(Perspetivas para a segunda metade de 2019, traçadas pela equipa de Research do Bankinter)
O que esperam de cada uma das principais economias no ano de 2019?
Começando pela economia em relação à qual estamos mais otimistas – os Estados Unidos, importa referir que o crescimento em 2019 tem sido positivo (PIB com +3,1% no 1º trimestre, +2,5% caso se ajuste o efeito de acumulação de inventários) e que esperamos que continue assim. Apesar da desaceleração em termos globais da economia, continuamos a ver potencial no mercado dos Estados Unidos e estimamos crescimentos anuais de 2,3% e 1,9% do PIB para 2019 e 2020. Os indicadores económicos têm sido mais sólidos do que nos restantes mercados desenvolvidos, como o evidenciam o crescimento das exportações no 1º trimestre de 2019 (+4,8%) e os recentes indicadores no mercado de trabalho (224 mil postos de trabalho criados em junho vs. estimativa de 160 mil), pelo que a nossa expectativa é que essa tendência persista.
É verdade que ao longo dos últimos meses a economia americana contou com a presença de vários riscos, alguns ainda ativos, mas é nosso crer que estes riscos se reduzirão no curto e médio-prazo. Um exemplo disso foi o recente “acordo” entre os EUA e a China, que embora não definitivo possibilitou que as duas partes voltassem a negociar, na última cimeira do G-20. O nosso outlook é, portanto, positivo para os Estados Unidos.
No caso da Zona Euro, estamos um pouco menos otimistas, pelos seus indicadores macro menos positivos e devido à maior desaceleração económica sentida. O crescimento do PIB desacelerou (1T2019 1,2% vs. 2,5% 1T2018) e o sentimento económico vem-se deteriorando, essencialmente por efeito daqueles que se identificam como os maiores riscos à economia europeia: a guerra comercial entre os Estados Unidos e a China e a gestão do processo do Brexit entre a União Europeia e o Reino Unido. Apesar do suporte à economia dado pela tendência dovish demonstrada pelo BCE, mantemos uma recomendação “neutra” em relação à economia europeia.
Passando à China, não estamos a recomendar neste momento a exposição a este mercado. A economia chinesa tem mostrado sinais de abrandamento e as nossas previsões de crescimento são na ordem dos 6,2% em 2019 e 6,0% em 2020. Estes dados estão, aliás, em linha com o mais recente indicador macroeconómico publicado na madrugada do passado dia 15 de julho, que coloca o crescimento da economia chinesa no 2º trimestre em 6,2%, o nível mais baixo desde 1992. Ao nível de riscos, os principais continuam a ser a guerra comercial entre a China e os EUA e o protecionismo, este último com efeitos sobre os níveis de confiança dos consumidores e as entradas de capital provenientes de investidores estrangeiros.
Em relação ao Japão, temos neste momento uma recomendação de “vender”, justificada essencialmente pelo crescimento limitado que estimamos para o mercado de 0,8% para 2019 e 2020. Os bons indicadores de crescimento ao nível do PIB registados no 4º trimestre de 2018 e 1º trimestre de 2019, de 1,8% e 2,2% respetivamente, acabaram por beneficiar dos investimentos (+0,3% na variação trimestral) relativos aos Jogos Olímpicos de Tóquio e à automatização de processos industriais. No entanto, o consumo privado e as importações registaram quedas que a nosso ver demonstram a fragilidade da procura interna no mercado japonês.
Quais as classes de ativos melhor posicionadas para uma boa performance no segundo semestre?
Em termos de classes de ativos mantemos um outlook positivo em relação ao mercado acionista, sempre respeitando os níveis ótimos de alocação e diversificação que aconselhamos consoante o nível de risco pretendido por cada investidor, e tendo em conta a alocação geográfica que recomendamos.
Neste momento acreditamos que existem vários fatores que suportam as avaliações dos mercados, nomeadamente (i) as políticas monetárias acomodatícias assumidas pelos bancos centrais, (ii) a estabilização das estimativas de crescimento depois de algumas revisões importantes (acima de tudo na Europa), (iii) a menor pressão sobre os países emergentes decorrente das expetativas de cortes de juros no mercado dos Estados Unidos e (iv) as expetativas (ainda) em alta relativamente aos resultados esperados para 2020.
Que riscos monitorizam por esta altura com maior preocupação e porquê?
Neste momento, vemos como principais riscos para os mercados a nível global as tensões comerciais vividas entre EUA e China e o processo do Brexit.
No caso da guerra comercial presenciámos um avanço na última cimeira do G-20, materializado sob a forma de um regressar às negociações entre China e EUA e do levantamento do embargo Norte Americano à Huawei. No entanto, e apesar de acreditarmos que os riscos, num nível geral e este em específico, terão uma tendência de decréscimo, não acreditamos que as questões comerciais entre EUA e China se irão resolver completamente no curto prazo, ou seja, nos meses próximos. Acreditamos, pelo contrário, que se irão prolongar durante este período, com avanços e recuos parciais, como aliás tem acontecido nas últimas semanas, com Trump a afirmar que a China estaria a faltar a um acordo que os dois países teriam, com vista à importação pela China de produtos agrícolas Norte Americanos.
Quanto ao tema do Brexit, tem vindo a ser percetível que os mercados têm dado progressivamente menos importância direta a esta questão. Mesmo assim os efeitos da incerteza na economia real do Reino Unido têm-se sentido ao nível do crescimento da economia. A nossa previsão quanto ao tema é que o Brexit terá pouca probabilidade de afetar o comércio de mercadorias físicas, afetando acima de tudo a livre circulação de pessoas e capitais. Caso este cenário se comprove a nossa expetativa é que o efeito do Brexit sobre os mercados financeiros seja relativamente limitado.
Qual o fundo de investimento que recomendam para o segundo semestre de 2019 e porquê?
Não temos um fundo único que recomendemos para este segundo semestre. A recomendação está sempre dependente do perfil de risco e das necessidades de cada investidor. Por essa razão, em vez de elencar um fundo de forma geral, temos por regra uma seleção de três carteiras, cada uma delas constituída por diversos fundos. Estas carteiras diferem em termos da exposição percentual que possibilitam ao investidor, nos mercados de ações e obrigações, adaptando-se assim a cada nível de risco. Acabam também por ser mais benéficos no que toca a gerar ganhos de diversificação. (Para saber mais clique aqui.)
Ainda assim, destacaríamos os seguintes fundos:
- Obrigações: Nordea Low Duration European Covered Bond – Fundo de covered bonds lançado em 2018 que segue a mesma estratégia do Nordea European Covered Bond, mas com uma duration mais reduzida. Num contexto de taxas de juro negativas, acreditamos que é uma alternativa interessante aos tradicionais fundos monetários. Rendibilidade de +0,96% nos últimos 12 meses e +2,0% desde o início do ano, com uma volatilidade muito controlada (0,8% a 1 ano).
- Ações: Franklin US Opportunities – Fundo de ações, com um beta elevado, que investe no nosso mercado favorito: Estados Unidos. Combina duas estratégias de investimento - uma mais growth e outra mais value – embora na verdade o perfil da carteira seja mais growth. É um fundo que já vimos a recomendar aos nossos clientes há bastante tempo e que continua a gerar uma overperformance significativa. Desde o início do ano regista uma valorização de +30%.
- Misto: DWS Kaldemorgen - Fundo misto flexível com rentabilidades históricas muito consistentes. Como exemplo, desde o seu lançamento (2012) apenas fechou 2018 em terreno negativo (-3,0%). Não tem restrições de investimento, nem em termos de posicionamento geográfico nem setorial, contudo segue uma política de controlo de risco muito exigente.
- Alternativo: Franklin K2 Alternative Strategies – Fundo que proporciona a possibilidade de investir em estratégias de hedge funds através de um veículo com liquidez diária e passaporte UCITS. As estratégias seguidas pelo fundo, por ordem de ponderação target, são: Relative Value, Long-Short Equity, Event Driven e Global Macro. Tem a vantagem de ter uma baixa correlação com os mercados globais e ser bastante diversificado por estratégias e gestores.
Quais os temas onde procuram alternativas de investimento?
Acreditamos que o Investimento Socialmente Responsável (ESG, em inglês) é uma alternativa de investimento interessante de vários pontos de vista. Em primeiro lugar, porque não se trata de uma moda pontual, mas sim de uma transformação estrutural que irá perdurar no tempo. Variáveis como as alterações climáticas, a poluição ou as condições de trabalho são aspetos que influenciam cada vez mais as decisões que tomamos. Por outro lado, vários estudos demonstram que as empresas que têm em conta fatores de investimento socialmente responsável têm uma melhor evolução a longo prazo que aquelas que não assumem estes fatores em consideração. Dito isto, parece-nos sem dúvida o momento adequado para investir numa indústria crescente e cada vez mais sustentável e rentável.