Cautela e foco no crédito traçam o rumo das obrigações

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(TRIBUNA de Andrew Lake, diretor de Obrigações da Mirabaud Asset Management. Comentário patrocinado pela Mirabaud Asset Management.)

A COVID-19 continua a marcar a agenda social, política e económica mundial. Na Europa, as elevadas taxas de contágio registadas nas últimas semanas trouxeram o receio de um novo confinamento, desta vez mais local, mas a afetar, de qualquer das formas, um número significativo de cidadãos. Numa das economias-chave, o Reino Unido, mais de 22 milhões de pessoas – um terço da população – estão sujeitos a restrições de mobilidade. A sociedade está cada vez mais consciente das implicações da COVID, que vão para além das implicações de saúde e afetam a economia e a forma como vivemos. Contudo, essas políticas restritivas estão a começar a ter impacto no comportamento dos consumidores e, consequentemente, a adiar a tão desejada recuperação económica.

Um indicador fundamental é o do alemão ZEW, que destaca que a confiança dos investidores sobre as suas expectativas nos próximos meses caiu para 56.1 pontos, o índice mais baixo em 5 meses, depois de 77.4 pontos em setembro. Esta tendência descendente também é registada no índice para a zona euro que, de acordo com os relatórios da Bloomberg, também caiu. Do outro lado do globo, chegam-nos notícias mais animadoras. A China e a Coreia do Sul parecem estar a controlar a pandemia e estão a retomar as suas atividades com alguma normalidade. Esta experiência dá-nos a esperança de que podemos estar no pico desta segunda vaga.

Os mercados mantêm o otimismo face ao risco

Neste cenário, os mercados financeiros estão de olhos postos nas expectativas de estímulos que se converteram no seu principal motor, juntamente com a esperança da disponibilização de uma vacina nos próximos meses. A muito curto prazo, a Blue Wave, que os mercados já começaram a descontar, também vai contribuir para o seu impulso. Não obstante, as obrigações do Tesouro não aumentaram significativamente, o que seria de esperar com o nível de risco atual. Por outro lado, o ouro mantém a sua linha ascendente, se bem que esta tendência pode ser reflexo da recente pressão sobre o dólar. As nossas previsões apontam para que não sejam anunciados novos pacotes de estímulos até às eleições, o que pode pressionar o risco a curto prazo.

Na mente dos investidores também há boas notícias que equilibram a balança. No mês passado, o IPC dos Estados Unidos registou uma subida de 0,2%, a menor subida em quatro meses, o que significa que a inflação é positiva, gerando preocupação apenas no mercado obrigacionista. Além disso, se nos focarmos no primeiro conjunto de resultados dos grandes bancos, os resultados do terceiro trimestre do JPMorgan confirmam que não se está a verificar um tsunami de incumprimentos: o aumento de 611 milhões de dólares da provisão para empréstimos incobráveis do terceiro trimestre não se aproximou dos 2380 milhões de dólares previstos pelos analistas. Também os empréstimos associados a cartões de crédito não sofreram um grande impacto**.

O FMI também previu uma desaceleração económica mundial menos profunda em 2020: uma contração de 4,4% face à estimativa de 5,2% em junho. Tudo isto reflete um melhor segundo trimestre do que o esperado. Em 2021, a previsão é de um crescimento de 5,2%. As estimativas da China foram revistas em alta: 1,9% de crescimento em 2020 e 8,2% em 2021. Nos E.U.A., os dados são positivos: -4,3% em 2020 e +3,1% em 2021; na zona euro também: -8,3% em 2020 e +5,2% em 2021***. As importações da China cresceram 13% (taxa anual) face às expectativas de 0,4%, de acordo com a Bloomberg****. O comércio recuperou muito mais rapidamente do que o esperado, reforçando a indústria e as cadeias de fornecimento asiáticas.

As eleições americanas e a Blue Wave

Os Estados Unidos estão concentrados na sua particular corrida presidencial. Ainda que a margem de erro seja grande, Joe Biden destaca-se como favorito em todas as sondagens – uma vitória que os mercados começam a assumir. Prova disso é a yield curve do Tesouro, que se vai inclinando à medida que a Blue Wave ganha força, impulsionada pelo potente pacote de estímulos que chegaria no início de 2021. Não é comum haver uma Presidência e um Congresso monocromáticos, por isso, há margem para a deceção caso os republicanos se mantenham no Senado. Esse cenário implicaria a reavaliação de qualquer pacote de estímulos. Na nossa opinião, o pior cenário seria um resultado eleitoral presidencial disputado e um Congresso dividido.

A três semanas das eleições, a probabilidade de Joe Biden ser eleito parece estar a aumentar. O resultado na Florida será um indicador-chave do lado para o qual o país está a inclinar-se. Se a vitória de Biden se concretizar, assim como o controlo democrata do Congresso, é provável que a yield curve do Tesouro sofra uma inclinação e expansão. Dado que a taxa neutra é de 2,5%, ainda há muito espaço de movimentação para os próximos meses. Quando é que vamos assistir à intervenção da Reserva Federal para a controlar? Nos 2%? Nos 3%? A taxa de juro a 10 anos poderia retroceder facilmente para 1% ou menos nos meses seguintes. O dólar americano ficaria enfraquecido e estaríamos preparados para um rendimento superior, para que as obrigações de mercados emergentes e high yield superem o rendimento do próximo ano.

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Andrew Lake é o gestor do fundo Mirabaud Global Strategic Bond I cap. USD, fundo de obrigações globais flexíveis, que permite que a equipa detete as melhores oportunidades e seja possível tirar partido destas mudanças de ciclo nos mercados obrigacionistas. A variedade de tipologias de ativos nas quais o fundo investe também oferece proteção contra os movimentos dos mercados. O fundo investe em obrigações soberanas, obrigações empresariais investment grade, high yield, dívida de mercados emergentes e obrigações convertíveis.

A 30 de setembro deste ano, a estratégia contava com cerca de 600 milhões de dólares geridos e acumula uma rentabilidade de 2,54%*, a 9 de outubro. O fundo recebeu quatro estrelas da Morningstar e a classificação Citywire +.

* As rentabilidades passadas não são garantia de rentabilidades futuras. Para mais informações acerca das rentabilidades históricas e dos riscos associados a este subfundo, consulte a respetiva secção no website www.mirabaud.com/es

** Morgan Stanley earnings releases

***https://www.imf.org/en/Data

****Bloomberg