No seu habitual artigo de opinião, Carlos Bastardo descreve o comportamento das yields nos últimos meses no contexto do atual cenário macroeconómico.
COLABORAÇÃO de Carlos Bastardo.
As expetativas de uma descida rápida e significativa das taxas de juro têm diminuído à medida que o ano avançou nestes primeiros quatro meses.
A rentabilidade até à maturidade (YTM) das obrigações de dívida pública a dez anos nos EUA estavam em 22/4 nos 4,62%, mais 1,05% que há um ano e mais 0,42% que há um mês. Por sua vez, a YTM das obrigações de dívida pública alemãs de idêntica maturidade estavam nos 2,49%, sensivelmente o mesmo valor que há um ano e 0,16% acima do valor de há um mês. A YTM das obrigações de dívida pública a dez anos está nos 3,10%, menos 0,18% que há um ano e mais 0,14% que há um mês. O spread face à Alemanha está atualmente cerca dos 60 pontos base ou 0,6%.
Evolução dos preços e fatores de impacto no crescimento
A resiliência das economias (em especial da americana) e uma maior dificuldade na descida da inflação têm levado os responsáveis dos bancos centrais, principalmente da Reserva Federal Americana, a terem um discurso cauteloso quanto ao timing e rapidez da descida das taxas de juro.
O preço do petróleo também tem estado a subir neste primeiro terço do ano: o WTI está em 22/4 cerca de 15% acima do valor no final de 2023 e o Brent está 14,7% mais alto no mesmo período. As yields das obrigações elevadas, o preço do petróleo em níveis altos, a expansão dos indicadores de mercado nos últimos meses, especialmente do Price Earnings (cotação/lucro por ação), a subida dos spreads de risco de crédito, a baixa volatilidade (CBOE Volatility Index nos 16 pontos, 14 no final de 2023) e a inflação que teima em não descer são fatores que a persistirem poderão ter um impacto negativo na evolução dos mercados de ações nos próximos meses.
Comportamento do mercado e expetativas dos investidores
Para já, os mercados evoluem positivamente: o índice S&P fechou no dia 22/4 com um ganho de 5% em 2024 e o índice Stoxx 600 com um ganho de 5,4%, performance suportada pelas empresas tecnológicas.
Os fatores de risco geopolítico persistem (Ucrânia/Rússia e Médio Oriente), o que também não é positivo. Será que este ano vamos ter o sell in May and go away? Para já, os investidores permanecem otimistas, mas todos nós sabemos que tudo pode mudar rapidamente. Os resultados das empresas que estão a ser anunciados e relativos ao primeiro trimestre de 2024 e os resultados dos próximos trimestres irão determinar a postura dos analistas financeiros e dos investidores em geral.
No último trimestre do ano, teremos em novembro as eleições nos EUA, cujo desfecho será determinante, especialmente na vertente da diplomacia internacional e na posição dos EUA relativamente a temas como o financiamento da NATO, o apoio à Ucrânia, entre outros aspetos. E já sabemos qual é a posição de Donald Trump nestes assuntos!