Capital natural: porque é que os investidores não o podem ignorar

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Duncan Lamont. Créditos: Cedida (Schroders)

TRIBUNA de Duncan Lamont, responsável de estudos e análise da Schroders. Comentário patrocinado pela Schroders.

Os riscos financeiros e não financeiros por causa das mudanças climáticas e a perda de biodiversidade são demasiado importantes para ser ignorados. Por este motivo, os investidores já não se podem permitir a não ter em conta o capital natural, ou seja, os elementos da natureza que produzem direta ou indiretamente valor para as pessoas.Advertisement

A redução do capital, incluída na perda de biodiversidade, e a deterioração das reservas renováveis, representa um risco real para as empresas, para os seus lucros e para os investidores.

Em termos práticos, isto poderá significar que as empresas, os bancos e os investidores enfrentem maiores riscos ao nível dos seguros, maiores custos de capital e uma perda de oportunidades de investimento.

Por isso, na Schroders propomos três vias pelas quais os investidores podem incorporar o capital natural nos seus investimentos e obter benefícios, tanto em termos de rentabilidade como também pela Terra.

Por um lado, ter em conta o impacto de um investimento no capital natural ao avaliar os seus riscos e a sustentabilidade do seu ritmo de crescimento. Os investidores devem considerar que uma economia ou uma empresa que gere crescimento mediante o esgotamento ou a degradação do seu capital natural, provavelmente enfrenta ventos contra a longo prazo e põe em risco o seu crescimento. AdvertisementPor exemplo, poderá experimentar interrupções das operações e das cadeias de fornecimento, expor-se ao risco normativo, de reputação e financeiros (por exemplo, através de prémios de seguro mais elevados e/ou custos de financiamento). Para além disso, os impactos agregados destes riscos podem ser negativos para toda a economia, por exemplo podem reduzir a produtividade, modificar os preços, provocar a destruição de capital e gerar fricções no mercado laboral.

Em segundo lugar, os investidores podem estreitar as relações com aquelas empresas nas quais investem para compreender melhor como afeta a sua atividade o capital natural e como dependem dele. Nos últimos anos temos visto que isto ocorre cada vez mais com as mudanças climáticas. A natureza é a próxima fronteira. Muitas empresas (e economias) dependem do capital natural, mas, como este e os serviços dos ecossistemas que gera costumam estar subvalorizados, isto pode levar a um uso excessivo ou imprudente do capital natural. Se os investidores se comprometem com as empresas a conhecer os custos meio ambientais e sociais das suas atividades para a natureza, e os riscos financeiros que, em última instância, representam, podem impulsionar a adoção de práticas mais sustentáveis. Isto representará um benefício para as empresas, investidores e para a natureza.

Finalmente, fazer uma alocação específica a projetos que implantem, preservem, protejam e potenciem o capital natural. Esta é a via mais óbvia, embora investir em projetos de capital natural possa ser difícil por vários motivos:

  • Falta de rentabilidade. Muitos dos benefícios que os bens e serviços obtêm da natureza não têm preço. Esta é uma das principais razões pelas quais o financiamento do setor privado para a conservação do capital natural apenas representa entre 14% e 20% do financiamento global, e apenas uma parte dela provém de investidores que procuram rentabilidade.
  • Os projetos de pequena escala dificultam a alocação de grandes investimentos. Por isso, o capital natural e a capacidade de escala sobrepõem-se mais facilmente através de empresas às quais os investidores estão expostos em outras áreas das suas carteiras, do que em projetos de capital natural independentes. Aqui é onde o compromisso pode marcar a diferença.
  • A falta de dados homologados tem criado obstáculos à expansão dos projetos, à consolidação dos investimentos e à medição do impacto. Inclusive dentro de um mesmo país, há redundâncias e incoerências.
  • Face a isto, as estruturas de financiamento inovadoras e colaborativas demonstram que estas barreiras não são insuperáveis. Uma melhor medição do capital natural é o eixo que pode ajudar a superar estas três dificuldades. Será necessário um pensamento criativo e a colaboração de todas as partes interessadas se queremos encontrar soluções para estes problemas urgentes. De facto, com o objetivo de acelerar o desenvolvimento do capital natural como tema de investimento principal, a Schroders uniu-se à Aliança para o investimento em Capital Natural (NCIA, nas suas siglas em inglês). Esta aliança coloca em relevo o nosso compromisso de desempenhar um papel importante na criação de um mercado geral para o capital natural.