Alguns conselhos aos jovens investidores

Carlos Bastardo ISEG Imofundos_noticia
Carlos Bastardo. Créditos: Vítor Duarte

Artigo de opinião da autoria de Carlos Bastardo.

Há 100 meses atrás, a Carolina Vieira que estava na altura na equipa da FundsPeople, convidou-me a escrever um artigo mensal de opinião sobre temas de mercados financeiros e economia em geral.

O tempo passa depressa e o artigo de hoje é já o número 100. Apesar de estar há mais de 6 anos na Imofundos SGOIC, na gestão de organismos de investimento imobiliário, a minha experiência de mais de 25 anos em mercados financeiros (gestão de organismos de investimento mobiliário, gestão de carteiras, gestão de seguros unit-link, gestão de fundos de pensões e private banking) levou-me a escolher para tema deste artigo, alguns conselhos para quem inicia o seu percurso pelos investimentos nos mercados financeiros.

No artigo número 99, abordei o tema do know your customer e do perfil de risco e, portanto, este artigo acaba por estar ligado a esses temas.

Numa altura em que as bolsas estão em máximos históricos, em que as taxas de juro estão em níveis historicamente baixos, em que as economias começam a recuperar da queda de 2020 e em que se começa a falar de inflação, tema não falado nos últimos 10 anos (pelo menos), é bom referir alguns aspetos relacionados com o investimento em ativos financeiros de risco.

Atendendo à diversificação de investimentos, assunto que é sempre abordado nas disciplinas de finanças empresariais das escolas económicas, o primeiro tema que chamo a atenção é a definição do perfil de risco do investidor, uma vez que isso determina o nível de alocação de ativos em segmentos de risco: rendimento, conservador, moderado ou dinâmico.

Por outro lado, a perspetiva do investimento nos dias de hoje deve ser global e baseada num mix de diferentes classes de ativos.

Para investidores que agora começam ou que tenham pouca experiência, aconselho que o investimento seja efetuado via fundos de investimento. Se a perspetiva de investimento é global, podemos em cada momento estar investidos num fundo global ou eventualmente, fazer uma alocação de ativos que privilegie uma parte do investimento nos diferentes blocos (EUA, Europa, Ásia sem Japão, Japão e mercados emergentes).

Há cerca de 20 anos atrás, quando ingressei no Barclays Bank PLC, pensamos nesta questão do investimento global e do mix de diferentes classes de ativos. Lançamos na altura um seguro de fundos, constituído por vários compartimentos (ações EUA, Europa, Ásia, mercados emergentes, obrigações de dívida pública, obrigações de empresas investment grade, obrigações de empresas high yield, obrigações de mercados emergentes, imobiliário, commodities…), em que para cada compartimento era selecionado um fundo internacional.

Ou seja, escolhemos o que consideramos o melhor fundo dos últimos anos de entre várias casas gestoras internacionais.

Já viram as dificuldades que vão ter caso desejem investir numa ação asiática? Primeiro, têm que trabalhar num diferente fuso horário, uma vez que os mercados asiáticos estão abertos quando nós na Europa estamos a dormir e, segundo, é diferente o conhecimento para nós europeus dos contornos do mercado asiático e das empresas a que as ações respeitam. Portanto, porque não escolher um gestor que já trabalha esse mercado há 10, 20 ou mais anos com boas performances?

É lógico que o bichinho dos mercados faz-nos gostar do trading em ações. No entanto, temos de ter em atenção que, caso o valor investido seja reduzido, os custos de transação podem tornar-se relativamente elevados. Através do investimento via fundos, a escala é diferente e existem poupanças ao nível dos custos de transação suportados.

Mas, se a opção for investir em ações apenas via títulos, é necessário equilibrar as duas correntes de análise (fundamental e técnica). A estratégia poderá ser tipo top-down ou bottom-up. Acima de tudo, importa analisar as perspetivas de retorno / risco de cada uma das ações, as expetativas de negócios (vendas), de cash-flow (EBITDA) e de resultados (EBIT e resultado líquido) da(s) empresa(s) a que respeita(m) numa abordagem comparativa (entre regiões, setores e empresas).

Tem de haver diversificação, mas esta tem limites, uma vez que quanto maior for o número de ações, mais análises terão de ser efetuadas, o que implica mais tempo e custo. Mais uma vantagem em se investir via fundos, pelo menos nos mercados financeiros em que temos menor know-how ou meios para efetuar as necessárias análises.

Outros conselhos mais específicos poderiam ser dados, tal como refiro no meu livro Gestão de Ativos Financeiros, mas penso que estes já abordam alguns temas genéricos importantes a ter em atenção.