Na segunda metade de 2019, Duarte Calheiros Menezes, Diretor da Bluecrow Capital, prevê que a Fed volte a descer as taxas de juro até ao fim do ano e que o BCE aposte num posicionamento verdadeiramente mais dovish.
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(Perspetivas para a segunda metade de 2019, traçadas por Duarte Calheiros Menezes, Diretor da Bluecrow Capital)
O que esperam de cada uma das principais economias no ano de 2019?
EUA
Nos EUA é expectável a continuidade da desaceleração registada durante os primeiros seis meses do ano, alicerçada numa intensificação do abrandamento económico global num contexto de crescente instabilidade geopolítica e esvaziamento do efeito da política fiscal de Trump, levando a uma queda relevante do nível de investimento das empresas norte-americanas.
O crescente protecionismo do EUA tem prejudicado as expectativas sobre a estabilidade do comercio internacional, sendo penalizador para a indústria motivando uma consistente desaceleração da produção.
Este protecionismo contudo anunciado pela administração Trump como benéfico para a fortificação da balança comercial americana, mas que na verdade é altamente prejudicial para as famílias Americana, pelo aumento significativo dos bens intermédios na economia, funcionando efetivamente como uma aumento de impostos.
Havendo no próximo trimestre um modesto acordo entre EUA e China, acreditamos que o resultante sentimento positivo não perdurará no médio - longo prazo devido ao facto de as conflituantes posições norte-americana e chinesas terem definitivamente alterado o panorama de comércio internacional
Analisando o indicador (probabilidade de recessão), este aponta para uma probabilidade de 25% para a entrada da economia americana em recessão durante o primeiro trimestre de 2020, de qualquer forma, havendo eleições presidenciais em 2020 e constatando-se a inversão da política de aumento de taxas de juro do FED, este dois factores provavelmente irão adiar essa inevitabilidade.
É expectável outro corte de taxas de juro entre 25 e 50 pontos base até ao fim do ano por forma a compensar a desaceleração registada.
União Europeia
Após sete anos consecutivos de expansão económica, em Maio, a Comissão Europeia reviu em baixa as suas perspectivas de crescimento, sendo o quadro macroeconómico europeu ainda assombrado pelo Brexit e tensão orçamental em Itália, gerando uma obstrução ao desenvolvimento de novas políticas domésticas para a EU, como também uma continuação da desaceleração das economias europeias afectada principalmente por um a menor dinâmica do sector industrial, mantendo-se contudo estável o sector da procura interna e do turismo, factor particularmente dinamizador do imobiliário em vários países da Zona Euro, também o investimento direto estrangeiro e os programas da Comissão Europeia que visam aumentar a competitividade do sector têm suportado o crescimento das construções finalizadas.
De forma a contrariar uma maior desaceleração e potenciar uma retoma já em 2020, é previsto que o Banco Central Europeu aposte num posicionamento verdadeiramente mais dovish criando eventuais estímulos orçamentais apoiados por novas medidas monetárias não-convencionais expansionistas (TLTRO III), programa de financiamento facilitado aos bancos da Zona Euro que efetivamente concedem crédito à economia real com início provável em Setembro deste ano, desencadeando assim uma temporária recuperação do sentimento e crescimento económico na Zona Euro onde poderemos assistir a uma ligeira retoma da inflação e uma descida do Euro versus o Dólar. As subidas de taxa de juro foram relegadas para a segunda metade de 2020.
Nos riscos a ter em conta na zona Euro para o próximo trimestre e até ao final do ano concluímos que o posicionamento protecionista da administração Trump causou não só a deterioração do sentimento económico a nível global e, em particular, na China (2º maior destino de automóveis europeus) como também irá visar diretamente as exportações automóveis para os EUA, algo terá de mudar e deixando antever que dificilmente será em benefício da UE.
Japão
Além da maior volatilidade trimestre, devido a eventos naturais e o aumento do imposto sobre o consumo em 2019, é expectável que o PIB se deverá expandir a um ritmo estável potencialmente atingindo os 0,9% em 2019, confirmando a desaceleração económica global.
Esperamos uma desaceleração significativa em 2020 para 0,5% com o impacto fiscal negativo sobre as Yields, mas também uma desaceleração no investimento corporativo e nos gastos públicos, contando com uma inflação que deverá permanecer em torno de 0,5%, apesar de um mercado de trabalho recorde
O BoJ tem igualmente poucas opções de política monetária para lidar com a próxima recessão, depois de mais de cinco anos passados em que o governador do BoJ, declarou uma meta de preço de 2% e iniciou um programa de estímulos massivo.
China
Com a China a ser o principal alvo das políticas comerciais restritivas da administração Trump, a inflação nesta região asiática registou um aumento mais acentuado.
A fim de mitigar o impacto de tarifas mais altas sobre as exportações, a China provavelmente aumentará a flexibilização fiscal e monetária, embora preocupações com a estabilidade financeira possam impedir as autoridades de aumentar o crédito massivamente.
As autoridades chinesas indicaram que têm munição suficiente para mitigar o impacto da guerra comercial sobre a economia doméstica.
O nosso cenário de caso base pressupõe que ambos os lados tentarão evitar uma escalada maior, havendo esforços para encontrar um terreno comum antes do final do ano.
Esperamos que a China reduza novamente seu coeficiente de reserva e continue adicionando liquidez por meio de vários canais, especialmente voltados para pequenas e médias empresas. No entanto, esperamos apenas um corte de taxa juro
Quais as classes de ativos melhor posicionadas para uma boa performance no segundo semestre?
- Com a generalidade dos índices acionistas a transacionar a níveis claramente dispendiosos, destacamos o desconto histórico (5 anos) exibido pelos índices Russel 2000 e Shanghai Composite.
- Healthcare
- Real Estate (REIT’S)
Que riscos monitorizam por esta altura com maior preocupação e porquê?
Não acreditamos que esta situação poderá suster o rally do mercado acionista na segunda metade do ano. Risco do mercado de ações.
Qual o fundo de investimento que recomendam para o segundo semestre de 2019 e porquê?
Temos analisado várias opções, mas neste momento não temos nenhum produto estrela que consideremos digno de nota.
Quais os temas onde procuram alternativas de investimento?
Temos nos últimos 2 anos olhado com atenção e cuidado para os sectores de “dívida privada”, onde temos desenvolvido algumas estruturas de investimento que nos permitiram nos últimos 2 anos resultados interessantes. Estamos a estudar a criação de um produto de investimento aberto, em parceria com outro player do mercado nacional, neste sentido.