Nas perspetivas que traça para o segundo semestre, Emília Vieira, Founder & Chief Executive Officer da Casa de Investimentos, revela que a prazo as notícias sobre as economias e sobre os mercados financeiros são boas.
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(Perspetivas para o 2.º semestre traçadas por Emília Vieira, Founder & Chief Executive Officer da Casa de Investimentos)
O que esperam de cada uma das principais economias no ano de 2019?
Não somos investidores em tendências macroeconómicas nem estamos especialmente preocupados em prever como se vai comportar a economia A ou B. A prazo as notícias sobre as economias e sobre os mercados financeiros serão boas. Terão ciclos bons e maus e, por isso, o que procuramos é encontrar empresas excecionais, com vantagens competitivas duráveis, balanços sólidos para suportarem bem os períodos menos bons e saírem deles mais fortes e capazes de gerarem lucros acrescidos para os seus acionistas.
Devemos investir nos mercados financeiros como fazemos num imóvel, numa quinta ou num negócio que queremos criar. Olhar a 6 ou 12 meses não é investir. Investir é estarmos focados nos fundamentais das empresas que compõem o nosso portfólio e na sua capacidade de gerar lucros crescentes a prazo.
Estamos conscientes dos riscos macroeconómicos atuais e incorporamos esses riscos nas avaliações individuais dos negócios em que estamos investidos. No entanto, não definimos a nossa estratégia de investimento em função de tendências macroeconómicas, muito menos de curto prazo.
Quais as classes de ativos melhor posicionadas para uma boa performance no segundo semestre?
Para o segundo semestre não fazemos a menor ideia. A prazo sabemos que é o investimento em ações, como aliás o comprovam múltiplos estudos ao longo dos últimos 120 anos para todas as geografias, sem exceção.
É importante que os investidores o façam a longo prazo e que não tentem adivinhar quando entrar e sair do mercado. Não é possível fazê-lo com consistência, conforme vários investidores extraordinários o comprovaram. Ações são fatias de negócios que nos dão o direito aos lucros futuros. A melhor forma de investir é comprar esses lucros baratos. A maior vantagem que um investidor pode ter é um horizonte de investimento de longo prazo. A indústria financeira está focada no curto prazo para gerar comissões rápidas e pagar bónus extraordinários aos seus gestores. Infelizmente esse é o capitalismo dos gestores e não o dos donos como deveria de ser.
Atualmente os mercados imobiliários estão com as yields em mínimos, as obrigações de bom risco têm yields negativas. Em contraponto, os bons negócios ganham pelo menos o seu custo de capital. Hoje, grande parte das empresas europeias têm dividendos médios de 4% ao ano. As empresas não distribuem todos os seus lucros, retêm parte para reinvestir. Por isso, se conseguirmos comprar estes lucros a desconto e tivermos paciência, as rentabilidades a prazo serão muito satisfatórias.
Que riscos monitorizam por esta altura com maior preocupação e porquê?
Não fazemos "market timing" e não conhecemos ninguém que o faça com sucesso consistentemente. Monitorizamos permanentemente os riscos dos negócios que compõem a nossa carteira, esses sim relevantes para quem investe em negócios e está no mercado para o longo prazo.
A nossa estrela polar é o valor intrínseco dos negócios em que investimos e é com base na diferença entre quanto vale e quanto custa que compramos ou vendemos posições. Quando há notícias negativas sobre os títulos que temos em carteira ou que constam da nossa wish list, procuramos avaliar o impacto que têm no valor intrínseco dos negócios e se muda a nossa perspetiva de valor do título. No dia-a-dia, há muito “ruído” nos mercados financeiros e é importante distinguir o que é relevante e permanente do que é conjuntural ou irrelevante. Aproveitamos muitas vezes as más notícias para comprar negócios excecionais e que por norma transacionam com múltiplos elevados. Procuramos comprar a pessimistas para vender a otimistas. Com tempo, a cotação de mercado tenderá a refletir o justo valor da empresa.
Qual o fundo de investimento que recomendam para o segundo semestre de 2019 e porquê?
Não estamos em condições de recomendar qualquer fundo porque para tal teríamos que analisar alguns indicadores (tais como: percurso/performance dos gestores, mandato de gestão, carteira atual, estrutura de custos, etc.) e não fazemos esse estudo de mercado de forma abrangente. No entanto, podemos recomendar aos investidores que efetuem esse estudo prévio e não se limitem a avaliar a performance recente dos fundos em que investem. Os fundos de investimento sofrem muitas vezes de falta de transparência, de excesso de diversificação e de custos excessivos. A Casa de Investimentos não recomenda fundos.
Posso adiantar que em breve lançaremos o nosso próprio fundo, que terá uma estratégia de investimento equivalente à gestão que fazemos em carteiras individuais. Seguirá naturalmente a filosofia de investimento em valor, terá um preçário justo e concentraremos o investimento num conjunto limitado de ações.
Quais os temas onde procuram alternativas de investimento?
O processo de seleção de títulos não é definido em função de temas, mas pela procura de negócios extraordinários que se destacam dos restantes pelas suas vantagens competitivas independentemente do setor em que atuam (vantagens competitivas essas que podem surgir pela via da escala, marca, efeito de rede, estrutura de custos, patentes, etc.).
Procuramos negócios que percebemos bem, com vantagens competitivas duráveis e que sejam os mais rentáveis nos seus respetivos sectores. Queremos que estas empresas sejam geridas por gestores capazes e honestos, com provas dadas a criar riqueza para os acionistas e com os interesses alinhados com estes. Mesmo cumprindo com estes critérios, nenhum negócio vale um preço infinito. É muito importante comprar com grande margem de segurança para permitir acomodar um erro de cálculo, uma conjuntura menos favorável ou um problema setorial ou conjuntural. O principal objetivo no investimento deve ser a segurança do capital e ganhos no poder de compra a longo prazo.
Quando identificamos um setor que na nossa opinião tem potencial de crescimento relevante nas próximas décadas, como é o caso da saúde por exemplo, procuramos as empresas que se destacam no setor e comparamos com as restantes alternativas de investimento disponíveis. A nossa análise é sempre focada na seleção de um conjunto de negócios extraordinários que queremos comprar a preços sensatos.