TRIBUNA de Hans-Jörg Naumer, Global Head of Global Capital Markets & Thematic Research. Comentário patrocinado pela Allianz GI.
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(TRIBUNA de Hans-Jörg Naumer, Global Head of Global Capital Markets & Thematic Research. Comentário patrocinado pela Allianz GI.)
Num grande número de países desenvolvidos, os atuais rendimentos (yields) dos títulos de dívida pública pairam em território negativo ou, no mínimo, num nível insuficiente para preservar o capital. Consequentemente, a atenção está a passar cada vez mais para os dividendos como forma de gerar rendimento de capital; e esses dividendos estão a tornar-se ainda mais relevantes à medida que a questão da “reflação” emerge com um aumento gradual das taxas de inflação.
Figura 1: As yields negativas são um fenómeno global
As estratégias de dividendos parecem certamente interessantes. Pelos padrões históricos, a divergência entre yields de dividendos e yields de títulos de dívida pública e corporativos nunca foi tão grande quanto é hoje, pelo menos no que toca às empresas europeias.
Para os investidores, há duas questões-chave que devem ser tidas em consideração antes de quaisquer asserções sobre o sucesso futuro das estratégias de dividendos: (1) que vantagens as estratégias de dividendos oferecem ao investidor de longo-prazo? e (2) tomando como ponto de partida o atual ambiente de mercado, o que se podemos esperar em termos do desempenho futuro das dividend yields?
Como regra, as estratégias de dividendos são caracterizadas por empresas onde: (1) se espera a geração de um rendimento de dividendos acima da média no respetivo índice de mercado, (2) existe o potencial de crescimento de dividendos futuros ao mesmo tempo que (3) fornece uma política e um histórico de dividendos fiáveis.
Dividendos: um indicador-chave de desempenho num ambiente de baixos juros e yields
As empresas europeias, em particular, apresentam uma política de dividendos amiga dos investidores face aos seus pares internacionais. No final de Dezembro de 2018, a yield média de dividendos era de cerca de 3,8% para todos os segmentos de mercado (base: MSCI Europe). O enfoque em ações com dividendos elevados ajuda a aumentar o potencial de yields mais altas no conjunto dos investimentos individuais. No entanto, em alguns casos, o rendimento de dividendos em outras regiões é consideravelmente maior do que nos títulos de dívida pública a 10 anos. (ver figura 3). Comparativamente, a yield de dividendos da MSCI-USA parece ser positivamente modesta, ainda que devamos ter em atenção que as empresas americanas, em contraste com as europeias, por exemplo, têm uma maior tendência para lançar esquemas de recompra de ações do que para pagar dividendos. Contudo, os esquemas de recompra de ações mais não são que lucros corporativos pagos a um círculo menor e residual de acionistas.
Figura 3: Yields de dividendos são atrativos em todo o mundo
Dividendos: à procura da estabilidade das carteiras
Ao mesmo tempo, o que se percebe é que os dividendos podem ajudar a alcançar estabilidade adicional na carteira. No passado, os investidores em equities europeias foram os principais beneficiários dos elevados pagamentos de dividendos, que também ajudaram a estabilizar o desempenho geral em anos de queda nos preços das ações. Os dividendos conseguiram compensar parcial ou totalmente as perdas em preço. Durante todo o período entre 1973 e 2018, a contribuição do desempenho dos dividendos para o rendimento total anualizado da carteira no MSCI Europe foi de aproximadamente 41%. Porém, em outras regiões, como a América do Norte (MSCI North America) ou a Ásia/ Pacífico (MSCI Pacific), cerca de um terço do desempenho global foi determinado por dividendos, ainda que o rendimento absoluto de dividendos tenha sido menor aqui.
Figura 5: Políticas de dividendos amigas dos acionistas, especialmente na Europa
Contudo, os dividendos não podem, por si só, garantir mais estabilidade com investimentos de capital. As equities de elevados dividendos parecem ter um desempenho menos volátil do que as empresas com pagamentos de dividendos mais baixos. Isso é demonstrado pela análise do histórico de desempenho das ações nos EUA, para as quais estão disponíveis as séries temporais mais longas.
As razões para o valor e a estabilidade dos preços de equities com dividendos incluem, entre outras:
- A política de dividendos é frequentemente uma componente ativa da estratégia de uma empresa. O dividendo envia um sinal extraordinariamente forte. A reação no mercado a reduções ou à ausência de pagamento de dividendos é muito negativa, uma vez que semeiam dúvidas quanto à viabilidade futura a empresa. Consequentemente, as empresas fazem os possíveis para garantir pagamentos contínuos de dividendos.
- Os maiores pagamentos de dividendos, bem como o desejo de mantê-los de forma fiável e contínua, devido ao sinal que transmitem, tendem a disciplinar as empresas. São forçadas a administrar os seus recursos financeiros com prudência e a usá-los com eficiência.
- As empresas com altos rendimentos de dividendos geralmente têm índices de balanço sólidos, com um nível relativamente alto de capital próprio e fluxos de caixa estáveis.
Dividendos: o potencial para uma fonte de rendimento estável
Como mostram os nossos cálculos, os dividendos tendem a desenvolver-se de forma muito mais fiável do que os lucros das empresas e, portanto, têm um efeito estabilizador no rendimento das ações. A força-motriz por trás desse desenvolvimento parece ser os CFOs da empresa, que tendem a seguir uma política de dividendos marcadamente conservadora. Um estudo de 2005* mostra que os diretores financeiros (CFOs) se esforçam por atingir um índice de pagamento de longo-prazo, evitando cortes nos dividendos, conforme declararam 94% dos inquiridos. 65% dos auscultados concordou que também contrairia empréstimos para manter os pagamentos de dividendos estáveis. Isso é compreensível, já que 90% dos CFOs antecipa as consequências negativas no preço das ações das suas empresas no caso de um corte de dividendos. As decisões sobre investimentos e dividendos são tidas como de igual importância em dois terços dos casos.
Active is: partilhando perspetivas
- No longo prazo, os dividendos podem adicionar valor à carteira.
- A seleção de ações não se deve basear nas distribuições de lucros mais recentes, pois estas podem ter surgido não de capital acionista, mas antes de dividendos futuros esperados.
- Numa perspetiva histórica, os dividendos contribuem significativamente para o rendimento total de ações e evidenciam um desempenho mais estável do que os lucros corporativos. Isto tem tido um efeito estabilizador na carteira.
- As ações de empresas pagadoras de dividendos mostraram-se menos suscetíveis à volatilidade no passado do que as empresas que não pagam dividendos.
- Uma comparação entre rendimentos globais de títulos e dividendos mostra que os dividendos podem ser uma fonte atrativa de rendimento de capital, especialmente em tempos de rendimentos de títulos extremamente baixos e até negativos.
- A receita de capital proveniente de dividendos pode até criar um “rendimento básico” adicional.
*cf. Brav, Alon; Graham, John R.; Harvey, Campbell R.; Michaely, Roni; “Payout Policy in the 21st century”; Journal of Financial Economics; Vol. 77; 2005; pp. 483 – 527.