Didier Saint-Georges, membro do Comité de Investimento Estratégico da Carmignac, fala-nos por exemplo sobre a dependência da Fed dos dados. Comentário patrocinado pela Carmignac.
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TRIBUNA de Didier Saint-Georges, membro do Comité de Investimento Estratégico da Carmignac. Comentário patrocinado pela Carmignac.
Acredito que atualmente estamos num momento de mercado de maior clareza relativamente à inflação.
Desde o início do ano que a Europa e os EUA têm vindo a avançar no segundo quadrante da imagem abaixo. Ambas com um aumento do crescimento da atividade económica, como todos sabemos impulsionado pela reabertura das economias.
Nesse sentido, os preços das commodities e as expetativas de inflação ganharam força.Isto desencadeou reações dos bancos centrais e dos mercados de obrigações. Mas os bancos centrais argumentam que a subida da inflação será transitória e ficará de forma segura atrás da curva… e os mercados não podiam estar mais de acordo.
Assistimos aos mercados de fixed income a estabilizarem rapidamente, e o segundo quadrante estendeu-se ainda mais. Desta forma, o consenso estabilizou-se à volta deste cenário goldilock, com os mercados de ações a atingirem máximos.
Dois importantes wake up calls
Nas últimas duas semanas, no entanto, os mercados receberam dois wake up calls importantes nos EUA.
O primeiro é que a Fed continua, ultimamente, muito dependente dos dados. E os dados continuam fortes, em termos gerais. A Fed deu então início ao seu discurso sobre o início do tapering e sobre as suas compras de ativos. Em vez de começar no próximo ano, como até então se pensava, deverá começar antes do fim do ano. A este nível os números do desemprego serão essenciais. Considerando, por um lado, os trabalhadores norte-americanos que estão a receber cada vez menos subsídios, a Fed pode presenciar uma subida no desemprego; mas se, por outro lado, esses mesmos trabalhadores preferirem ficar em casa e as empresas se virem obrigadas a aumentar salários para estimular o seu regresso, a Fed irá assistir a um crescimento dos salários. Em ambos os casos, diria que a probabilidade de a Fed antecipar a sua normalização monetária está em risco.
O segundo lembrete a que se assiste nas últimas semanas tem que ver com a maior confusão referente aos estímulos fiscais no país. Biden precisa de todo o apoio do seu lado, incluindo dos democratas mais moderados, para conseguir aprovar o que tem em mente. Nas últimas semanas vimos que Biden espera agora conseguir um acordo com os republicanos em vez de usar a sua maioria, pois esta não é sólida o suficiente. Deste modo, o grande plano de investimento em infraestruturas do próximo ano pode estar comprometido.
Estes dois sinais deixam antecipar dois cenários que podem acontecer ao mesmo tempo e mais cedo do que se pensava: menos apoios fiscais e uma antecipação a retirada de estímulos monetários. Assim, é mais evidente agora do que há seis semanas, que o ciclo dos EUA irá normalizar mais cedo, e mover-se para o terceiro quadrante da imagem acima, com as expetativas de crescimento a retroceder. Este cenário económico é consistente com o facto de a China estar já numa fase de abrandamento económico. Vemos o governo chinês mais interessado na estabilização financeira, do que em injetar dinheiro no crescimento da economia, ao contrário do que os EUA têm feito há anos. No entanto, o abrandamento da economia da China não deve representar um risco acrescido.
Inflação: fenómeno de final de ciclo
Voltando ao tema da inflação… A maior definição sobre o tema, referida no início, permite-nos também fazer um recordatório importante: a inflação é um fenómeno de final de ciclo, que não irá desaparecer de imediato. Claro que fatores como o aumento dos preços das commodities, ou os efeitos de base, fazem com que a inflação global avance no curto prazo. Mas a inflação base (core CPI – Consumer Price Index) é provável que continue sob pressão mais à frente, como resultado dos preços das casas e dos serviços. Mas estes são fatores típicos dos ciclos económicos.
A Europa, por sua vez, está ainda numa fase de aceleração do ciclo, e deverá usufruir dos tailwinds durante mais tempo. Do lado do crescimento, muitas das poupanças deverão agora começar a ser gastas, dada a confiança do consumidor. Algumas das incertezas a monitorizar na Europa são, por um lado, as novas variantes de COVID-19 e, por outro, os resultados das eleições no próximo ano na Alemanha.
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