Bohemian Rhapsody

Jorge_Silveira_Botelho
Vito Duarte

Contrariamente ao ano passado, este não foi um ano que se possa dizer que foram os mercados que fizeram que “You Take My Breath Away”, Dito isto assim, até parece que não se passou nada, mas na realidade, não foram poucas as vezes que se ouviu cantar a “Bohemian Rhapsody”:

- “Oh, Mama Mia, Mama Mia...”

As dinâmicas económicas este ano não foram particularmente entusiasmantes, com as tensões comerciais a criarem alguma incerteza. Por outro lado, o setor automóvel encontra-se numa fase de metamorfose que “It’s a Hard Life”, para todos os que dele dependem. Não obstante, todo o histerismo sobre os riscos de uma recessão, a verdade é que economia global continua “Doing All Right”, mas num registo monótono.

Nos EUA, a componente dos serviços foi razão suficiente para que o mercado de trabalho “Keep Yourself Alive”, apesar de tanto turbilhão político, interno e externo.

Donald Trump não se cansou de dizer a cada um dos seus amigos e adversários que “You’re My Best Friend”, mas não percebeu que há o risco de “Too Much Love Will Kill You”. O seu envolvimento profissional com Rudy Giulianni foi tão intenso que até na Ucrânia se ouvia o Rudy a cantar: “I Was Born To Love You”. Quem ficou “Jealousy” e não achou graça nenhuma foi Nancy Pelosi, que decidiu colocar os dois “Under Pressure”.

Na Europa, Boris Johnson consegui triunfar, mas não escapou à fama de rei ”Liar” por não ter evitado o adiamento do Brexit como inicialmente tinha prometido. Mas infelizmente, nesta matéria foram muitos os que dançaram ao som da “Radio Ga Ga”. E certamente vão ser os mesmos, que não num futuro “Long Away”, vão sugerir piedosamente que nunca “It`s Late” para voltar.

Mas a grande história romântica da Europa foi a terna despedida do cavaleiro italiano. A grande dama, Angela Merkel, perdeu o seu “Love Of My Live”, Mario Draghi. Afinal juntos complementavam-se, enquanto ela tinha “One Vision”, ele tinha a coragem para dizer destemidamente aos especuladores que “We Will Rock You”.

Infelizmente, os “Prophet‘s Song” da desgraça ainda não se aperceberam que a Europa, depois de uma década de reparação, pode estar a fazer o seu “Breakthru”. A atual convergência das políticas, monetária e fiscal, podem agora impulsionar uma nova agenda económica e socialmente sustentável. A agenda verde não vai fazer com que toda a gente queira entrar de repente numa “Bicycle Race”, mas vai certamente fazer com que sejam cada vez menos aqueles que dizem “I’m In Love With My Car”. Quem com isto teve um “Flash” foi a Arábia Saudita, que se apressou a privatizar a sua companhia petrolífera…

Na China, podemos estar perante um maior risco geopolítico e económico, simplesmente porque quem “I Want It All” geralmente tudo perde… O rápido crescimento da dívida, o aumento da desigualdade e da instabilidade social, expõe as grandes fragilidades do regime. A maior abertura económica, torna cada vez mais difícil conciliar a ideologia do partido com vontade do povo chinês em “I Want To Break Free”. Se por alguma razão interna a China se vê forçada a abrandar, a Ocidente vamos ter sérios problemas, porque já não podemos contar com os Bancos Centrais...

De facto, no Ocidente as autoridades monetárias falharam no processo de normalização da política monetária, lançando-nos num novo paradigma. Enquanto Jerome Powell no final do ano passado cantarolava desafinadamente “Don’t Stop Me Now”, os mercados fizeram-no rapidamente ver que se não afinasse a sua política, depressa um “Hammer To Fall” na sua cabeça. Mas o maior problema de todos, é que este “Headlong” nos trouxe o consubstanciar do falhanço da normalização da política monetária a nível global, com Mário Draghi também a adiar indefinidamente este processo. Tudo isto deu aso à formação deste novo paradigma: taxas de juro estruturalmente baixas passaram a “These Are The Days Of Our Lives”...

Neste novo paradigma de taxas de juro estruturalmente baixas a perder de vista, que se estende praticamente aos “Seven Seas Of Rhye”, só nos resta continuar a “Play The Game”. O grande desafio é tentar perceber quais são os próximos ativos cuja rentabilidade implícita se transforma também em “Another One Bite The Dust”.

Now I Am Here” e não querendo “Innuendo” para não ser vítima da regulação, parece-me bastante plausível que os ativos reais, as ações e o real state, continuem suportados pelas rentabilidades implícitas que oferecem neste novo paradigma. Por outro lado, pode não ser já uma questão de saber “Who Wants To Live Forever”, mas os temas de investimento sobre longevidade humana e o ESG, vão dominar as preferências dos investidores nos próximos anos.

A Europa, apesar de ser sempre uma “Crazy Little Thing Called Love”, está bem posicionada para explorar devidamente estas temáticas e não me admirava que na próxima década, sejam finalmente os mercados acionistas europeus a cantarem “We Are The Champions”.

Todos sabemos, que passado mais um ano “The Show Must Go On”, mas não nos podemos esquecer que não são os mercados que “Spread Your Wings”, porque no fundo todos precisamos de “Somebody To Love”. No final, “Friends Will Be Friends” e essa é a única certeza que temos à medida que os anos passam. Talvez por isso, “You and I” sabemos que a vida tem a “Kind Of Magic”...

Thank God, It´s Christmas”!