Banco Best: “O ritmo de crescimento da economia da Zona Euro deverá abrandar este ano para os 1,2%”

Rui Castro Pacheco
-

(Perspetivas para a segunda metade de 2019, traçadas por Rui Castro Pacheco, Diretor Adjunto de Investimentos do Banco Best.)

O que esperam de cada uma das principais economias no ano de 2019?

A maioria dos indicadores económicos aponta para uma desaceleração da atividade económica a nível global, com o crescimento a evoluir para níveis em torno ou já abaixo da tendência. Esta evolução poderá ser explicada pelas restrições de uma fase já longa do ciclo económico (recursos produtivos mais escassos e mais caros), pela atenuação de alguns estímulos de política fiscal e pelos próprios impactos negativos das trade wars nos fluxos de comércio, na atividade industrial e consequentemente no investimento. No entanto, ainda nada de preocupante já que os principais fundamentos económicos (condições monetárias e financeiras ainda expansionistas, spreads de crédito contidos, criação de emprego e subida de salários) continuam a não sustentar um cenário de recessão iminente. Perante este cenário, e afim de precaver qualquer surpresa decorrente de um aumento da incerteza e dos próprios riscos externos, os bancos centrais viram-se obrigados a adotar um discurso marcadamente dovish num curto espaço de tempo. Foi o que se verificou com o Fed que se prepara para um novo ciclo de cortes “preventivos” dos juros já em 2019. É, precisamente, a clarificação da política monetária norte-americana, os desfechos das guerras comerciais desencadeadas pela administração Trump e a gestão dos riscos geopolíticos, nomeadamente com o Irão, o que irá determinar o comportamento da maior economia do mundo nos próximos meses.

Em relação à Zona Euro é também de esperar idêntica lógica de “atuação preventiva” por parte do BCE com a sinalização de novas medidas de estímulo monetário (descida dos juros ou novas compras de ativos). De acordo com as últimas previsões da OCDE, o ritmo de crescimento da economia da Zona Euro deverá abrandar este ano para os 1,2% (1,8%, em 2018) e manter-se relativamente modesto no próximo ano, nos 1,4%. A taxa de inflação média é esperada manter-se muito baixa, nos 1,2% e 1,5%, em 2019 e 2020, respetivamente, suportando a crescente perspetiva de manutenção de taxas de juro baixas por mais um longo período. A grande abertura ao comércio internacional, a maior exposição à procura chinesa e o elevado peso do setor automóvel (sobretudo na Alemanha) explicam a crescente vulnerabilidade da Zona Euro. Na lógica de “atuação preventiva” o mercado já antecipa um corte de 10 bps na taxa de facilidade de depósitos do BCE em Q4 2019-Q1 2020 e Euribors a 3M e 6M negativas até ao final do 1º semestre de 2023.

Na China, as autoridades permanecem empenhadas no rebalanceamento da economia, reduzindo a dependência do investimento e das exportações, e fomentando a procura doméstica através da redução dos impostos. Penalizado pela guerra comercial com os EUA, o mercado chinês transaciona agora com um forward P/E de 11,6x, um valor historicamente muito baixo.

Quais as classes de ativos melhor posicionadas para uma boa performance no segundo semestre?

O atual ciclo de expansão económica nos EUA dura há mais de 120 meses, contra uma média de 59 meses nos últimos 13 ciclos de expansão desde 1933. Embora não seja de excluir a possibilidade do ciclo se prolongar por mais tempo, considerando os atuais baixos níveis de inflação e taxas de juro, fatores como a incerteza política (Brexit, guerra comercial EUA-China, Irão, entre outros), o recuo da yield do Treasury a 10 anos (refletindo maior aversão ao risco, deterioração do outlook e possíveis cortes de juros pelo Fed), a diminuição abrupta dos spreads de crédito e as avaliações das ações, em particular das norte-americanas, recomendam alguma prudência e a redução do nível de risco das carteiras.

Que riscos monitorizam por esta altura com maior preocupação e porquê?                  

A generalidade dos riscos abordados nas duas questões anteriores.
 
Qual o fundo de investimento que recomendam para o segundo semestre de 2019 e porquê?

A nossa recomendação passaria sempre por um maior balanceamento de carteiras mediante a incorporação de ativos com baixa correlação ou mesmo negativa com ações (exemplo Obrigações Governamentais) para tornar a carteira mais defensiva face à incerteza que se vive nos mercados. Setores defensivos com bons dividend yields poderão destacar-se nos próximos meses.

Adicionalmente e dada alguma incerteza no que irá acontecer na economia e nos mercados nos próximos tempos, pensamos que pode ser uma boa ideia a diversificação de investimentos. Foi precisamente com este espírito que construímos duas carteiras Multi-Manager, disponíveis online, que podem servir de inspiração aos nossos clientes. Nestas carteiras, uma vocacionada para a acumulação de retorno e outra para a distribuição de rendimentos, juntámos 7 fundos de investimento multi-ativos ou mistos, em que cada fundo é diversificado por várias classes de ativos. Ao conjugar vários gestores (daí a proveniência do nome Multi-Manager) estamos a diversificar também na forma de olhar os mercados e na forma de diversificar riscos, de forma a termos carteiras um pouco mais robustas nas várias fases de mercado.

Quais os temas onde procuram alternativas de investimento?

Continuamos sempre a recomendar uma base, “investimento core”, bastante diversificada que deve ser estratégica e de longo prazo. Esta componente pode ser formada por fundos mistos, carteiras genéricas de fundos ou até serviços de gestão de carteiras.

Adicionalmente e para investidores com maior tolerância ao risco, podemos então considerar uma componente de “investimento satélite” onde se podem juntar algumas temáticas que tenham a ver com temas estruturais ou mais conjunturais como a tecnologia, a sustentabilidade e as novas energias.