Bernardo Godinho (ATLANTICO Europa): “Acreditamos que a relação risco retorno das matérias-primas é muito interessante para os próximos semestres”

Bernardo Godinho
Bernardo Godinho. Créditos: Vítor Duarte

TRIBUNA de Bernardo Godinho, head of capital markets do Banco Privado ATLANTICO Europa.

Em termos homólogos, acreditamos na continuação da recuperação de cada uma das principais economias e blocos económicos (EUA, Europa, Emergentes, China e Japão), dado que os dados comparáveis do ano passado refletem as enormes quebras de atividade provocadas pela pandemia. O ponto importante a reter é que a recuperação está a ser mais rápida do que o esperado, nas economias desenvolvidas devido aos estímulos e nas emergentes devido à maior vitalidade destas economias, sendo que o facto de a pandemia ter tido um impacto económico pouco expressivo na China beneficia muito os índices emergentes.

Do nosso ponto de vista, as classes de ativos melhor posicionadas para enfrentar o semestre são as matérias-primas (especialmente os metais precisos e o sector energético), visto que oferecem uma boa relação risco/retorno, dado que o ciclo de fraco investimento dos últimos anos combinado com a retoma da procura pode pressionar os preços. No mercado acionista, a recuperação nos resultados é espantosa, mas os múltiplos recorde a que muitos mercados transacionam são preocupantes e deverão condicionar os retornos no próximo ciclo (pós-estímulos). Quanto às obrigações, as reduzidas taxas de juro aliadas a durations historicamente elevadas deverão condicionar fortemente os retornos futuros, especialmente se as pressões inflacionistas perdurarem. Relativamente ao imobiliário, o outlook continua positivo, apesar de o sector estar a sofrer uma grande transformação devido à pandemia. Há segmentos mais desafiantes (ex: comercial), mas o sector parece bem posicionado para capitalizar da retoma económica pós-pandemia.

As maiores preocupações atualmente prendem-se genericamente com a capacidade de gerar retornos na ausência de estímulos e o impacto do endividamento no crescimento económico potencial. Numa segunda linha as valorizações nos mercados acionistas e obrigacionistas (ambas com yields próximas de zero ou negativas) parecem oferecer uma fraca relação risco/retorno.

Pelas razões acima elencadas, somos da opinião que os investidores devem considerar alternativas às classes tradicionais. Apesar de não terem estado no radar da maioria dos investidores, acreditamos que a relação risco retorno das matérias-primas (especialmente metais preciosos e energia) é muito interessante para os próximos semestres. Um exemplo de um fundo de investimento seria o DWS Invest Gold and Precious Metals Equities.    

Por fim, sentimos mais necessidade de informação no sector das empresas mineiras, dado que têm uma capitalização bolsista reduzida e é pouco coberto pelo mercado. Seria relevante ter mais informação sobre este sector, que consideramos muito interessante.