos preços dos bens alimentares para já em mais de 10% (sobem os custos de produção e do transporte), é fácil perceber que este ano é um ano de perda significativa do rendimento disponível (austeridade indireta), contrariamente ao que alguns afirmam demagogicamente.

Se aliarmos a esta situação, a subida dos juros e a consequente subida do valor das prestações do crédito à habitação e muito provavelmente o aumento dos spreads de risco de crédito praticados pelos bancos às empresas, temos forçosamente de ficar preocupados com os próximos tempos.

Esta é uma dura realidade que tem repercussões negativas ao nível do consumo e do investimento, aliás como já se começa a notar.

Em 2022, o crescimento do PIB previsto entre 5% e 6% é determinado pela evolução positiva das exportações e sobretudo das receitas do turismo (alguns analistas estimam que a contribuição para o crescimento do PIB deste setor em 2022 é de 2/3). Provavelmente, os números de dormidas em 2022 ultrapassarão os de 2019, antes da pandemia.

Caso esta pressão inflacionista perdure, como irá ser 2023, quando já estamos a ver reduções do crescimento do PIB nos países que são os nossos principais parceiros comerciais? Certamente não irá ser fácil!