Chart of the Week - A expetativa de descida das taxas de juro

João Guilherme de Almeida ATLANTICO Europa
João Guilherme de Almeida. Créditos: Vítor Duarte

O Chart of the Week é da autoria de João Guilherme de Almeida, analista de Mercado de Capitais do ATLANTICO Europa.

Caminhamos a passo acelerado para o fim do ciclo de subida das taxas de juro, quer por parte da Fed quer por parte do BCE. Ainda que ambos os bancos centrais afastem este cenário de normalização da política monetária, o mercado sabe que eventuais descidas serão inevitáveis no futuro breve.

Fonte do gráfico: Bloomberg

Conforme o gráfico, a expetativa mais recente do mercado para a evolução da principal taxa de juro nos mercados norte-americanos, a fed funds rate, é de um corte de 1% até ao final de 2024, esperando que a taxa desça dos 4% até ao final de 2025, avaliando pelos contratos de futuros. Na Europa a expetativa segue esta tendência, com o mercado a prever uma taxa de juro implícita (overnight rate) de 3,1% no final de 2024 (atualmente está a cerca de 3,897%).  

Mas então por que razão continuamos a ouvir Christine Lagarde, presidente do BCE, entre muitos outros, a desvalorizar este cenário de descida de taxas e a prometer que “não está para breve”? Porque a transmissão da política monetária, isto é, a forma como instrumentos de política monetária tais como mexidas nas taxas de juro vertem para a economia, segue diversos canais de transmissão – e um deles está precisamente relacionado com a forma de comunicação como é anunciada a política monetária

Se os porta-voz dos bancos centrais viessem confirmar as expetativas do mercado quanto à descida das taxas de juro, os participantes do mercado tomariam esta informação como uma prova irrefutável de que de facto as taxas de juro iriam normalizar, efetivamente antecipando esta descida de taxas de juro nas suas ações. Isto é, as taxas de juro realmente praticadas iriam baixar, meramente perante o anúncio de descidas de taxas de juro.

Dado que a pressão da inflação, ainda que mais aliviada, se mantém, a única forma dos bancos centrais manterem as taxas de juro em níveis estáveis, mas restritivos o suficiente, é precisamente afastarem este cenário de descida de taxas no seu discurso.

Mas conseguirá o mercado fazer esta gestão de expetativas, de uma forma aderente à realidade? Veremos se 2024 trará a tão esperada confirmação de descidas, ou pelo contrário, o tal higher for longer.